'Quase um cemitério': a grave situação do maior hospital de Gaza
Aqui estão as respostas a algumas das perguntas mais frequentes sobre a situação atual no hospital Al-Shifa em Gaza, segundo os correspondentes da BBC News.
Nos últimos dias, os combates se intensificaram perto do maior hospital de Gaza, Al-Shifal. Há uma grave escassez de combustível, com impacto na possibilidade de realizar tratamentos.
Ethar Shalaby, do serviço árabe da BBC, conversou com o chefe do hospital e outros médicos para responder a algumas das perguntas mais frequentes sobre a situação atual do complexo.
Onde fica o Hospital Al-Shifa?
O Hospital Al-Shifa, considerado o maior complexo médico de Gaza, está localizado no bairro de Rimal, na cidade de Gaza.
O hospital, com capacidade para 700 leitos, é composto por cinco edifícios principais:
- Unidade de Obstetrícia e Ginecologia, que inclui serviços de maternidade;
- Cirurgia de especialidades, que inclui Unidade de Terapia Intensiva (UTI);
- Unidade de Cirurgia Geral e Ortopedia;
- Unidades de Medicina Interna e Diálise;
- Prédio administrativo, que abriga ambulatórios, laboratórios e banco de sangue.
O diretor geral do hospital, o Dr. Muhammad Abu Salamiya, diz que, em tempos de paz, o complexo era considerado o melhor hospital de Gaza.
Trata-se também de um hospital universitário com reputação internacional.
Salamiya o descreve como um hospital universitário com "todas as especialidades" médicas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou em 13 de novembro de 2023 que o Hospital Al-Shifa é "quase um cemitério", com corpos amontoados dentro e fora do local.
Nos últimos dias, os combates têm ocorrido perto do hospital, o que gera uma grave escassez de combustível para realizar os tratamentos.
Quem dirige o Hospital Al-Shifa?
O Hospital Al-Shifa está sob a administração do Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas.
Conforme mencionado anteriormente, o diretor geral do hospital é o médico Muhammad Abu Salamiya.
Quantos pacientes estão no Hospital Al-Shifa?
Segundo o Dr. Abu Salamiya, o número de pacientes varia a cada dia.
No dia 13 de novembro, o número estimado de pacientes era de cerca de 650, incluindo 50 pacientes em diálise renal, 36 bebês incubados e 26 pacientes em UTI, diz ele.
Existem cerca de 700 médicos no hospital.
Em pelo menos dois dos edifícios do complexo, os pacientes tiveram que ser evacuados, dizem os médicos.
O número de pessoas deslocadas que se refugiam no hospital é de cerca de 5 mil, disse o Dr. Abu Salamiya à BBC.
O diretor aponta que, quase uma semana depois dos ataques de 7 de outubro, algumas dezenas de milhares de pessoas refugiaram-se no hospital. Esse número chegou a cerca de 60 mil, segundo ele.
Mas a quantidade de indivíduos que procuram refúgio caiu significativamente desde que os bombardeios contra o complexo começaram nos últimos dias, embora ainda alguns milhares ainda permaneçam ali.
"Alguns deles (pacientes) fugiram do hospital e foram mortos a caminho do sul ou de (abrigos nas) escolas", diz Abu Salamiya.
Ele acrescenta que alguns dos que deixaram o hospital foram atingidos a apenas 200 metros de distância e tiveram que voltar correndo para se proteger.
Questionado sobre para onde deveriam ir, ele disse à BBC: "Eles vão morrer aqui se forem deixados. Eles não podem ficar assim."
"Pedimos uma evacuação segura para nós e para nossos pacientes", diz ele.
Abu Salamiya acrescenta que os pacientes devem ser rapidamente transferidos para "locais seguros, com hospitais seguros" dentro ou até mesmo fora de Gaza, porque nenhum hospital deste território palestino pode atender o grande número de pacientes absorvidos pelo Al-Shifa.
Qual é a situação atual do combustível no hospital?
Abu Salamiya e outros médicos disseram à BBC que não há combustível no hospital e que eles dependem de reservas limitadas que são utilizadas quando há "mais necessidade".
Na noite de 12 de outubro, o porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF), o contra-almirante Daniel Hagari, disse que 300 litros de combustível haviam sido deixados perto do hospital durante a noite, mas que o Hamas estava "evitando e pressionando o hospital" a não coletar o insumo.
Abu Salamiya disse à BBC que eles "não se recusaram a recolher o combustível oferecido" — embora a quantidade oferecida pudesse alimentar o gerador durante "apenas 30 minutos".
Ele ainda afirma que não colocará em risco a sua equipe médica ao deixá-los recolher combustível "numa zona de combate, no meio da noite".
O médico pontua que ficaria feliz se a Cruz Vermelha Internacional entregasse o combustível pela manhã, mas não recebeu qualquer resposta das FDI desde que a oferta inicial foi feita.
O hospital precisa de pelo menos 10 mil litros de combustível para funcionar diariamente, calcula ele — uma quantidade significativamente maior do que os 300 litros oferecidos por Israel.
É possível evacuar o hospital?
Muitas pessoas fizeram esta pergunta na internet: "Por que as pessoas não podem simplesmente deixar o hospital em Gaza?"
Anteriormente, o porta-voz das FDI, o contra-almirante Hagari, disse que Israel havia "aberto rotas designadas" a partir dos hospitais no norte de Gaza — e estava conversando com autoridades em Al-Shifa para oferecer "assistência e transportar com segurança os doentes e feridos".
Ele acrescentou que Israel está "pronto para ajudar" a evacuar as dezenas de bebês atendidos no local para um outro hospital.
No entanto, os médicos dizem que isso não é possível na situação atual.
Adnan al-Bursh, chefe do setor de cirurgia ortopédica, diz que o hospital está sob um "bloqueio" total há quatro dias — por causa dos bombardeios — e que muitas pessoas estão com medo de deixar o local e morrer ao sair.
Ele disse à BBC: "Vi três tanques israelenses a menos de 100 metros do hospital, e drones voam constantemente sobre o complexo."
Por causa disso, al-Bursh conta que nenhum membro da equipe médica pode sair dos prédios do hospital.
O Hospital Al-Shifa está sob ataque?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que o hospital teria sido atacado várias vezes nos últimos dias, deixando várias pessoas mortas e muitas outras feridas.
Israel negou ter atingido o hospital, embora as IDF tenham confirmado que há forças terrestres que operam em torno do local.
Israel também afirma que existe um centro de comando do Hamas sob o Hospital Al-Shifa e uma porta-voz das FDI, Libby Weiss, declarou: "Sabemos que, com certeza [há um centro de controle do Hamas lá]. Compartilhamos informações significativas que falam sobre isso."
As IDF compartilharam uma representação em 3D do que afirma ser uma rede de túneis sob o hospital, e gravações do que afirmam serem combatentes do Hamas falando sobre a questão.
O Hamas e as autoridades hospitalares negam que exista um centro de operações debaixo do hospital.
Os médicos também insistem que não há presença do Hamas no complexo.
Abu Salamiya disse à BBC: "Eles (os israelenses) estão mentindo. Pedimos às Nações Unidas, à Cruz Vermelha Internacional e a todas as outras organizações internacionais que enviem suas equipes e investiguem se há algum [combatente] dentro do complexo Al-Shifa."
"Esta é uma instituição civil que atende pacientes e feridos. Estamos prontos para que qualquer pessoa venha verificar isso."
O médico al-Bursh acrescenta: "É impossível que militantes estejam no hospital."
"Esta é como a minha casa e, como cirurgião, eu teria saído imediatamente se soubesse que algum militante estivesse aqui."