Queda de avião na Indonésia: recém-casados e 'piloto gentil' estão entre os 62 desaparecidos em acidente aéreo
Familiares esperam com apreensão por notícias sobre os passageiros do voo que caiu logo após decolar de Jacarta no último sábado.
Parentes de passageiros e de membros da tripulação que estavam a bordo do Boeing 737 da companhia Sriwijaya Air que caiu no mar da Indonésia logo após a decolagem acompanham apreensivos a operação de busca feita pelas autoridades do país.
Havia 62 pessoas no voo que saiu da capital indonésia, Jacarta, neste sábado (9/01), com destino a Pontianak. As caixas-pretas da aeronave foram localizadas no domingo, assim como peças do avião e restos humanos — o que diminuiu a expectativa de que haja sobreviventes do desastre.
Nenhum passageiro foi formalmente identificado, mas familiares e amigos têm compartilhado as histórias de seus entes queridos enquanto aguardam por notícias.
Os repórteres Dwiki Marta e Widianingsih, do serviço da BBC na Indonésia, reuniram alguns desses relatos.
O capitão: Afwan
"Nós estamos de luto, mas ainda rezando pelo melhor", disse Ferza Mahardhika, sobrinho do piloto do voo SJ182 da Sriwijaya.
O capitão Afwan, de 54 anos, saiu de casa apressado no sábado, reclamando que "a camisa não havia sido passada — ele gostava de andar sempre arrumado".
O piloto se desculpou com os três filhos por ter de deixá-los novamente por causa do trabalho. Ele começou a carreira na Força Aérea antes de migrar para a aviação comercial em 1987.
A família e os colegas dizem que ele era um muçulmano devoto, sempre disposto a ajudar seus vizinhos em Bogor, cidade localizada na província de Java Ocidental, e aqueles com quem trabalhava.
Sua foto de perfil nas redes sociais é um desenho do Superman rezando, com os dizeres "não importa o quão alto você voe, nunca chegará aos céus se não rezar".
"Ele era um homem bom. Dava bons conselhos, sábios conselhos. Era uma figura proeminente no bairro, conhecido pela gentileza", afirmou Mahardhika.
"Estou arrasado, não consigo acreditar que isso está acontecendo. Por favor, rezem pelo meu tio e pela nossa família", acrescentou.
Angga Fernanda Afrion
Afrida disse à reportagem que ainda tem esperança de que o filho de 29 anos, Angga Fernanda Afrion, que também estava a bordo, pudesse estar vivo.
"Os familiares em Jacarta estão em busca de informações. Quero ir para lá, mas, com a pandemia, tem sido difícil viajar", diz ela, que vive em Sumatra Ocidental.
Apenas uma semana atrás, Angga havia se tornado pai. A mulher dera à luz o primeiro filho do casal, um menino chamado Alvano Faeyza Alingga. Afrida diz que o nascimento do filho havia motivado Angga a trabalhar ainda mais, na tentativa de dar o melhor para a criança.
Ele, que é marinheiro, prestava serviço em grandes navios de carga. A mãe contou que ele ligou tarde na sexta-feira para dizer que teria de viajar a Pontianak de última hora porque "o navio havia sofrido uma avaria e o chefe disse que precisava que ele fosse para lá".
Por causa da função, ele se deslocava com frequência no arquipélago indonésio, mas preferia fazê-lo de barco — raramente tomava avião.
Afrida afirma que o filho "tinha uma personalidade forte, mas sempre foi bastante obediente". "Ele era uma pessoa boa, educada, se dava bem com qualquer um."
"Se ele realmente tiver morrido, o que quero é levá-lo para a casa e dar-lhe um enterro digno", ela disse murmurando, enquanto segurava uma foto de Angga de uniforme.
Ihsan Adhlan Hakim e Putri Wahyuni
Também estavam no avião os recém-casados Ihsan Adhlan Hakim e Putri Wahyuni. O irmão mais novo de Ihsan, Arwin Amru Hakim, disse ao site de notícias Kompas que ele havia ligado do aeroporto para pedir-lhe que avisasse à família que o voo havia atrasado devido ao mau tempo.
O casal ia para Pontianak para realizar uma cerimônia de casamento para os familiares de Ihsan que vivem na cidade, localizada em Kalimantan, a parte indonésia da ilha de Bornéu.
"O evento ia acontecer no próximo sábado", afirmou Arwin. No momento, a família reza para que o casal seja encontrado.
Indah Halima Putri e Muhammad Rizky Wahyudi
Yusrilanita desmaiou ao saber da notícia do desaparecimento do avião que levava sua filha, Indah Halima Putri, o genro, Muhammad Rizky Wahyudi, e a neta recém-nascida.
Indah havia voltado a Java, cidade onde mora sua família, para ter o bebê. Ela retornava para casa com o marido e a filha — o casal vivia em Pontianak.
Antes de a aeronave decolar, de acordo com a imprensa local, Indah enviou uma foto da asa do avião por WhatsApp à mãe e pediu aos familiares que rezassem porque chovia muito.
Autoridades montaram um centro de crise no aeroporto de Pontianak para colher amostras de DNA de familiares dos passageiros e ajudar no processo de identificação dos corpos encontrados.
"Enviamos 51 funcionários para que auxiliem o pessoal do departamento encarregado da identificação das vítimas de desastres a coletar as amostras", afirmou o Comissário Sênior Assistente de Polícia Yani Permana.
A expectativa é que o processo se estenda pelos próximos dois dias, já que algumas pessoas têm de viajar de outras regiões do país.