Quem é a filha de Kim Jong Un, sua sucessora 'mais provável' na Coreia do Norte?
What do we know about Kim Ju Ae, and how likely is she to become the next leader of North Korea?
A filha do líder da Coreia do Norte, Kim Jong Un, é a sua sucessora "mais provável", segundo a agência de espionagem da Coreia do Sul, o Serviço Nacional de Inteligência (NIS).
Mas o que sabemos sobre Kim Ju Ae e qual a probabilidade de ela substituir o pai um dia?
Kim Jong Un é extremamente reservado sobre sua família e, como resultado, se sabe muito pouco sobre eles.
Ele até manteve sua esposa, Ri Sol Ju, em segredo por um período após o casamento - ela só fez sua primeira aparição pública em 2012, apesar da imprensa sul-coreana afirmar que eles se casaram em 2009 e tiveram seu primeiro filho em 2010. Ri Sol Ju é também considerada a mãe de Kim Ju Ae, que nasceu alguns anos depois.
A primeira vez que a existência de Kim Ju Ae foi mencionada publicamente foi em 2013, depois que o astro aposentado do basquete americano Dennis Rodman fez uma polêmica viagem à Coreia do Norte.
Rodman disse que passou um tempo com a família de Kim, relaxando à beira-mar e "segurando o bebê", a quem chamava de Ju Ae.
Mesmo a imprensa norte-coreana apenas "a reconhece como filha de Kim Jong Un, sem mencionar seu nome ou idade", diz Fyodor Tertitskiy, pesquisador da política norte-coreana na Universidade Kookmin, em Seul. "Nada mais é conhecido, pelo menos publicamente", acrescenta. Mas ele estima que ela tenha algo entre 10 anos e o início da adolescência.
Em uma reunião privada no ano passado, o NIS afirmou a políticos sul-coreanos que Kim Ju Ae nunca esteve matriculada em um estabelecimento de ensino oficial e estava sendo educada em casa em Pyongyang.
A agência também disse que alguns de seus hobbies eram andar a cavalo, nadar e esquiar. Uma das pessoas que participaram do briefing revelou mais tarde aos repórteres que Kim Jong Un estava especialmente satisfeito com suas habilidades de equitação.
O NIS afirmou ainda que ela tinha um irmão mais velho e um irmão mais novo cujo sexo a agência não confirmou. Eles nunca foram vistos em público.
Estreia pública
Kim Ju Ae fez sua estreia pública em novembro de 2022, quando participou de um teste de míssil com seu pai. Desde então foi vista ao lado dele diversas vezes, tanto em eventos militares quanto não militares.
Recentemente, na celebração da véspera de Ano Novo no Estádio 1º de Maio, em Pyongyang, ela e o pai foram fotografados trocando um beijo na bochecha.
Em dezembro, eles assistiram ao lançamento do míssil balístico intercontinental de combustível sólido Hwasong-18, o míssil de longo alcance mais avançado do arsenal do país.
Ela também esteve com ele no lançamento do satélite espião Malligyong-1 em novembro. Na época, Pyongyang alegou que o equipamento daria a Kim Jong Un uma visão da Casa Branca.
Em fevereiro de 2023, a Radio Free Asia informou que o governo norte-coreano exigiu que qualquer outra pessoa chamada Kim Jun Ae mudasse de nome, o que é uma prática padrão quando se trata da dinastia governante.
Pesquisadores sobre a Coreia do Norte também notam que Kim Ju Ae é agora descrita pela imprensa oficial como uma filha "respeitada", em vez de uma filha "amada". O adjetivo "respeitado" é reservado aos mais reverenciados da Coreia do Norte.
No caso de Kim Jong Un, por exemplo, ele foi referido como "camarada respeitado" apenas depois de o seu estatuto como futuro líder ter sido consolidado.
Possível sucessora?
A Coreia do Norte está profundamente isolada e não está claro para o resto do mundo por que as aparições de Kim Ju Ae ao lado de seu pai se tornaram tão frequentes.
Os cidadãos da Coreia do Norte são informados de que os Kim provêm de uma linhagem sagrada, o que significa que só eles podem liderar o país. Alguns analistas dizem que apresentá-la ao público em uma idade tão precoce poderia ser a forma do líder norte-coreano garantir que a sua filha se estabeleça muito antes de assumir o poder.
Não há nenhum indício de que uma sucessão possa acontecer em breve, e rumores anteriores de que Kim Jong Un estava com a saúde debilitada foram descartados.
Outros dizem que também poderia ser uma forma de Kim Jong Un sinalizar que é um homem de família atencioso em meio a uma sociedade profundamente patriarcal.
"Com os antigos líderes Kim Jong Il e Kim Il Sung, houve muita propaganda focada no papel desses líderes norte-coreanos como figuras maternas e paternas", diz Edward Howell, professor da Universidade de Oxford e especialista no assunto. "Portanto, acho que esse simbolismo também continuou ao retratá-la com o pai em público."
Desde a fundação da Coreia do Norte em 1948, o país tem sido governado por membros masculinos da família Kim. Se um dia Kim Ju Ae substituir seu pai, ela será a primeira mulher a liderar o país.
Mas "ter um membro da linhagem Kim é tão crucial para a liderança norte-coreana que, se for uma mulher, é melhor do que ter alguém que não seja membro da família Kim", diz Howell.
Ele acredita que há também outro potencial candidato à sucessão de Kim Jon Un - a irmã do líder, Kim Yo Jong, que recebeu a sua primeira menção oficial nos meios de comunicação estatais em março de 2014. Ela ocupa um cargo importante no governante Partido dos Trabalhadores da Coreia.
"Ela é muito mais velha que Kim Ju Ae e obviamente tem muito mais experiência na política norte-coreana", diz ele. "Então, seja a filha ou a irmã, ambas podem ser mulheres, mas ter uma Kim é a coisa mais importante."
O NIS da Coreia do Sul também disse que ainda está considerando "todas as possibilidades", uma vez que existem "muitas variáveis".
Fyodor Tertitskiy acredita que Kim Jong Un tem "testado a opinião do público e da elite sobre uma potencial sucessão", mostrando Kim Ju Ae em público - algo que ele diz que normalmente não é feito até que a sucessão seja confirmada.
Mas ele concorda que ainda é cedo para falar sobre o sucessor de Kim Jong Un.
"Se ele, digamos, morrer com a mesma idade que o seu pai, aos 70 anos, isso seria em 2054. Mesmo se assumirmos que o Estado norte-coreano sobrevive até então na sua forma atual, a sociedade provavelmente não seria a mesma que é agora", diz ele.
"Além disso, deve-se notar que há uma diferença entre aceitar a igualdade dos sexos em geral e aceitar uma mulher governante", acrescenta.