Quem é o homem suspeito por ataque que deixou 15 mortos em Nova Orleans
Shamsud-Din Jabbar era cidadão americano e vivia no Texas.
Quinze pessoas morreram e pelo menos 35 ficaram feridas depois que um homem dirigiu uma caminhonete em direção a uma grande multidão em Nova Orleans, Estados Unidos, nas primeiras horas de 2025.
Na quarta-feira (01/01), autoridades americanas chegaram a dizer que consideravam a hipótese de que outras pessoas houvessem participado do planejamento do atentado, mas, em uma mudança de posição, o FBI (serviço doméstico de inteligência e segurança dos EUA) declarou nesta quinta-feira (02/01) que acredita que o suspeito agiu sozinho.
Em uma entrevista coletiva, o agente do FBI Christopher Raia disse que, após cerca de 24 horas de investigação, eles estão confiantes de que não há cúmplices nas ações do suspeito Shamsud-Din Jabbar, de 42 anos, que morreu após trocar tiros com três policiais.
Raia explicou que, após realizar centenas de entrevistas, analisar as postagens nas redes sociais do suspeito e seus dispositivos eletrônicos, não foi encontrado nada que sugerisse que ele trabalhou com outras pessoas.
A hipótese do FBI é que o suspeito deixou os explosivos, saiu da área e depois voltou para realizar o ataque. Os dispositivos foram colocados antes do ataque, por volta de 01h ou 02h no horário local.
Quem era Shamsud Din-Jabbar?
O homem suspeito de atacar uma multidão na famosa rua Bourbon Street na manhã de quarta-feira (01/01) foi identificado como Shamsud-Din Jabbar.
Cidadão americano vivendo em Houston, no Estado do Texas, ele era veterano de guerra dos EUA, de acordo com o FBI.
Jabbar frequentou a Universidade do Estado da Georgia de 2015 a 2017, formando-se em Sistemas de Informação de Computadores.
Ele já havia tido problemas anteriores com a polícia, incluindo roubo e dirigir sem carteira de motorista.
Segundo o FBI, na caminhonete que ele usou durante o ataque foi encontrada uma bandeira do grupo radical Estado Islâmico.
O serviço de inteligência americano está tratando o incidente como um "ato de terrorismo".
O suspeito compartilhou vídeos nas redes sociais poucas horas antes do ataque, indicando que ele foi inspirado pelo EI e expressando um "desejo de matar", disse o presidente americano Joe Biden, após ser informado pelo FBI sobre o ataque.
De acordo com um perfil do LinkedIn, que já foi removido, Jabbar trabalhou em várias funções no Exército dos EUA, incluindo recursos humanos e TI, antes de ser dispensado. Ele foi enviado para o Afeganistão de fevereiro de 2009 a janeiro de 2010.
Em um vídeo do YouTube postado em 2020, Jabbar disse que seu tempo no exército o ensinou "o significado de prestar um ótimo serviço e o que significa ser responsável e levar tudo a sério, cuidando de todos os detalhes para garantir que as coisas ocorram sem problemas".
Ele foi casado duas vezes. Seu primeiro casamento terminou em 2012 e o segundo durou de 2017 a 2022.
Ele também parece ter trabalhado no mercado imobiliário, mas sua licença expirou em 2021.
A caminhonete que ele dirigia era elétrica e acredita-se que tenha sido alugada no Texas por meio de um aplicativo chamado Turo.
Além do FBI, estão participando da investigação a Agência Federal de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos; a Divisão de Segurança Nacional do Departamento de Justiça; e o Gabinete do Procurador dos EUA para o Distrito Leste da Louisiana.
Supostos dispositivos explosivos improvisados também foram encontrados na área do ataque. O FBI disse que acreditava que o suspeito teve ajuda para executar o ataque, particularmente na colocação dos supostos dispositivos explosivos.
Quando o ataque aconteceu?
Às 3h15 da madrugada desta quarta-feira, no horário local (6h15 em Brasília), uma caminhonete Ford F-150 Lightning em alta velocidade correu em direção a uma grande multidão na Bourbon Street, no coração do bairro French Quarter.
A polícia descreveu o ato como "muito intencional", acrescentando que o autor do ataque estava "determinado a criar a carnificina e os danos que causou".
"Este homem estava tentando atropelar o máximo de pessoas possível", disse a chefe de polícia de Nova Orleans, Anne Kirkpatrick.
O motorista atirou de seu veículo, ferindo dois policiais. Eles estão em condições estáveis no hospital, disseram as autoridades.
Quem são as vítimas?
As autoridades disseram que 15 pessoas foram mortas, incluindo Jabbar, e pelo menos 35 ficaram feridas.
Segundo a polícia, a maioria das vítimas parece morar em Nova Orleans, mas as identidades só serão reveladas após as autópsias serem finalizadas.
Entre os mortos está o ex-astro do futebol americano da Universidade de Princeton, Martin "Tiger" Bech, de acordo com o departamento de atletismo da faculdade.
"Não havia apelido mais apropriado para um jogador de Princeton que treinei", disse Bob Surace, treinador principal de futebol americano, em um comunicado.
"Ele era um 'Tiger' ["tigre"] em todos os sentidos - um competidor feroz com energia infinita, um companheiro de equipe amado e um amigo atencioso."
O presidente da Universidade da Georgia disse que um de seus alunos ficou gravemente ferido. O governo de Israel disse que dois cidadãos estavam entre os feridos.
Onde tudo aconteceu?
A rua Bourbon Street é um famoso ponto turístico e de vida noturna, repleto de restaurantes, bares e casas com música ao vivo.
Fica no French Quarter de Nova Orleans, um bairro animado que atrai turistas e moradores, especialmente para celebrar o Ano Novo.
A cidade foi fundada por franceses em 1718.
Todo ano, mais de um milhão de pessoas se reúnem para seu famoso carnaval e desfile de Mardi Gras na primavera.
A tradicional partida de futebol americano dos EUA Sugar Bowl, que aconteceria nesta quarta-feira em Nova Orleans, precisou ser adiada em 24h por conta do ataque.
O que foi encontrado na cena do crime?
A agente especial Alethea Duncan confirmou em uma entrevista coletiva que o FBI assumiu a investigação.
Ela enfatizou que o público deve ficar longe da área "até que se possa descobrir o que está acontecendo", e pediu que o público fique longe da Bourbon Street entre as ruas Canal e St Ann.
A prefeita de Nova Orleans, LaToya Cantrell, disse que a prioridade na tarde de quarta-feira continuava sendo tirar as vítimas o mais rápido possível do local do crime.
A caminhonete usada no ataque, um Ford F-150 Lightning branco, ficou com a frente bastante danificada. O veículo foi localizado pela equipe do BBC Verify (setor de checagem da BBC) em frente à boate Rick's Cabaret na Bourbon Street, perto do cruzamento com a rua Conti Street.
As autoridades disseram que o veículo foi alugado e não pertencia ao suspeito. Dois possíveis explosivos foram encontrados na área. Além disso, uma arma longa com um "dispositivo supressor" — atuando como silenciador — foi recuperada na cena, informou a rede CBS (parceira da BBC nos EUA).
O que disseram testemunhas?
Uma testemunha que estava na Bourbon Street no momento do ataque relatou algumas das cenas angustiantes.
Whit Davis, de Shreveport, Louisiana, disse à BBC: "Estávamos na Bourbon Street e arredores desde o início da noite."
"Quando estávamos no bar, não ouvimos tiros ou estrondos porque a música estava muito alta", relatou ele.
A polícia reteve Davis e um grupo de pessoas no bar e, quando eles foram autorizados a sair, o homem conta que passou por "corpos de pessoas mortas e feridos por toda a rua".