Quem é o líder do Talebã morto por um ataque dos EUA
A agência de espionagem do Afeganistão confirmou que o líder do grupo extremista Talebã, o mulá Akhtar Mansour, foi morto no sábado em uma área distante do sudoeste do Paquistão, perto da fronteira com o Afeganistão.
O Talebã ainda não confirmou a informação: alguns comandantes afirmam que ele foi morto em um ataque na sexta-feira, outros afirmam que ele ainda está vivo. Mas boatos falsos com frequência cercam os líderes do grupo.
Americanos e autoridades do governo afegão afirmam que ele morreu. Depois do ataque - que teria sido realizado com drones - o secretário de Estado americano, John Kerry, afirmou que Mansour era uma "ameaça imediata e constante aos funcionários americanos", forças de segurança e civis afegãos.
Um porta-voz do presidente afegão Ashraf Ghani afirmou que Mansour era o principal obstáculo que impedia o Talebã de se juntar ao processo de paz no país.
Levando em conta que Mansour estava oficialmente na liderança do Talebã há menos de um ano - desde julho de 2015 - muitos se perguntam qual era a importância real dele para o movimento.
Mansour podia ser considerado o segundo em comando até a confirmação da morte do fundador e líder espiritual do grupo, mulá Mohammad Omar, no ano passado.
Antes de assumir a liderança do Talebã, ele era o chefe interino do movimento, agindo em nome do mulá Omar.
Acredita-se que ele tenha autorizado a divulgação periódica das declarações de mulá Omar no site oficial do Talebã mesmo depois de Omar ter sido declarado morto.
O mulá Omar era uma figura misteriosa e reclusa que continuou sendo considerado o líder do Talebã mesmo dois anos depois de sua morte.
Isto criou polêmica dentro dos altos escalões do grupo. Surgiram acusações de que Mansour poderia ter planejado o assassinato do mulá Omar com outros aliados tribais da região ou pessoas no Paquistão.
Muitos dos que criticavam Mansour o acusaram de estar nas mãos do aparato de espionagem do Paquistão que, segundo eles, oferecia proteção a Mansour.
No entanto, os principais questionamentos à liderança dele foram atenuados e até o chefe da Al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri, prometeu fidelidade a Mansour como o sucessor legítimo do mulá Omar depois que ele assumiu o cargo em julho de 2015.
Juventude
Não se sabe exatamente o ano em que o mulá Mansour nasceu. Foi entre 1963 e 1965, em Band-e-Taimoor, uma vila em Kandahar, a província do sul do Afeganistão que faz fronteira com a província do Baluquistão, no território paquistanês.
Durante a invasão soviética no Afeganistão na década de 1980, Mansour, como outros membros de sua família, teria lutado junto com a resistência afegã, os mujahedins.
Como outros membros de sua família ele também seguiu um grupo local liderado pelo mulá Haji Mohammad, comandante regional do Hezb-e-Islami Khalis, um dos sete principais grupos de resistência baseados no Paquistão.
Algumas fontes afirmam que Mansour era um jovem combatente de destaque, mas não se sabe exatamente quais foram os seus feitos.
Em 1987 ele se mudou para Quetta, no Paquistão e, depois, para Peshawar, no noroeste do país, onde retomou seus estudos religiosos que tinham sido interrompidos pela guerra no Afeganistão.
O mulá Mansour estava entre os primeiros grupos do Talebã, ou estudantes seminaristas, que saíram do Paquistão para capturar Kandahar e, em seguida, o resto do Afeganistão em uma operação de dois anos que acabou com quase todos os outros grupos de mujahedins, exceto a Aliança do Norte.
Segundo uma agência de notícias afegã independente, a Pajhwok, depois da captura de Kandahar, a liderança do Talebã colocou Mansour no comando da segurança do aeroporto e, depois, no comando de seus caças.
Quando o Talebã capturou a capital, Cabul, em 1996, inicialmente ele foi designado diretor da companhia aérea afegã, a Ariana, e depois, ministro da Aviação Civil.
Foram feitas acusações de que Mansour teria usado o dinheiro das drogas vindas dos campos de papoulas do sul para estabelecer empresas em outros países durante o governo do Talebã.
Liderança
Como a maioria dos líderes do Talebã no sul do Afeganistão, Mansour foi para Quetta quando os Estados Unidos atacaram o país em 2001.
Enquanto a resistência do Talebã crescia, ele foi nomeado o governador alternativo de Kandahar, um sinal de sua importância dentro do grupo.
Ele também subiu rapidamente dentro do conselho que liderava o Talebã.
Em 2007 as forças de segurança paquistanesas capturaram o ex-ministro da Defesa do Talebã e o líder interino do grupo, mulá Obaidullah Akhund, em Quetta.
O conselho de líderes do grupo substituiu Akhund pelo mulá Abdul Ghani Baradar e Mansour passou a ser um dos dois vices de Baradar.
Baradar foi preso em 2010 em uma operação conjunta entre afegãos e a CIA, o que abriu caminho para Mansour se transformar no líder interino do Talebã.
Quando o serviço de espionagem afegão divulgou informações em julho de 2015 de que o mulá Omar teria morrido ainda em 2013, Mansour se viu em uma situação constrangedora.
Mas o conselho de líderes do Talebã, baseado no Paquistão, agiu rapidamente confirmando Mansour como o líder permanente do grupo, uma medida que visava evitar tumultos e divisões.
Futuro
De acordo com o editor do serviço pashtun da BBC Inayatullhaq Yasini, a morte de Mansour deverá ser um grande problema para o Talebã.
Yasini afirma que Mansour estava aumentando sua liderança dentro do grupo, unindo outros líderes do Talebã, incluindo um filho e um irmão do fundador, mulá Omar.
Mansour também estava lançando grandes ataques contra as forças de segurança afegãs.
Sob a liderança dele, o Talebã conseguiu capturar em 2015 uma importante cidade afegã, a primeira grande conquista em 15 anos.
Yasini afirma que o vácuo de poder criado por sua morte mais uma vez lançará o Talebã em uma luta pelo poder e liderança.