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Quem é o polêmico segurança pivô de escândalo que abala imagem do governo Macron na França

Alexandre Benalla, ex-chefe de segurança da equipe do presidente, foi filmado agredindo manifestante vestindo apetrechos policiais, mesmo sendo civil; histórico levanta suspeitas de proteção e privilégio dentro do governo.

23 jul 2018 - 18h28
(atualizado em 24/7/2018 às 05h34)
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Benalla aparece em primeiro plano em foto de fevereiro, com Macron ao fundo (de gravata preta); 'senhor segurança' foi demitido em 20 de julho
Benalla aparece em primeiro plano em foto de fevereiro, com Macron ao fundo (de gravata preta); 'senhor segurança' foi demitido em 20 de julho
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Desconhecido do público francês até a semana passada, o ex-chefe da segurança do presidente Emmanuel Macron, Alexandre Benalla - filmado "disfarçado" de policial batendo em um manifestante caído no chão - se tornou o pivô de um escândalo de Estado.

As suspeitas de proteção e privilégios de Benalla desestabilizam o governo francês e afetam a imagem de "República exemplar" que Macron fixou como um dos pilares de seu mandato.

O "senhor segurança" de Macron, como é chamado Benalla pela imprensa francesa, foi filmado agredindo manifestantes durante protestos do dia 1° de maio em Paris. Ele estava usando um capacete e braçadeira da polícia.

Em teoria, Benalla participava, a seu pedido, apenas como "observador" da ação policial nas manifestações. Ele não poderia usar apetrechos policiais e nem intervir na operação.

Os vídeos, que o mostram afastando à força uma jovem do local e batendo várias vezes em um homem caído no chão, foram divulgados só no dia 18 de julho pelo jornal Le Monde.

Com a grande repercussão das imagens, a presidência francesa informou que, logo depois do ocorrido, em 1° de maio, Benalla havia sido suspenso por 15 dias sem salário e transferido para um cargo administrativo, com funções apenas internas no Palácio do Eliseu.

A punição da presidência foi considerada muito branda pela oposição. Também houve inúmeros questionamentos em relação ao fato de a Justiça não ter sido informada sobre as agressões.

Vídeos revelados pelo jornal Le Monde mostram agente agredindo manifestantes
Vídeos revelados pelo jornal Le Monde mostram agente agredindo manifestantes
Foto: AFP / BBC News Brasil

Poucos dias antes da divulgação dos vídeos, Benalla apareceu, no entanto, ao lado de Macron nas festividades nacionais de 14 de julho e foi visto perto do ônibus que transportou a seleção francesa de futebol, bicampeã do Mundo, nas homenagens na avenida Champs-Elysées.

Benalla, que ocupava o cargo de adjunto do chefe de gabinete de Macron, só foi demitido em 20 de julho, dois dias após o Le Monde ter publicado os vídeos.

O palácio do Eliseu alegou "elementos novos" para justificar a demissão: o fato de que Benalla recolheu imagens das câmeras de segurança da praça onde ocorreu a agressão - ele não tinha o direito de ter requerido as filmagens.

'Segurança de boate'

Com apenas 26 anos, o jovem nascido em um bairro pobre de Évreux, na Normandia, estava presente a cada deslocamento de Macron e também assegurava a proteção do presidente e de sua esposa em momentos familiares.

De acordo com a imprensa francesa, essa proximidade raramente foi vista no caso de um civil repentinamente encarregado de proteger o presidente, sem ter uma real qualificação na área, segundo profissionais do setor.

"Benalla tem mais o perfil de segurança de boate. Ele não tem nenhuma técnica de segurança", disse um ex-responsável do Grupo de Segurança da Presidência da República (GSPR) ao jornal Le Parisien.

O GSPR é a equipe oficial de segurança do presidente, ligada ao Ministério do Interior. Benalla, com experiência apenas na segurança privada, teria criado uma equipe paralela encarregada da proteção de Macron, que atuava no mesmo patamar do GSPR, chamada de o "bando do Alexandre", segundo jornais franceses.

Benalla integrou o Movimento dos Jovens Socialistas quando tinha 19 anos. Sua família já era militante do Partido Socialista, de esquerda, na Normandia.

De acordo com conhecidos, ele sempre quis ser segurança de personalidades e era fascinado pelo filme O Guarda-Costas com Whitney Houston e Kevin Costner, afirma a imprensa francesa.

Benalla foi contratado como responsável da segurança do movimento Em Marcha! de Macron
Benalla foi contratado como responsável da segurança do movimento Em Marcha! de Macron
Foto: EPA / BBC News Brasil

Antes de ser chamado pelo Partido Socialista, em 2012, para trabalhar na segurança da campanha presidencial do candidato François Hollande, Benalla havia sido guarda-costas de alguns artistas e políticos.

Ele também trabalhou apenas uma semana para o ministro Arnaud Montegourg, do governo de Hollande. Contratado como motorista e segurança, Benalla provocou um acidente de trânsito e quis fugir, conta Montebourg, que o demitiu imediatamente.

Em 2015, por decisão do governo Hollande, Benalla, formado em direito, foi escolhido para participar de uma formação de uma semana no Instituto Nacional de Altos Estudos de Segurança e da Justiça, organizada em uma escola de oficiais da polícia militar.

Após Macron anunciar sua candidatura à presidencial, no final de 2016, Benalla foi contratado como responsável pela segurança do movimento Em Marcha!, partido de Macron.

Naquela época, ele quis comprar pistolas de balas de borracha e escudos antimotim para a campanha, o que foi recusado pelo Em Marcha!.

Nos últimos dias, diversos relatos sobre o estilo agressivo de Benalla vieram à tona. Ele não hesitava em dar ordens ríspidas e broncas, até mesmo a chefes da polícia, ou fazer demonstrações de força, como quando levantou um fotógrafo que ele julgou estar muito próximo de Macron - na época, ainda candidato.

Privilégios ao lado do presidente

Em foto de 2017, Benalla e Macron andam de bicicleta; segurança ganhou acesso ao círculo mais próximo do presidente francês
Em foto de 2017, Benalla e Macron andam de bicicleta; segurança ganhou acesso ao círculo mais próximo do presidente francês
Foto: EPA / BBC News Brasil

Alguns jornais o apelidaram de "Rambo" após a divulgação dos vídeos.

Benalla teve uma ascensão rápida e conseguiu vários privilégios.

Entre eles, um grande apartamento funcional no sofisticado Quai d'Orsay, às margens do Sena, onde residem colaboradores de primeiro escalão do presidente, e um crachá de acesso ao hemiciclo dos deputados no Parlamento. Seu salário era de mais de 7 mil euros brutos (cerca de R$ 31 mil).

Civil que se tornou membro reservista operacional da polícia militar após uma formação acelerada de uma centena de horas, Benalla também recebeu, a pedido do Palácio do Eliseu, uma promoção considerável: foi nomeado, em 2017, tenente-coronel da reserva operacional, título prestigioso que militares de carreira com formação em escolas reputadas na área só obtém após 40 anos de idade.

Macron havia anunciado no início de julho um projeto de reforma do esquema de proteção do presidente, que ficaria a cargo apenas do Palácio do Eliseu, sem o controle da polícia, o que desagrada o Ministério do Interior.

Benalla, segundo a imprensa, poderia comandar uma das unidades de segurança do presidente.

Após suspensão, Benalla foi visto dentro do ônibus que transportou a seleção francesa de futebol
Após suspensão, Benalla foi visto dentro do ônibus que transportou a seleção francesa de futebol
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Presença incômoda no Palácio

Segundo a revista L'Express, a relação de Benalla com Macron causava grande surpresa no palácio do Eliseu e fora dele.

Após a divulgação dos vídeos, Benalla foi indiciado, como também um funcionário do partido de Macron e três policiais suspeitos de terem transmitido a Benalla o vídeo das câmeras de segurança que filmaram a agressão na praça parisiense em 1° de maio.

Foi aberta uma comissão de inquérito no Parlamento, que interrogou nesta segunda-feira o ministro do Interior, Gérald Collomb, e o secretário de Segurança Pública de Paris. Também foram abertas investigações judiciárias e administrativas.

O Parlamento decidiu adiar a análise da reforma constitucional, defendida pelo presidente, após o escândalo Benalla.

Macron, que ainda não se pronunciou publicamente sobre o caso, teria condenado, durante uma reunião nesta segunda-feira, o "comportamento chocante" e dito que "não haverá impunidade para ninguém", segundo colaboradores do presidente francês.

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