Quem é o promotor que indiciou Trump criminalmente em Nova York
Alvin Bragg fez história em 2021 como o primeiro homem negro eleito promotor distrital do condado de Nova York.
Alvin Bragg fez história em 2021 como o primeiro homem negro eleito promotor distrital do Condado de Nova York. Os holofotes para ele estão prestes a crescerem muito mais e ficarem ainda mais potentes.
Ao deixar o escritório dele na noite de 3 de abril, Bragg, de 49 anos, não disse nada, com a consciência de quem garantiu para si mesmo um lugar nos livros de história como o primeiro promotor — em nível federal, estadual ou local — a apresentar acusações criminais contra um ex-presidente americano.
O escritório dele está investigando um suposto acordo de suborno entre Donald Trump e uma estrela de filmes pornográficos.
A origem do caso é um pagamento de 130 mil dólares (R$ 660 mil) feito por seu então advogado pessoal Michael Cohen à atriz Stormy Daniels no auge da eleição presidencial de 2016, supostamente em troca do silêncio dela sobre um caso que teria tido com Trump.
O ex-presidente republicano nega veementemente qualquer irregularidade. Ele usou as redes sociais para dizer que não espera ter um julgamento justo em Nova York.
"Eles só usaram esta acusação falsa, corrupta e vergonhosa contra mim porque estou com o povo americano e eles sabem que não posso ter um julgamento justo em Nova York!", escreveu ele na rede Truth Social.
O promotor distrital de Manhattan é um veterano que assumiu o cargo no início de 2022 com foco em duas áreas: investir em alternativas ao encarceramento enquanto aumenta os processos de colarinho branco e corrupção pública.
A campanha dele para se eleger promotor distrital - nos EUA, o ocupante do cargo é decidido de forma eletiva - se concentrou fortemente em sua biografia pessoal e no desejo de reforma do Ministério Público que ela acendeu.
Nascido e criado no bairro do Harlem, em Nova York, durante a epidemia de crack na década de 1980, ele falou sobre policiais que o seguravam sob a mira de uma arma, de encontrar vítimas de homicídio na porta de casa e de ter um cunhado morando com ele após um período preso.
Processos célebres
O advogado formado em Harvard se especializou em casos de fraudes de colarinho branco e questões de direitos civis, inclusive representando a família de Eric Garner, um homem negro que morreu nas mãos da polícia de Nova York em 2014.
Ele afirmou que ajudou a processar o governo Trump mais de 100 vezes durante o mandato presidencial de quatro anos. Ele também liderou o processo de Nova York contra o produtor de cinema Harvey Weinstein.
Bragg tem experiência com processos em todos os níveis do governo. No currículo, ele acumula experiência como procurador-assistente dos Estados Unidos para o Distrito Sul de Nova York, vice-procurador-geral de Nova York e principal litigante do Conselho da cidade de Nova York.
Dias depois de assumir o cargo, Bragg detalhou novas políticas de cobrança, fiança, confissão e condenação para o Distrito de Manhattan.
Ele disse que seu escritório não processaria certos delitos de baixo potencial ofensivo, como sonegação de tarifa de transporte público e delitos relacionados à maconha.
Um protesto da polícia local e de líderes empresariais em meio à crescente violência na cidade de Nova York levou Bragg a pedir desculpas e revisar a política.
Desde então, ele apontou para estatísticas mostrando que crimes graves caíram sob sua liderança, mas os críticos — incluindo Trump e seus aliados — o acusam de ser um liberal "radical" que é indulgente com os criminosos.
Bragg herdou a investigação de Trump de seu antecessor Cyrus Vance Jr, que abriu o caso há quase cinco anos, enquanto Trump ainda estava na Casa Branca.
No início de seu mandato, dois promotores de seu escritório se demitiram — um deles alegando que a investigação havia sido "suspensa indefinidamente" por um promotor "equivocado" que não queria processar Trump.
O escritório do promotor respondeu que o caso estava em andamento e estava "explorando evidências não investigadas anteriormente".
Em dezembro de 2022, duas das empresas de Trump foram condenadas por violações fiscais em um julgamento criminal instaurado por Bragg.
O próprio Trump não foi acusado, mas o diretor financeiro da The Trump Organization, Allen Weisselberg, está cumprindo uma sentença de cinco meses de prisão.
Em janeiro de 2023, Bragg convocou um grande júri para avaliar as evidências na investigação do possível suborno.
Após essas acusações históricas contra Trump, os riscos são enormes. Com sua terceira candidatura à Casa Branca em andamento, muitos dizem que a acusação pode turbinar seus apoiadores e colocá-lo de volta no Salão Oval.