Quem era Jeffrey Epstein, bilionário americano acusado de tráfico sexual de menores encontrado morto na prisão
Segundo imprensa americana, autoridades afirmaram que empresário cometeu suicídio em sua cela em Manhattan neste sábado.
"Não sou um predador sexual, sou um infrator", declarou Jeffrey Epstein ao New York Post em 2011. No último mês, esse bilionário americano teve seu rosto estampado em capas de jornais depois de ter sido oficialmente denunciado no Estado de Nova York por tráfico sexual envolvendo meninas menores de idade. No passado, já havia sido condenado por solicitar prostituição a uma menor de idade, mas conseguiu escapar de grandes condenações.
Dessa vez, Epstein estava preso em uma prisão em Manhattan aguardando seu julgamento.
Neste sábado (10), no entanto, foi encontrado morto na prisão, segundo noticiou o jornal americano The New York Times. De acordo com o diário, autoridades informaram que ele cometeu suicídio se pendurando na cela, e seu corpo foi encontrado às 7:30 do horário local. Ele estava no Metropolitan Correctional Center, um centro de detenções em Nova York. O empresário de 66 anos havia se declarado inocente.
Na denúncia, procuradores afirmaram que Epstein e seus funcionários tinham sido responsáveis por um grande esquema de tráfico sexual, levando meninas jovens —algumas de 14 anos— para sua mansão em Nova York e sua casa na Flórida entre 2002 e 2005.
No mês passado, uma semana depois de ter tido um pedido de fiança recusado, ele foi encontrado inconsciente em sua cela com marcas no pescoço. Autoridades estavam investigando se aquilo teria sido uma tentativa de suicídio.
Epstein havia sido preso no dia 6 de julho depois de voar de Paris, onde tinha uma casa, e pousar no Estado de New Jersey em seu avião privado.
Ele era conhecido por circular entre a elite, com poderosos como o presidente americano Donald Trump, o ex-presidente americano Bill Clinton e o príncipe Andrew, do Reino Unido.
Quem era ele, afinal?
'Cara ótimo'
Epstein nasceu e cresceu em Nova York. Estudou física e matemática na universidade, mas nunca se formou. Deu aulas dessas matérias em uma escola privada nos anos 1970.
O pai de um de seus alunos teria se impressionado tanto que colocou Epstein em contato com um sócio do banco de investimentos Bear Stearns, em Wall Street.
Ele se tornou sócio em quatro anos. Em 1982, já tinha criado sua própria empresa - J Epstein and Co.
A empresa administrava recursos de clientes que valiam mais de US$1 bilhão. Foi um sucesso instantâneo. Nessa época, Epstein começou a gastar sua fortuna —adquiriu uma mansão na Flórida, uma fazenda no Estado de New Mexico e uma gigantesca casa em Nova York— e a socializar com celebridades, artistas e políticos.
"Conheço Jeff há 15 anos. Um cara ótimo", afirmou o presidente americano Donald Trump à revista New York em um perfil sobre Epstein em 2002. "É divertido estar com ele. Dizem que ele gosta de mulheres bonitas tanto quanto eu, mas muitas delas são mais jovens. Não há dúvidas - Jeffrey aproveita sua vida social."
Em 2002, Epstein levou o ex-presidente americano Bill Clinton e os atores Kevin Spacey e Chris Tucker para a África em seu avião privado. Tentou comprar a revista New York com o produtor de filmes Harvey Weinstein, hoje acusado de assédio sexual por diversas mulheres, em 2003. Naquele ano, fez uma doação de US$ 30 de milhões para a Universidade Harvard.
Mas ele também tentava manter uma vida privada, deixando de ir a eventos e jantares.
Ele se relacionou com mulheres como Eva Andersson Dubin, a Miss Suécia, e Ghislaine Maxwell, filha do publisher Robert Maxwell.
Rosa Monckton, ex-CEO da joalheria Tiffany & Co, disse à revista Vanity Fair, em 2003, que Epstein era "muito enigmático" e um "iceberg".
"Você acha que o conhece, mas vai descascando suas camadas e encontra algo extraordinário por baixo", ela disse.
Condenação
Em 2005, os pais de uma menina de 14 anos disseram à polícia da Flórida que Epstein havia abusado de sua filha em sua casa em Palm Beach. A polícia conduziu uma busca pela casa e encontrou fotos da menina.
"Não era uma situação de 'ela disse, ele disse'", disse um policial que conduzia as investigações na época. "Havia 50 'ela disse' e um 'ele disse' - e tudo ligado a 'ela' contava a mesma história."
Procuradores, no entanto, ofereceram um acordo para ele.
Ele conseguiu escapar de denúncias federais —que poderiam ter feito com que ele encarasse prisão perpétua— e em vez disso recebeu uma sentença de 18 meses de prisão, durante a qual ele pode sair para o trabalho por 12 horas por dia, seis dias por semana. Depois de 13 meses, foi solto em liberdade vigiada.
O Miami Herald publicou uma investigação sobre o caso em novembro de 2018. Segundo o jornal americano, o então procurador federal Alexander Acosta propôs o acordo escondendo a extensão dos crimes e colocando fim a uma investigação do FBI cujo objetivo era avaliar se havia mais vítimas e buscar saber se outras pessoas poderosas haviam participado do esquema. O jornal descreveu a resolução como "o acordo do século', e trouxe depoimentos de mulheres que teriam sido abusadas por Epstein. Acosta, que era secretário de Trabalho do governo Trump, renunciou no mês passado, depois que Epstein foi preso.
Desde 2008, ele estava listado como um infrator sexual em Nova York. Nos Estados Unidos, essa designação vale para a vida.
Mas ele manteve suas propriedades e bens depois da condenação.
Dessa vez, procuradores estavam tentando confiscar sua mansão de Nova York, onde supostos crimes teriam ocorrido. Se tivesse sido condenado, ele poderia ter tido que enfrentar 45 anos de prisão.