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Relatório abre caminho para adesão da Suécia à Otan

13 mai 2022 - 14h41
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Um dia após a primeira-ministra e o presidente da Finlândia apoiarem a entrada do país na aliança militar, um relatório interpartidário sueco conclui que seguir o mesmo caminho teria "efeito dissuasor no norte da Europa"Uma análise extensiva da política de segurança sueca conduzida pelos oito partidos do país representados no Parlamento concluiu que a adesão da Suécia à Otan teria um efeito estabilizador e beneficiaria as nações ao redor do mar Báltico, disse nesta sexta-feira (13/05) a ministra das Relações Exteriores sueca, Ann Linde.

O ministro das Relações Exteriores da Finlândia, Pekka Haavisto (à esquerda), e sua homóloga sueca, Ann Linde, em encontro em fevereiro
O ministro das Relações Exteriores da Finlândia, Pekka Haavisto (à esquerda), e sua homóloga sueca, Ann Linde, em encontro em fevereiro
Foto: DW / Deutsche Welle

"A adesão da Suécia à Otan elevaria o patamar mínimo para conflitos militares e, portanto, teria um efeito preventivo de conflitos no norte da Europa", disse Linde a jornalistas ao apresentar o relatório. O Partido da Esquerda e o Partido Verde se opuseram à conclusão do texto.

O ministro da Defesa, Peter Hultqvist, ponderou que, se a Suécia optar por pedir a adesão à Otan, há risco de uma reação da Rússia, mas ressaltou que, "em tal caso, estamos preparados para lidar com qualquer contra-resposta".

O Parlamento da Suécia deve debater o tema na próxima segunda-feira, e há expectativa que a primeira-ministra sueca, Magdalena Andersson, convoque em seguida uma reunião especial do seu gabinete para decidir sobre um eventual pedido de adesão à Otan.

Na quinta-feira, a Finlândia, vizinha da Suécia, já havia dado um passo em direção à adesão à aliança. A primeira-ministra do país, Sanna Marin, e o presidente, Sauli Niinisto, defenderam a adesão do país à Otan "sem demora". O Parlamento finlandês também deve discutir e votar o tema na segunda-feira.

Turquia se opõe

A entrada de novos países na Otan deve ser aprovada por unanimidade por todos os atuais membros da aliança. Nesta sexta-feira, a Turquia se tornou o primeiro país da Otan a se opor à adesão das duas nações escandinavas.

O presidente turco, Tayyip Erdogan, disse que a Turquia não poderia apoiar a adesão da Suécia e da Finlândia, pois ambos seriam "o lar de muitas organizações terroristas".

A Turquia já fez diversas críticas à Suécia e a outros países do Ocidente pela forma como lidam com organizações consideradas terroristas por Ancara, como os grupos curdos PKK e YPG e os seguidores do líder muçulmano Fethullah Gülen, que mora nos Estados Unidos e é considerado por Erdogan o responsável por uma tentativa fracassada de golpe de Estado de julho de 2016.

Linde, a ministra das Relações Exteriores sueca, disse que, mesmo assim, a Suécia espera obter o apoio unânime dos países do Otan. Ela sublinhou que a nação tem "um apoio muito, muito forte" de países importantes da aliança, com os quais a Turquia tem interesse em manter boas relações.

Nesta sexta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, conversou com a primeira-ministra sueca, Magdalena Andersson, e com o presidente finlandês, Sauli Niinisto, que disse que seu país "agradecia todo o apoio necessário dos Estados Unidos".

Na quinta-feira, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, também prometeu "apoio total" da Alemanha ao pedido da Finlândia para aderira à Otan após ter conversado com Niinisto.

O que isso significa para a Rússia

A adesão da Suécia à Otan seria um grave revés para o presidente russo, Vladimir Putin, que usou a expansão da aliança militar do Ocidente como um pretexto para sua guerra na Ucrânia.

Moscou vem advertindo contra a adesão das duas nações à aliança militar. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, enfatizou que a expansão da Otan para o leste não traria estabilidade à Europa.

Na quinta-feira, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia disse que a adesão da Finlândia à Otan "causaria sérios danos às relações russo-finlandesas, bem como à estabilidade e à segurança no norte da Europa". O Kremlin já havia advertido anteriormente sobre "repercussões militares e políticas" se a Suécia e a Finlândia decidissem se tornar membros da Otan.

Atualmente, a Otan compartilha uma fronteira terrestre de 1.215 quilômetros com a Rússia - formada pelos territórios de Estônia, Lituânia, Letônia, Noruega e Polônia. Se a Finlândia e a Suécia aderirem a aliança, essa fronteira irá mais do que dobrar. Tal expansão deixaria a Rússia cercada pelos países da Otan no Mar Báltico e no Ártico.

O que isso significa para a Otan

Robert Dalsjo, analista da Agência Sueca de Pesquisa de Defesa, ligada ao governo sueco, disse à DW que a adesão dos dois países significaria que a Otan não precisaria mais ter dúvidas sobre como a Suécia e a Finlândia agiriam em uma crise.

"A Otan saberá com certeza qual é a posição da Suécia e da Finlândia, e isso aumentará a segurança e o poder de dissuasão na região do Mar Báltico. Também tornará a defesa dos países bálticos mais fácil para a aliança, porque não haverá mais dúvidas sobre se o espaço aéreo sueco pode ser usado, por exemplo, para enviar tropas ou suprimentos para nações bálticas", disse Dalsjo. "Politicamente, também seria mais um motivo de prestígio."

Harry Nedelcu, especialista em Otan e Diretor da Rasmussen Global, uma consultoria de política internacional, compartilha avaliação semelhante.

"A primeira mensagem dessas nações que se juntam à Otan é política e direcionada à Rússia. Em segundo lugar, para a Otan isso também é sobre as capacidades genuínas que a Finlândia e a Suécia estariam trazendo para a mesa. Enquanto outros países da Europa diminuíram suas forças militares depois da Guerra Fria, a Finlândia e a Suécia, por outro lado, vêm reforçando sua capacidade militar, o que pode ser um ganho para a aliança", afirmou.

O que motivou a mudança de postura

Após a desintegração da União Soviética, em 1991, tanto a Finlândia como a Suécia aproximaram-se da União Europeia e se tornaram membros do bloco em 1995. No entanto, ambas as nações continuaram se mantendo militarmente neutras, evitando se juntar à Otan.

A Suécia não faz parte de uma aliança militar há mais de 200 anos e também manteve a neutralidade durante a Segunda Guerra Mundial. A Finlândia, por outro lado, aderiu à neutralidade após ser derrotada pela União Soviética durante a Segunda Guerra.

Mas a guerra da Rússia contra a Ucrânia causou abalos nos dois países e desencadeou novas discussões sobre o futuro de suas políticas de segurança. "Para os finlandeses, a política externa sempre foi sobre levar em conta que temos uma longa fronteira com a Rússia, uma combinação de realismo e idealismo", disse à DW o ex-primeiro-ministro da Finlândia Alexander Stubb.

Mas ele destaca como a guerra na Rússia resultou em uma mudança de postura no país: "Algumas semanas antes do início da guerra, 50% dos finlandeses eram contra a adesão à Otan, e 20% eram a favor. Da noite para o dia isso mudou para 50% a favor e 20% contra." Agora que a Finlândia anunciou sua intenção de aderir à aliança, Stubb avalia que esse apoio chegará a 80%.

Para a Suécia, a possibilidade de ingressar na aliança é também uma mudança de paradigma. "A Otan nunca viu um potencial candidato menos entusiasmado do que a Suécia, que atualmente é liderada por um governo social-democrata. Eles [suecos] sabem que, se a Finlândia se candidatar, eles também terão que fazer o mesmo, porque, do contrário, a Suécia ficará sozinha fora da Otan e terá que gastar muito mais com defesa", avaliou Elisabeth Braw, do think tank American Enterprise Institute (AEI), em entrevista à DW.

O ex-premiê Stubb acrescenta que, diante da mudança de cenário, tanto a Finlândia quanto a Suécia são capazes de tomar decisões rápidas.

"A Finlândia fez isso ao longo de sua história. A Suécia não teve a necessidade de fazer isso. Mas agora, quando eles também enfrentam uma Rússia agressiva, revisionista, imperialista, totalitária e autoritária, eles estão concluindo que a adesão à Otan é o caminho a seguir", disse.

bl (AP, Reuters, dpa, DW)

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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