Rendição negada e mortes em Kiev: o 26º dia de guerra na Ucrânia
Ataque a uma área residencial no noroeste de Kiev deixou ao menos oito pessoas mortas e um centro comercial completamente destruído. Ultimato russo para rendição em Mariupol foi rechaçado pelos ucranianos.O 26º dia de guerra na Ucrânia foi marcado pela rejeição do país de depor as armas e, assim, aceitar uma rendição na cidade de Mariupol, no sudeste do país, que está sitiada pela Rússia. Também nesta segunda-feira, um ataque em uma área residencial da capital Kiev deixou ao menos oito mortos e um centro comercial completamente destruído.
A proibição das redes sociais Facebook e Instagram pela Rússia - que as classificou como "extremistas" - e a confirmação da morte de um sobrevivente de campos de concentração da Segunda Guerra Mundial também foram destaque.
O bombardeio russo ao centro comercial ocorreu na região noroeste da capital Kiev, no bairro de Podilskyi. Autoridades ucranianas afirmaram que ao menos oito pessoas morreram devido ao ataque.
O prédio tinha 10 andares e ficou completamente destruído. Nos arredores do edifício, o rastro de destruição era visível, com veículos, que estavam no estacionamento ou nas proximidades, igualmente destruídos.
No Twitter, a deputada ucraniana Lesia Vasylenko postou um vídeo no qual é possível observar a destruição causada pelo bombardeio.
Em Zaporíjia, também no sudeste da Ucrânia, o governador acusou as tropas russas de atingirem um comboio que transportava civis para fora da cidade. Quatro crianças teriam ficado feridas.
Em Kherson, no sul do país, autoridades militares ucranianas disseram que tropas russas atacaram manifestantes antiocupação. Tiros e explosivos teriam sido disparados contra as pessoas que participavam do protesto.
Em Odessa, no sudoeste da Ucrânia, as autoridades reportaram ataques a edifícios residenciais localizados na periferia da cidade. Os ataques não teriam deixado mortos ou feridos, mas provocado incêndios nos prédios.
Rendição rejeitada
Um ultimato feito pela Rússia para que os ucranianos depusessem as armas e se rendessem na cidade de Mariupol, no sul do país, foi rejeitado pelo governo da Ucrânia nesta segunda-feira.
Em troca, a Rússia informou que se comprometeria a abrir corredores seguros para que soldados e civis ucranianos pudessem deixar a cidade, que está sitiada pelo exército russo e sofre uma catástrofe humanitária, com falta de mantimentos, água e energia elétrica há vários dias.
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, enfatizou que o país não vai atender a nenhum ultimato da Rússia quanto a possíveis rendições em diferentes cidades. Já no fim do dia, Zelenski declarou que os ucranianos precisam aprovar qualquer "compromisso" em relação às conversações com a Rússia.
A vice-primeira-ministra da Ucrânia, Irina Vereshuchuk, também reforçou a recusa à rendição.
"Não se pode falar em rendição, deposição de armas. Já informamos o lado russo sobre isso. Eu escrevi: em vez de perderem tempo em oito páginas de cartas, abram o corredor", ressaltou, em declarações ao veículo ucraniano Ukrainska Pravda, citadas pela agência de notícias Associated Press
Neste domingo, a Rússia havia estabelecido um prazo até esta segunda-feira para que as tropas ucranianas se retirassem de Mariupol, uma das mais castigadas por bombardeios russos e que, em grande parte, já está destruída.
Morre sobrevivente de campos de concentração
Sobrevivente de quatro campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, Boris Romantchenko, de 96 anos, foi morto na última sexta-feira em um bombardeio russo contra edifícios residenciais em Kharkiv, no leste da Ucrânia.
Romantchenko estava em seu apartamento quando o prédio foi atingido. Sua morte foi divulgada nesta segunda-feira por Jens-Christian Wagner, diretor da fundação que administra os memoriais dos campos de concentração de Buchenwald e Mittelbau-Dora, que disse ter sido informado por parentes da vítima.
Romantchenko havia sobrevivido aos campos de concentração de Buchenwald, Peenemünde e Mittelbau-Dora, no estado alemão da Turíngia, e de Bergen-Belsen, onde morreu Anne Frank, no estado alemão da Baixa Saxônia. Ele era vice-presidente do comitê internacional Buchenwald-Dora e, desde a década de 90, participava regularmente de eventos no local onde ficava o campo de Buchenwald, perto de Weimar.
Rússia proíbe Facebook e Instagram
Um tribunal de Moscou decidiu banir, nesta segunda-feira, as redes sociais Facebook e Instagram, acusando a empresa Meta, controladora de ambas as redes, de "organização extremista". A decisão, no entanto, não se estende ao WhatsApp, que pertence à mesma companhia.
Em um comunicado, o Tribunal Distrital de Tverskoi, na capital da Rússia, informou que acatou uma ação movida por promotores estatais russos para que as duas plataformas fossem banidas em todo o território nacional por "realizar atividades extremistas", após autoridades acusarem a Meta de tolerar a "russofobia" em meio ao conflito na Ucrânia.
A medida faz parte dos esforços de Moscou em reprimir as mídias sociais durante a invasão russa à Ucrânia. O Instagram e o Facebook já estavam proibidos na Rússia, assim como o Twitter. Segundo a corte, o WhatsApp não será banido por não se tratar de uma plataforma pública para a divulgação de informações.
Encontro de líderes ocidentais
Nesta segunda-feira, representantes de países da União Europeia discutiram em Bruxelas possíveis novas sanções e também deram sinal verde para dobrar o pacote de ajuda financeira à Ucrânia para a compra de armamentos. O novo valor do pacote seria de 1 bilhão de euros.
Uma decisão concreta em relação a uma nova rodada de sanções, no entanto, não ocorreu, uma vez que há divergências entre as nações europeias, representadas nesta segunda por seus ministros do Exterior e da Defesa.
Alguns países, como os bálticos e a Irlanda, pressionam por sanções contra as exportações de petróleo da Rússia. Já a Alemanha e outras nações que dependem de combustíveis fósseis russos, têm se mostrado relutantes em relação a sanções contra esse setor.
O debate na UE sobre novas sanções à Rússia ocorre em meio a contínuos bombardeios russos e à situação particularmente grave em Mariupol, no sudeste da Ucrânia. Sitiada por forças russas, a cidade portuária vive uma crise humanitária, com falta de mantimentos, água, energia e aquecimento.
"O que está acontecendo neste momento em Mariupol é um enorme crime de guerra, onde se destrói tudo e se bombardeia tudo, matando todos", disse Borrell, que também acusou a Rússia de pressionar o máximo de ucranianos possível a fugir do país.
"Estou convencido de que Putin está usando os refugiados como instrumento, como arma, enviando o máximo que pode [para países europeus]", disse Borrell. "Eles [os russos] não destruíram a infraestrutura de transportes, eles só destruíram as cidades para aterrorizar os civis e fazer com que eles fujam."
Até o momento, a ONU estima que mais de 3 milhões milhões de pessoas já deixaram a Ucrânia, e 13 milhões precisam de ajuda humanitária no país. A maioria, mais de 2 milhões, fugiu em direção à Polônia.
gb/lf (DW, ots)