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Rússia abre corredores e Ucrânia retira civis de 5 cidades

Vice-premiê ucraniana, entretanto, alega ter recebido informações que apontam que a Rússia quer "atrapalhar" o corredor humanitário de Sumy

8 mar 2022 - 09h04
(atualizado às 09h04)
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Refugiados atravessam uma ponte destruída ao tentar deixar a cidade de Irpin
Refugiados atravessam uma ponte destruída ao tentar deixar a cidade de Irpin
Foto: Jedrzej Nowicki/Agencja Wyborcza

A Rússia abriu corredores humanitários para que as pessoas possam ser retiradas de Kiev e de outras quatro cidades ucranianas: Cherhihiv, Kharkiv, Mariupol e Sumi, segundo a agência de notícias Interfax, citando o Ministério da Defesa russo nesta terça-feira, 8.

A Ucrânia começou a retirar civis da cidade de Sumi, no nordeste; e da cidade de Irpin, perto da capital Kiev, nesta terça-feira, disseram autoridades ucranianas.

O local, perto da fronteira com a Rússia, tem sido palco de violentos combates há vários dias. Pelo menos nove pessoas, incluindo duas crianças, foram mortas em um bombardeio em Sumi na noite desta segunda-feira, 7, segundo serviços de emergência ucranianos.

As retiradas de moradores começaram depois que autoridades russas e ucranianas concordaram em estabelecer "corredores humanitários" para permitir que civis saíssem de algumas cidades sitiadas pelas forças russas.

O Ministério da Defesa acrescentou que as forças russas na Ucrânia introduziram um "regime silencioso" desde o início desta manhã (madrugada de terça no Brasil), informou a Interfax.

Os civis estão encurralados pelos combates desde que as tropas russas invadiram a Ucrânia, em 24 de fevereiro.

Muitos já conseguiram escapar nesse período - pelo menos 2 milhões de pessoas - no que as Nações Unidas descreveram como a crise de refugiados que mais cresce desde a 2ª Guerra. A grande maioria dos que correm para a segurança, de acordo com a ONU, são mulheres e crianças.

"Já começamos a retirada de civis de Sumi para Poltava (no centro da Ucrânia), incluindo estudantes estrangeiros", disse o Ministério das Relações Exteriores, em um tuíte. "Pedimos à Rússia que concorde com outros corredores humanitários na Ucrânia".

Denúncias de violações

A vice-premiê ucraniana, Iryna Verechtchouk, disse ter recebido "informações" que apontam que a Rússia quer "atrapalhar" o corredor humanitário de Sumy e forçar as pessoas a percorrer um "itinerário não concordado e perigoso". Antes da trégua, um ataque a um bairro residencial da cidade deixou pelo menos 21 mortos, incluindo duas crianças.

Além disso, o Ministério da Defesa da Ucrânia acusou a Rússia de impedir a evacuação em Mariupol. "O inimigo lançou um ataque mirando exatamente o corredor humanitário. Eles não deixam crianças, mulheres e idosos saírem da cidade", disse a pasta.

Por sua vez, o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, declarou que Moscou mantém "300 mil civis reféns em Mariupol e bloqueia a evacuação humanitária, apesar de um acordo com a mediação do CICV [Comitê Internacional da Cruz Vermelha]".

Crise de refugiados da Ucrânia

Após a primeira onda de refugiados da Ucrânia, é provável que haja uma segunda onda composta por refugiados mais vulneráveis, disse o chefe da agência de refugiados da ONU nesta terça-feira.

"Se a guerra continuar, começaremos a ver pessoas sem recursos e sem conexões", disse o chefe do ACNUR, Filippo Grandi, em entrevista coletiva.

"Essa será uma situação mais complexa de gerenciar para os países europeus daqui para frente, e será necessário haver ainda mais solidariedade de todos na Europa e além", disse ele.

Reunião entre Rússia e Ucrânia

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, e o homólogo ucraniano, Dmitro Kuleba, concordaram em se reunir em um fórum no sul da Turquia na quinta-feira, 10, no que pode ser a primeira conversa entre os chefes das diplomacias dos dois países desde o começo da invasão russa à Ucrânia, em 24 de fevereiro.

Mevlut Cavusoglu, ministro das Relações Exteriores da Turquia, fez o anúncio na segunda-feira, 7, e disse que participaria da reunião na cidade turística de Antália.

O plano também foi confirmado pelo Ministério das Relações Exteriores da Rússia e pelo ministro ucraniano, que declarou nesta segunda que se Lavrov estava pronto para "uma conversa séria e substantiva", ele também estaria.

A Turquia, membro da Otan, que compartilha uma fronteira marítima com a Rússia e a Ucrânia no Mar Negro, estava oferecendo uma mediação entre os lados. Ancara tem boas relações com Moscou e Kiev, e ao mesmo tempo que chamou a ação militar da Rússia de inaceitável, opôs-se às sanções contra o país.

Cavusoglu disse que em uma ligação com o presidente russo, Vladimir Putin, no domingo, o presidente Recep Tayyip Erdogan repetiu a oferta da Turquia para sediar a reunião, o que foi aceito por Lavrov mais tarde.

"Esperamos especialmente que este encontro seja um ponto de virada e um passo importante para a paz e a estabilidade", disse ele, acrescentando que ambos os ministros pediram para ele participar das negociações.

O anúncio veio após dois dias de fracassadas tentativas de estabelecer um cessar-fogo para a criação de corredores humanitários para a retirada de civis de Mariupol, onde centenas de milhares de pessoas estão presas sem comida e água, sob bombardeio implacável e incapaz de retirar seus feridos em meio ao cerco das tropas russas.

Ao estabelecer relações estreitas com a Rússia em matéria de defesa, comércio e energia, recebendo milhões de turistas russos todos os anos, a Turquia também vendeu drones para a Ucrânia, irritando Moscou. Ancara também se opõe às políticas russas na Síria e na Líbia, e também se opôs à anexação da Crimeia da Ucrânia pela Rússia em 2014.

'Fim da guerra'

Representantes dos governos russo e ucraniano reunidos em Belarus concluíram a terceira rodada de negociações nesta segunda-feira, sem alcançar avanços significativos.

De acordo com o negociador ucraniano Mikhailo Podoliak, as conversas tiveram pequenos avanços na melhoria da logística dos corredores humanitários. Houve discusões sobre um cessar-fogo e garantias de segurança para a retirada de civis, mas ainda não há resultados que melhorem significativamente a situação.

Apesar disso, um aceno do primeiro escalão do governo russo sinalizou com a possibilidade de um término imediato para a invasão da Ucrânia.

O principal porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, declarou que a Rússia está pronta para interromper as operações militares "em um momento" se Kiev cumprir uma lista de condições.

As exigências incluem o fim das operações militares do país, o reconhecimento da Crimeia e das províncias de Donetsk e Luhansk como território russo e uma alteração em nível constitucional para garantir que a Ucrânia mantenha uma neutralidade entre Moscou e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), comprometendo-se a não aderir à aliança.

Foi a declaração russa mais explícita até agora dos termos que quer impor à Ucrânia para interromper a invasão, que já dura 13 dias.

* Com informações da Reuters, Ansa, AFP e AP

Estadão
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