Rússia faz exercícios militares antes de receber Bolsonaro
Delegação brasileira deve desembarcar no país no dia 14, em meio à tensão com a Ucrânia
A Rússia deu início nesta quinta-feira, 10, a uma série de exercícios militares que serão realizados, em conjunto com a vizinha Belarus, durante dez dias em meio à tensão com a Ucrânia. Nesse período, a delegação brasileira do presidente Jair Bolsonaro (PL) deve desembarcar no país na próxima semana, no dia 14 de fevereiro.
Na quarta-feira, 9, o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) descartou que a viagem do presidente Jair Bolsonaro à Rússia possa trazer problemas diplomáticos para o Brasil. Em meio às tensões que têm o potencial de desembocar em uma guerra, o chefe do Executivo foi pressionado por ministros e diplomatas a desistir de viajar a Moscou, mas não foi convencido.
"Não vejo que haja prejuízo ir ou não ir [à Rússia]. Brasil não está indo lá dar apoio a intervenção, mas para intensificar relações. É momento de aumentar relações econômicas e comerciais", declarou Mourão à CNN Brasil.
Mourão afirmou ainda não acreditar que as divergências entre Moscou e Kiev terminem em conflito armado, mas que serão resolvidas dentro do campo diplomático.
Bolsonaro deve se encontrar com o presidente russo Vladimir Putin no dia 16. Depois, seguirá para Budapeste para agenda com o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, considerado um líder nacionalista de extrema-direita.
Exercícios militares
Chamado de Union Resolve 2022, os exercícios vão ser concentrados na "supressão e na reação a agressões externas" e devem envolver cerca de 30 mil soldados russos. Para o ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, endossando o coro do que foi dito quando os treinamentos foram anunciados, a ação entre os dois países "nos deixa pensar que esse é um gesto de grande violência e isso nos preocupou".
Em entrevista às agências de notícia do país, o ministro das Relações Externas, Sergei Lavrov, afirmou que os ultimatos e as ameaças dos ocidentais contra seu país "não levam a nada" e que "ataques ideológicos não vão nos levar a lugar nenhum".
A declaração foi dada por Lavrov no início do seu encontro com sua homóloga britânica, Liz Truss, e ressaltou que "muitos dos nossos colegas ocidentais têm uma paixão por essa forma de comunicação", em uma clara indireta aos Estados Unidos.
"Naturalmente, podemos normalizar as relações por meio do diálogo e do respeito recíproco, um diálogo igualitário e que entre nos interesses legais comuns e sobre a busca de soluções reciprocamente satisfatórias", acrescentou o russo.
Além do encontro de alto nível com a Rússia, os britânicos tiveram uma reunião entre o premiê Boris Johnson e o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, para debater a crise ucraniana.
Durante a coletiva de imprensa, Johnson afirmou que seu governo não exclui o envio de tropas e armas para a região em caso de agressão russa. Alguns países aliados da Otan já iniciaram esse envio - como os EUA -, mas outros ainda apostam na solução diplomática, como a Alemanha.
"Se mantivermos a nossa unidade, com uma mistura forte entre dissuasão e diplomacia, podemos encontrar um caminho de saída da crise, mas o momento é muito tenso. Eu não acredito que o presidente Vladimir Putin já tenha tomado a decisão de proceder com a guerra, mas isso não quer dizer que qualquer coisa desastrosa aconteça logo. A nossa Inteligência pinta um quadro fosco e nos próximos dias vamos enfrentar a passagem mais perigosa - e precisamos fazer isso bem", afirmou o primeiro-ministro.
Já Stoltenberg afirmou que enviou uma carta formal para Lavrov convidando a Rússia para "novas negociações com o Conselho da Otan" para que possa ser "encontrada uma solução pacífica" para a crise ucraniana.
Ameaças
A Rússia deve escolher entre uma solução diplomática para a crise sobre a Ucrânia ou enfrentar sanções econômicas do Ocidente e uma maior presença das forças da aliança militar ocidental Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) nos países mais ao leste do bloco, disse o secretário-geral da Otan nesta quinta-feira.
"A Rússia tem uma escolha: eles podem escolher uma solução diplomática --e nós estamos prontos para sentar-- mas se eles escolherem o confronto, pagarão um preço mais alto", disse Jens Stoltenberg.
"Haverá sanções econômicas. Haverá um aumento da presença militar da Otan na parte oriental da aliança, e o Reino Unido é realmente uma parte importante disso", disse ele em uma entrevista coletiva conjunta com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, em Bruxelas.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, afirmou que seu país começou a "convidar" que os diplomatas e funcionários não essenciais da embaixada em Kiev, na Ucrânia, deixassem "temporariamente" o local. Em entrevista à mídia russa, Lavrov ainda criticou o encontro que teve com sua homólogo britânica, Liz Truss. "Francamente, estou decepcionado com o fato que entre nós está em andamento uma conversa entre um mudo e um surdo. Parece que nos escutamos, mas não nos ouvimos", acrescentou.
* Com informações da Ansa, Reuters e Estadão Conteúdo