'Salvem os reféns custe o que custar': o apelo de israelense solto pelo Hamas
Um refém israelense libertado de Gaza há três meses acusa o mundo de esquecer daqueles que permanecem reféns do Hamas e pede que o governo israelense faça o que for preciso para trazê-los para casa.
Um refém israelense libertado de Gaza há três meses acusa o mundo de esquecer daqueles que permanecem reféns do Hamas e pede que o governo israelense faça o que for preciso para trazê-los para casa.
Itay Regev, 19 anos, contou à BBC que foi mantido em condições "horríveis" por captores "muito, muito cruéis" e que não achava que sairia vivo.
Ele participava do festival de música Nova com a irmã e um amigo quando foi sequestrado, no dia 7 de outubro.
Novas negociações para um cessar-fogo e troca de reféns acontecem há semanas.
Mas ainda não há acordo, com pontos de discórdia reportados entre as partes, como a exigência feita pelo Hamas de que haja um cessar-fogo permanente e a retirada das tropas israelenses de Gaza, que o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu classificou como "delirante".
No entanto, Itay - que foi libertado junto com a irmã, Maya, e outros 103 reféns em troca de cerca de 240 prisioneiros palestinos durante uma breve trégua em novembro - tem clareza sobre o que precisa acontecer.
"Acho que devemos fazer tudo o que pudermos para tirá-los de lá, custe o que custar... É a vida das pessoas", disse ele à BBC em Londres em sua primeira entrevista para o Reino Unido.
"Tenho certeza de que se alguém tivesse seu filho sequestrado, eles realmente não se importariam com o preço que precisava ser pago. Precisamos devolver os reféns a qualquer custo."
Cerca de 130 reféns, incluindo o amigo de Itay, Omer Shem Tov, ainda são mantidos em Gaza. Autoridades israelenses já disseram acreditar que cerca de 30 dos reféns ainda mantidos em Gaza estão mortos.
Itay está em Londres para ser a voz dos reféns junto aos deputados britânicos - ele disse que estava lá para "gritar os gritos de Gaza" - e quer que a comunidade internacional faça mais para garantir a libertação deles.
"Os reféns estão lá há cinco meses. A resposta é, inequivocamente, que não, eles não estão fazendo o suficiente", diz Itay.
"Cinco meses sem ver a luz do sol e você não sabe o que está acontecendo com sua família, cinco meses em condições horríveis e com fome... Eles têm que ser retirados de lá o mais rápido possível. Eles têm a sensação horrível de não saber qual será o destino deles de um segundo para o outro."
Descrevendo seus 54 dias de cativeiro, Itay disse que teve que aceitar que poderia ser morto.
"Estávamos com muita, muita fome. Eu não tomei banho por 54 dias. Meus captores eram muito, muito cruéis. Eles não se importavam. Eu tinha feridas nas pernas, grandes buracos nas pernas.
"E lá você vivia com uma sensação horrível de medo. Cada segundo que você vive com esse sentimento é uma sensação terrível. Você realmente não sabe se vai acordar de manhã, ou em um minuto, ou se um míssil vai cair sobre você, se eles vão entrar com um Kalashnikov e começar a disparar contra a gente. As condições são muito, muito difíceis."
A guerra começou quando homens armados do Hamas atacaram o sul de Israel em 7 de outubro, matando cerca de 1.200 pessoas e levando 253 reféns. Mais de 31.200 pessoas já foram mortas em Gaza desde então, segundo o ministério da Saúde, administrado pelo Hamas.
O Hamas invadiu o local onde acontecia o festival de música Nova, que era próximo da cerca do perímetro Israel-Gaza.
Mais de 360 jovens que participavam do festival foram baleados, espancados e queimados até a morte. Outros 40 foram feitos reféns, incluindo Itay.
Ele lembra de ouvir foguetes e tiros no momento em que os homens armados cercaram o festival, seguidos de gritos.
"Estávamos um carro tentando escapar do lugar e, depois de cinco minutos, encontramos uma van de terroristas disparando bala contra todos os veículos sem qualquer misericórdia. Levei um tiro na perna. Minha irmã também levou um tiro na perna", disse ele.
"E os terroristas saíram da van. Eles me puxaram para fora, amarraram minhas mãos e começaram a dirigir para Gaza."
Ele disse que achava que seria assassinado após ser levado, com combatentes do Hamas fazendo gestos de cortar a garganta para ele.
"Eu vi minha irmã Maya ferida e chorando. Naquele dia, Maya também se despediu de mim e pediu que, se eu saísse vivo, dissesse aos nossos pais que ela os amava Esse é um dia que nunca vou esquecer, pelo resto da minha vida."
Ele foi inicialmente levado para uma casa com uma entrada de túnel dentro e, depois, ele acredita ter ido para um hospital.
"Entramos em Gaza e os terroristas começaram a gritar, gritar e comemorar. Era como uma grande festa. Eles nos trouxeram para dentro da casa e no meio daquela casa havia um duto. Eles nos fizeram entrar lá."
Ele disse que foi levado para um hospital onde um médico "muito, muito ansioso" e vários combatentes do Hamas estavam presentes. O médico tirou a bala da perna dele sem que ele recebesse qualquer anestésico ou analgésico, disse.
"Eles colocaram o fórceps na minha perna e puxaram a bala sem anestésicos. Eles me disseram para ficar quieto porque se eu não ficasse quieto, eles me matariam. Em todo esse tempo, houve mais abuso, tapas no rosto, cuspidas."
Ele foi separado de Maya, que também recebeu tratamento médico. O pé dela foi recolocado no lugar em uma cirurgia, mas de lado, em um ângulo não natural.
Eles ainda conseguiam se comunicar, no entanto. O pedido de Maya para ver o irmão foi recusado pelos captores, mas eles levaram a ele um bilhete dela. Itay escreveu de volta e assim eles se comunicaram durante o período em que foram mantidos reféns.
Maya, que não conseguia andar quando foi libertada, passa agora por uma extensa reabilitação na perna.
Itay, que fez 19 anos na semana passada, está feliz por ter sua liberdade, mas sofre com a situação dos outros reféns, como seu amigo Omer, ainda mantido com o Hamas.
"Por que Omer ainda está lá e eu estou aqui? Às vezes me sinto mal por isso. Eu faria qualquer coisa para trazê-lo de volta", disse ele.
"Eu estava lá com ele e sei exatamente como ele está se sentindo e quero gritar por ele porque ele não pode. Ele está impossibilitado."