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Sem concessões, militares e islamitas pressionam civis egípcios

Repórter da BBC relata como os civis egípcios estão sob pressão tanto pelas ofensivas do governo quando pelos islamitas derrubados do poder

17 ago 2013 - 21h10
(atualizado às 21h45)
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<p>Objetos do período faraônico são vistos no chão e em vidros quebrados dentro de museu de antiguidades na localidade de Minya, no Egito</p>
Objetos do período faraônico são vistos no chão e em vidros quebrados dentro de museu de antiguidades na localidade de Minya, no Egito
Foto: AP

Forças de segurança do Egito dizem ter esvaziado, neste sábado, uma mesquita no Cairo que abrigava simpatizantes da Irmandade Muçulmana, em mais um episódio de violência, trocas de tiros e mortes na atual crise política do país.

Os protestos contra a deposição do presidente islamita Mohammed Morsi têm resultado em confrontos sangrentos - na última quarta-feira, o Egito contabilizou ao menos 638 mortos, e outras 173 pessoas morreram em enfrentamentos na última sexta-feira.

Em meio à polarização entre quem apoia a Irmandade Muçulmana e os que aplaudem as Forças Armadas, a enviada especial da BBC ao Cairo, Mishal Husain, relata como os civis egípcios estão sob pressão tanto pelas ofensivas do governo militar quando pelos islamitas derrubados do poder:

"A partir do momento em que a Irmandade Muçulmana anunciou seus planos para um 'dia de ira', na sexta-feira, em resposta à repressão sofrida nas ruas dois dias antes, estava preparado o cenário para possíveis cenas de violência.

Na praça Ramsés, assim que as preces de sexta-feira terminaram, as ruas foram bloqueadas pelo Exército. Entre os manifestantes, começaram os gritos de guerra: "O Ministério do Interior é (formado por) ladrões"; "Se Sissi (general que comanda as Forças Armadas) sair, Morsi vai voltar".

O sobrevoo de um helicóptero militar enraiveceu a multidão ao redor da reportagem da BBC, e eles começaram a gritar e a mostrar a sola de seus sapatos aos militares, em sinal de desprezo.

Ao longo do dia, ficou evidente o esforço das autoridades em impedir que novos acampamentos de protestos fossem estabelecidos. De várias partes do Cairo vieram relatos de confrontos e de manifestantes sendo impedidos de se aproximar da praça Ramsés.

Polarização

A batalha pelo poder no Egito envolve dois lados pouco abertos a concessões, e as atitudes polarizadas do Exército e da Irmandade Muçulmana dominam o noticiário. Mas há muitos egípcios que acreditam em um meio-termo e que não podem ser esquecidos - egípcios que tentam levar seus negócios adiante, ir ao trabalho ou simplesmente existir em um ambiente de grande incerteza.

Lembro-me de um homem que pediu ajuda à reportagem da BBC nos arredores da mesquita Rabaa al-Adawiya. Ele era dono de uma floricultura em frente à entrada da mesquita, que hoje está destroçada. O homem não queria aparecer na TV, mas sim pedir conselhos: com quem ele deveria falar por ter perdido sua propriedade e seu sustento?

Lembro-me de outro homem, na ponte que leva à praça Ramsés, que disse que não era membro da Irmandade Muçulmana, mas estava revoltado com o fato de um presidente eleito do Egito - Morsi - ter sido deposto sem cerimônias.

E lembro-me também das sábias palavras do ator e ativista Khalid Abdalla, estrela de filmes americanos como Zona Verde e Voo United 93, com quem conversei pela primeira vez na noite em que foi derrubado o ex-presidente Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011.

Desde então, Khalid está envolvido com o grupo ativista Mosireen, que documenta abusos ocorridos no Egito. "Estamos vivendo dias de escuridão", disse ele, frustrado com a narrativa de divisão política - em vez da construção de instituições que ele esperava ver no Egito.

Enquanto conversava com Khalid à beira do rio Nilo, um grupo de passantes parou e começou a gritar em nossa direção, perguntando de que lado Khalid estava na atual crise política.

Logo se tornou impossível continuar a entrevista, e Khalid começou um debate acalorado. Alguns dos passantes estavam revoltados - um deles disse que a BBC era tendenciosa.

Por sorte, foi apenas um momento sem violência em um dia que, infelizmente, resultou em mais mortes no Cairo. Mas a emoção e a raiva desse momento são um lembrete de quão rápido as tensões podem escalar em um país envolto em graves turbulências."

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