Separatistas pró-Rússia iniciam "referendos" na Ucrânia
Ocidente diz que não reconhecerá resultado sobre a anexação pela Rússia de territórios ucranianos ocupados por Moscou
Condenada por Kiev e pela comunidade internacional, votação sobre anexação por Moscou ocorre até a próxima semana em regiões parcial ou totalmente ocupadas pela Rússia. Ocidente diz que não reconhecerá resultado. Apesar da oposição de Kiev e da comunidade internacional, começaram nesta sexta-feira (23/09) os chamados "referendos" sobre a anexação pela Rússia de territórios ucranianos ocupados por Moscou. Para Kiev e o Ocidente, trata-se de "uma farsa".
Os parlamentos das autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, no leste da
, reconhecidas pelo Kremlin em 21 de fevereiro, anunciaram o referendo na terça-feira, ao qual se juntaram as regiões de Kherson e Zaporíjia, no sul, parcialmente sob domínio russo. Juntas, as quatro regiões correspondem, mais ou menos, ao tamanho dos territórios de Portugal ou Hungria. A votação seguirá até a próxima terça-feira (27.09.) e tem o apoio da Rússia.
Os insurgentes querem apressar a realização da votação em meio aos êxitos obtidos pela Ucrânia em sua contraofensiva, que vem resultando na retomada de territórios no sul e no leste do país. A controversa votação nas regiões ocupadas, às vésperas de a guerra completar sete meses, passou a ser considerada com mais seriedade pelo presidente russo, Vladimir Putin, após a série de reveses das tropas russas.
A Rússia quer usar os supostos resultados do referendo para justificar a incorporação das áreas ocupadas por separatistas leais ao Kremlin e usa o argumento do "direito do povo à autodeterminação".
O Kremlin justificou a invasão do país vizinho ao reafirmar a necessidade de "libertar" Donetsk e Lugansk, as duas províncias que formam a região do Donbass, onde a maioria da população adota o idioma russo.
"Desde o início da operação dissemos que os povos dos territórios deveriam decidir por si mesmos sobre seus destinos, e a situação atual confirma que eles querem ser os senhores de seus próprios destinos", afirmou o ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov.
O líder separatista Denis Pushilin falou de um dia histórico na "República Popular de Donetsk".
"Este referendo é crucial, é um avanço para uma nova realidade", disse, em um vídeo publicado no Telegram.
Na região de Zaporíjia, a votação ocorre apenas nas partes controladas pelas tropas russas. A própria capital regional é controlada pela Ucrânia. Já a região de Lugansk anunciou que os cidadãos que fugiram para a Rússia também poderiam votar.
Horas após a divulgação dos referendos, Putin anunciou uma mobilização militar parcial, na qual 300 mil reservistas devem ser convocados - o que provocou protestos com mais de 1.400 detidos e tentativas de fuga em massa do país, com voos lotados.
Sem reconhecimento internacional
Nem a Ucrânia nem a comunidade internacional reconhecerão a votação por considerarem os referendos falsos, uma vez que são realizados sem o consentimento da Ucrânia, sob a lei marcial e não de acordo com os princípios democráticos. Além disso, o trabalho livre de observadores internacionais independentes também não foi possível.
Nos novos referendos, a Rússia segue o mesmo modelo adotado na época da anexação da Península da Crimeia, em 2014. Um "referendo" teria resultado em 97% de apoio à separação da Ucrânia, mas a votação jamais foi reconhecida internacionalmente.
A União Europeia (UE) e os Estados Unidos condenaram repetidas vezes a realização dessas votações, que consideram ilegítimas e fraudulentas.
Já o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, afirmou que o "referendo" está em franca violação das leis internacionais.
"Está muito, muito claro que esse referendo encenado não será aceito, uma vez que não é coberto pelas leis internacionais ou pelo entendimento atingido pela comunidade internacional", disse.
Se Moscou anexar formalmente as regiões controladas pelos separatistas, Putin estaria, essencialmente, desafiando os EUA e seus aliados europeus a arriscarem um confronto militar direto com a Rússia, a maior potência nuclear do mundo.
le/rk (Lusa, DPA, AFP, ots)