Símbolo artístico, Itália influencia vida cultural do resto do mundo
Com gastronomia e monumentos, país lidera ranking dos mais influentes
Por Luciana Ribeiro - A influência mundial de um país é geralmente medida por seu poder político, econômico ou militar, mas, para algumas nações, sua capacidade de influência reside na força cultural, na tradição histórica ou no estilo de vida.É o caso da Itália, que, em ranking divulgado recentemente pela consultoria Y&R's BAV e pela Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, aparece como o país que tem a maior influência cultural no restante do mundo.A classificação foi feita por meio de entrevistas com mais de 20 mil pessoas para classificar 80 países de acordo com uma série de critérios, como influência econômica, cidadania, qualidade de vida, empreendedorismo, patrimônio, felicidade, entretenimento, moda e modernidade."A Itália é um país do centro-sul da Europa, cujas fronteiras em forma de bota se estendem até o Mar Mediterrâneo.
As cidades históricas do país, a culinária de renome mundial e a beleza geográfica fazem dele um destino popular para mais de 40 milhões de turistas todos os anos. A nação é o lar do Monte Etna, o vulcão mais ativo da Europa, e abriga dois países dentro de suas fronteiras - o Vaticano e San Marino. A Itália, celebrada por suas tradições culinárias, arte clássica e roupas de grife, está novamente em primeiro lugar", diz o estudo, divulgado pela empresa de mídia U.S. News & World Report.Em entrevista à ANSA, a diretora do Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro, Livia Raponi, disse que a influência cultural do país sempre foi "um ponto de referência", devido a aspectos que vão das obras de Leonardo da Vinci à moda, passando por seus inúmeros monumentos artísticos.Raponi, no entanto, destaca dois aspectos. "O primeiro tem a ver com a história milenar, com as prestigiosas civilizações do passado, como a etrusca, a romana, a grega, a árabe, que contribuíram para a criação de um passado glorioso na Itália, e com os grandes movimentos artísticos e culturais que nasceram e floresceram no país, como o Renascimento e o Barroco", afirmou.Já o segundo fator está ligado a expressões artísticas e culturais mais próximas dos nossos tempos, dos séculos 20 e 21, como o cinema, a moda, o design, a arquitetura e a indústria criativa. "Isso garante que a Itália mantenha seu prestígio, fazendo com que o 'produto italiano' possa definir as tendências não apenas em nível nacional, como também no contexto internacional", ressaltou Raponi à ANSA.Os diversos aspectos culturais difundidos no mundo inteiro incentivam e dão forma ao que se pode chamar de "vivere all'italiana", um estilo de vida baseado em ícones do país europeu.O doutor em artes pela Unesp e professor da Universidade Belas Artes, Márcio Rodrigo, atribui a liderança da Itália à "importância cultural" que o país teve no passado e "ao próprio processo do que é ser ocidental"."A Itália é o país responsável pelo Renascimento, é o berço do catolicismo, uma das religiões mais influentes e com maior número de seguidores no mundo. Além disso, abriga o Estado do Vaticano, e tem toda a questão do que ficou da Roma Antiga, a maior civilização da antiguidade", explicou.Tais características, aliadas à tradição gastronômica, à arte clássica, à arquitetura, à moda e ao estilo de vida, além de boa música e indústria cinematográfica de qualidade, são absorvidas por outras culturas e ajudam a formar a imagem do país no mundo.O país é mundialmente famoso por grifes como Armani, Dolce & Gabbana, Valentino, Versace e Gucci e tem um grande impacto em tudo que diz respeito ao estilo, desde o vestuário até o setor mobiliário. Não à toa, a Itália é sede de eventos como o Salão do Móvel e a Semana de Moda de Milão, as bienais de Arte e Arquitetura e o Festival de Cinema de Veneza.
Cultura e turismo - Segundo Raponi, a política cultural é parte integrante da agenda do Ministério das Relações Exteriores da Itália, que financia 83 institutos de cultura ao redor do mundo, incluindo os do Rio de Janeiro e de São Paulo.A diretora afirmou que existe a preocupação de dialogar "com as universidades, as instituições públicas, os museus, os centros culturais, bem como com o público que estuda italiano ou que é apaixonado pela cultura do país".A influência da Itália também está relacionada ao turismo. Cidades como Roma, Veneza, Florença, Nápoles e Milão são meta de viajantes mundo afora, além de municípios como Verona, Mântua, Ferrara, Siracusa, Palermo e Agrigento.Mas esse poder de atração também tem seus efeitos negativos: diversas cidades italianas estão aprovando medidas para combater o turismo de massa, especialmente em ecossistemas frágeis, como Veneza e as vilas das Cinque Terre, classificadas como Patrimônio da Humanidade pela Unesco - a Itália é o país com mais locais tombados pela entidade, 55."É um fluxo muito grande de turistas que faz com que os moradores de lá se sintam permanentemente invadidos", explicou Márcio Rodrigo, da Universidade Belas Artes. Em Veneza, a Prefeitura implantará uma taxa de entrada para turistas que não pernoitarem na cidade e aumentou as multas para violações como fazer piquenique na rua ou pular nos canais.Veneza ainda vê os navios de cruzeiro como um dos principais símbolos da invasão de turistas, já que desembarcam milhares de pessoas de uma vez no coração de seu centro histórico. Recentemente, dois incidentes transatlânticos reacenderam o debate sobre um projeto para impedir que esses navios passem pela Bacia de San Marco. "O turismo virou um dos grandes serviços do século 21. É preciso ter algum tipo de ordenamento criado pelo governo para não destruir os lugares e sítios arqueológicos, gerando empregos para os cidadãos, mas sem criar transtornos", finalizou Rodrigo. Entretanto a Itália continua sendo um país para ver, comer e beber. Lá, é possível apreciar mares de águas cristalinas, 55 patrimônios mundiais da Unesco e cidades de arte, tudo regado a uma rica gastronomia e vinhos celebrados no mundo inteiro.