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Sob pressão, Rússia diz que negociação com Ucrânia avançou

Segundo o ministério de Relações Exteriores da Rússia, os objetivos do país não incluem derrubar o governo ucraniano

9 mar 2022 - 21h12
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O governo da Rússia disse ter visto progresso nas negociações com a Ucrânia,duas semanas depois do início da invasão ao país. Em meio a negociações intermediadas pelos governos de Belarus e da Turquia, os chanceleres Sergei Lavrov e Dmytro Kuleba devem se reunir na quinta-feira, 9, para discutir novos passos para o fim do confronto, depois de o presidente russo, Vladimir Putin, ter mencionado na segunda-feira a neutralidade da Ucrânia frente a Otan e o reconhecimento de províncias pró-Rússia como condições para um acordo. Na terça-feira, 8, O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, deu indícios de que aceitaria negociar essas questões.

As conversas ocorrem em meio ao aumento de volume de sanções contra Moscou. Ontem, os Estados Unidos anunciaram o boicote à compra do petróleo russo. A União Europeia cogita restringir a importação de gás do país. Na semana passada, os aliados ocidentais congelaram os ativos do BC russo em moeda forte, precipitando uma grave crise na economia russa.

Terceira rodada de negociações entre Rússia e Ucrânia nesta segunda-feira, 7
Terceira rodada de negociações entre Rússia e Ucrânia nesta segunda-feira, 7
Foto: Reuters

"Paralelamente à operação militar especial (nome dado pelas autoridades de Moscou à entrada de tropas russas na Ucrânia) também estão acontecendo negociações com a parte ucraniana para acabar o quanto antes com o banho de sangue sem sentido e a resistência das Forças Armadas ucranianas. Alguns progressos foram feitos", afirmou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova.

Ainda de acordo com ela, os objetivos da Rússia não incluem a ocupação da Ucrânia, a destruição de seu Estado ou derrubar o governo atual. Ela reiterou ainda que a ação não tem como alvo a população civil, embora centenas de mortes entre civis já tenham sido reportadas pela ONU.

Apesar de a Rússia já ter dito que não necessariamente pretendia derrubar Zelenski, a declaração do Kremlindestoa das declarações dadas no começo da guerra, deflagrada na madrugada de 24 de fevereiro pelo presidente Vladimir Putin com objetivo declarado de "desnazificar" a Ucrânia, em meio a acusações de que a gestão Zelenski tinha associações com grupos neonazistas. Putin também chamou o líder ucraniano de "drogado". O presidente ucraniano vem afirmando desde o começo do conflito que é o "alvo número 1" e que pode ser morto a qualquer momento.

Zakharova defendeu nesta quarta que a guerra tem saído conforme o planejado, contrariando analistas que apontam que os russos têm enfrentado uma dificuldade maior do que o previsto a princípio.

 

Encontro de chanceleres

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, e seu homólogo ucraniano, Dmitri Kuleba, concordaram em se reunir na próxima quinta-feira, 10, no sul da Turquia. Essas serão as primeiras conversas entre os principais diplomatas desde que a Rússia lançou sua invasão da Ucrânia.

Mevlut Cavusoglu, ministro das Relações Exteriores da Turquia, fez o anúncio na segunda-feira e disse que participaria da reunião na cidade turística de Antália. Maria Zakharova, confirmou a reunião no Telegram. Kuleba havia dito no sábado que estava aberto a conversas com Lavrov, mas apenas se fossem "significativas".

A Turquia, membro da Otan, que compartilha uma fronteira marítima com a Rússia e a Ucrânia no Mar Negro, havia se oferecido para mediar. Ancara tem boas relações com Moscou e Kiev, e classificou a invasão da Rússia como inaceitável, embora se oponha a sanções contra Moscou.

"Esperamos especialmente que esta reunião seja um ponto de virada e um passo importante para a paz e a estabilidade", disse Cavusoglu, acrescentando que ambos os ministros pediram que ele participasse das negociações.

Kuleba garantiu nesta quarta em um vídeo no Facebook que faria de tudo para que as "conversas fossem as mais efetivas possíveis", embora admitisse "expectativas limitadas". "Tudo vai depender das instruções que Lavrov recebeu antes dessas negociações", completou.

No entanto, o clima corre o risco de ficar tenso. O ministro ucraniano recentemente chamou Lavrov de "Ribbentrop contemporâneo" na rede americana CNN, em alusão ao ministro de Adolf Hitler durante a Segunda Guerra Mundial.

Acusação de armas biológicas

Ao mesmo tempo que falou em avanço das negociações, Zakharova acusou a Ucrânia de possuir armas biológicas, uma informação não confirmada por fontes independentes. Ela disse que Moscou tem evidências de um suposto programa dos Estados Unidos que envolvia patógenos mortais, incluindo peste e antraz.

Zakharova disse que o suposto programa foi financiado pelo Pentágono. "Não estamos falando aqui de usos pacíficos ou objetivos científicos."

Um porta-voz presidencial ucraniano disse: "A Ucrânia nega estritamente qualquer alegação". Em resposta a alegações russas anteriores sobre o suposto programa biológico militar na Ucrânia, um porta-voz do Pentágono disse na terça-feira que "esta desinformação russa absurda é patentemente falsa".

Zakharova disse que a Rússia tem documentos mostrando que o Ministério da Saúde ucraniano ordenou a destruição de amostras de peste, cólera, antraz e outros patógenos após 24 de fevereiro. Segundo ela, porém, não está claro se os supostos materiais foram destruídos e perguntou se eles caíram nas mãos de extremistas ou nacionalistas.

"Já podemos concluir que em laboratórios biológicos ucranianos nas proximidades do território de nosso país, o desenvolvimento de componentes de armas biológicas estava sendo realizado", disse ela.

Não foi possível confirmar de forma independente a autenticidade de tais documentos.

A Rússia fez alegações sobre os Estados Unidos trabalharem com laboratórios ucranianos para desenvolver armas biológicas por vários anos, acusações que aumentaram após a pandemia de coronavírus. Ambos os países negaram consistentemente os relatórios.

Novo cessar-fogo

O décimo quarto dia de guerra começou com a promessa de um novo cessar-fogo temporário para permitir a saída de civis por corredores humanitários. As outras tréguas anunciadas até aqui não foram respeitadas, deixando centenas de milhares de pessoas presas em cidades sitiadas, sem acesso a água potável e medicamentos.

A Rússia prometeu respeitar uma trégua das 9h às 21h do horário local (4h às 16h no horário de Brasília) desta quarta-feira. Nesta manhã, a vice-primeira-ministra ucraniana Irina Vereshchuk afirmou que os dois lados do conflito concordaram em respeitar o cessar-fogo.

O anúncio de trégua desta quarta foi semelhante o de terça, que prometia a fuga segura pelas cidades de Kiev, Kharkiv, Chernihiv, Sumi e Mariupol. Até agora, no entanto, apenas um corredor funcionou de fato, saindo de Sumi, na terça, quando cerca de 5.000 pessoas deixaram a cidade.

A situação é tensa sobretudo em Mariupol, cidade portuária ao sul totalmente cercada por tropas russas há mais de uma semana, onde a Cruz Vermelha descreve a situação dos civis como "apocalíptica".

Moradores se abrigam nos subsolos para se protegerem dos bombardeios constantes, sem acesso a comida, água, energia ou aquecimento, e sem poder retirar os feridos.

Um cessar-fogo na região já havia falhado no sábado. O governo ucraniano disse que 30 ônibus e oito caminhões de suprimentos foram bombardeados pela Rússia na terça-feira, violando o cessar-fogo, e não conseguiram chegar à região. Moscou culpou Kiev por não manter a trégua.

Nas duas maiores cidades da Ucrânia, Kiev e Kharkiv, a oferta de corredores humanitários do governo russo forçaria os civis a irem para a própria Rússia ou sua aliada Belarus, propostas rejeitadas pelo governo ucraniano.

Mais de 2 milhões de pessoas fugiram da Ucrânia desde que o presidente Vladimir Putin invadiu o país. A guerra rapidamente lançou a Rússia em um isolamento econômico nunca antes visto em uma economia desse porte. Os Estados Unidos proibiram na terça-feira as importações de petróleo russo.

Empresas ocidentais também têm se retirado do mercado russo, como Starbucks, Coca-Cola e Pepsi. A mais simbólica, no entanto, é o McDonald's, que anunciou na terça-feira que estava fechando seus quase 850 restaurantes no país.

Estadão
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