Sobrevivente do Holocausto devolve prêmio alemão por papel da extrema-direita em votação parlamentar
Um sobrevivente do Holocausto de 99 anos de idade disse nesta quinta-feira que devolveria seu prêmio federal de mérito ao Estado alemão em protesto contra uma votação parlamentar na qual o apoio da extrema-direita foi usado pela primeira vez para garantir a maioria.
Os principais conservadores da oposição da Alemanha, cotados para vencer as eleições nacionais em 23 de fevereiro, aprovaram na quarta-feira uma moção no Parlamento pedindo uma drástica repressão à migração com a ajuda dos votos da Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema-direita.
Embora a moção não seja vinculativa, o papel da AfD na aprovação foi simbolicamente importante. Críticos acusaram os conservadores de quebrar um tabu entre os principais partidos contra o trabalho com o AfD.
Albrecht Weinberg disse à Reuters que deve devolver sua condecoração como protesto contra a votação.
Nascido em uma família judia em 1925, Weinberg esteve nos campos de extermínio nazistas de Auschwitz e Bergen-Belsen na época da Segunda Guerra Mundial. Ele foi libertado em 15 de abril de 1945, segundo o site do memorial de Bergen-Belsen, e emigrou para os Estados Unidos após a guerra, mas retornou há 10 anos para viver na Alemanha.
Cerca de seis milhões de judeus foram mortos no Holocausto.
"EXTREMISTA DE DIREITA"
Luigi Toscano, um fotógrafo cujo projeto "Lest We Forget" (para que não esqueçamos) compartilha histórias de sobreviventes do Holocausto, disse que também estava devolvendo sua ordem de mérito ao Estado alemão em protesto contra a votação de quarta-feira.
"Ontem, a CDU (conservadores) traiu nossos valores democráticos com uma resolução e o apoio de um partido que é parcialmente designado como extremista de direita", escreveu Toscano em um post no Instagram, no qual também mencionou a decisão de Weinberg.
A CDU não respondeu imediatamente a um pedido de comentário sobre o assunto.
A AfD, que está sob vigilância do Estado por suspeita de ser extremista de direita e provocou controvérsias no passado por criticar a cultura alemã de lembrar o Holocausto, nega ter qualquer ligação com o nazismo.
A votação de quarta-feira ocorreu horas após os parlamentares alemães realizarem uma sessão especial para comemorar os 80 anos da libertação do campo de extermínio de Auschwitz.
Ao comentar a votação, outra sobrevivente de Auschwitz, Eva Umlauf, de 82 anos, comparou a situação à Alemanha dos anos 1930, antes de os nazistas de Hitler assumirem o poder.
"Todos nós sabemos como os políticos alemães pensavam que podiam cooperar com Hitler e o partido nazista. Mantê-los sob controle", escreveu Umlauf em uma carta aberta ao jornal Sueddeutsche Zeitung.
"E em apenas alguns anos, nossa democracia se tornou uma ditadura. A paz se tornou guerra", escreveu Umlauf, que foi levada para Auschwitz com sua mãe em 1944.
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