Soldados eritreus mataram centenas de civis na Etiópia, diz ONG
Massacres teriam ocorrido na cidade histórica de Axum
Soldados da Eritreia assassinaram "centenas de civis" no estado de Tigré, norte da Etiópia, em um massacre que pode constituir crime contra a humanidade, denunciou a ONG Anistia Internacional nesta sexta-feira (26).
A notícia chega três meses depois da ofensiva movida pelo Exército etíope contra um grupo rebelde nessa região na fronteira com a Eritreia. "As evidências são convincentes e apontam para uma conclusão assustadora", disse o diretor regional da Anistia para o Leste e o Sul da África, Deprose Muchena.
A ONG de defesa dos direitos humanos usou depoimentos de 41 testemunhas e imagens de satélite para reconstituir os eventos na cidade histórica de Axum, cujas ruínas são Patrimônio Mundial da Humanidade da Unesco.
"Tropas etíopes e eritreias conduziram múltiplos crimes de guerra em sua ofensiva para tomar o controle de Axum. Além disso, tropas eritreias mataram sistematicamente centenas de civis a sangue frio, no que parece constituir crimes contra a humanidade", acrescentou Muchena.
Segundo ele, tratam-se de algumas das "piores atrocidades documentadas até hoje nesse conflito". Tigré era governado pela Frente de Libertação do Povo de Tigré (TPLF), que se insurgiu contra o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, vencedor do Nobel da Paz em 2019 por causa do acordo de paz que encerrou uma disputa de décadas com a Eritreia.
Além de questionar Ahmed pelo adiamento das eleições de agosto do ano passado devido à pandemia, a TPLF, que foi dominante na política etíope até a ascensão do atual premiê, em 2018, diz ter sido marginalizada no governo federal e é contra o acordo de paz com a Eritreia.
Tanto Adis Abeba quanto Asmara negam o envolvimento de tropas da Eritreia no conflito. No entanto, segundo testemunhas ouvidas pela Anistia Internacional, militares eritreus promoveram "pilhagem generalizada de propriedades de civis e execuções extrajudiciais".
O auge da violência em Axum, segundo a Anistia, ocorreu após uma milícia pró-TPLF ter atacado uma base militar em 28 de novembro. "Os soldados eritreus vieram à cidade e começaram a matar aleatoriamente", disse um homem de 22 anos.
"Eu vi um monte de gente morta nas ruas", disse outra testemunha, um indivíduo de 21 anos. A Anistia afirma ter coletado o nome de 240 vítimas, mas não pôde verificar o número de mortos de forma independente.
"Moradores estimam que várias centenas de pessoas foram enterradas após o massacre", diz o relatório, que apresenta imagens de satélite de enterros coletivos perto de duas igrejas. A ONG ainda cobrou uma investigação guiada pelas Nações Unidas (ONU) sobre as violações em Axum.