Subfinanciadas, mulheres indígenas ocupam linha de frente da proteção ambiental
Por Anastasia Moloney e Andre Cabette Fabio
CALI, Colômbia (Fundação Thomson Reuters) - As mulheres estão geralmente na linha de frente da crucial proteção da biodiversidade da América Latina, desde a proteção de rios contra a poluição até a manutenção dos garimpeiros ilegais e das empresas petrolíferas longe da Amazônia. Na COP16, que ocorre nesta semana na cidade colombiana de Cali, as mulheres também estão bem representadas por lideranças políticas. A ministra do Meio Ambiente da Colômbia e presidente da COP16, Susana Muhamad, e suas pares do Equador e do Brasil — neste caso Marina Silva — estarão acompanhadas de vice-ministras do Peru, da Colômbia e do Panamá. "Quando as mulheres assumem, as coisas acontecem", disse Valéria Paye, diretora-executiva do Fundo Indígena da Amazônia Brasileira. Segundo novos dados, dos 28,5 bilhões de dólares de ajuda governamental internacional para mulheres e garotas entre 2016 e 2020, somente 1,4% foi destinado a organizações que trabalham com mulheres indígenas, que protegem algumas das regiões com maior biodiversidade no mundo. "As mulheres foram muitas vezes excluídas dos financiamentos por dúvidas sobre sua capacidade e habilidade para gerenciar projetos", afirmou Omaira Bolaños, diretora para a América Latina da Iniciativa para Direitos e Recursos, que produziu o relatório com a Aliança das Mulheres do Sul Global.
"Mesmo sem apoio financeiro, elas têm efetivamente protegido as florestas." De 2019 a 2022, o estudo também descobriu uma queda de 2% no financiamento para Organizações Não-Governamentais que abordam assuntos de gênero, deixando de fora especialmente organizações que se concentram nos direitos de mulheres indígenas e afrodescendentes. A biodiversidade está diminuindo rapidamente, especialmente na América Latina e no Caribe, que viram suas populações selvagens registradas caírem 95% entre 1970 e 2020, segundo relatório recente do WWF. Autoridades presentes em Cali estão próximas de um acordo para aumentar a influência de grupos indígenas nos processos decisórios sobre a biodiversidade. Paye afirmou que a presença permanente de tais grupos na Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica pode ajudar a diminuir lacunas históricas no acesso ao financiamento ambiental.
Mulheres e meninas são desproporcionalmente afetadas por condições meteorológicas extremas provocadas pelo clima, pela degradação ambiental e pela perda de biodiversidade, porque, enquanto cuidadoras e mães, são muitas vezes responsáveis por colocar comida na mesa e buscar água. Paye afirmou que, com a atual estrutura da Organização das Nações Unidas (ONU), "os recursos são praticamente inacessíveis". A maioria dos recursos vai, assim, para "megafundos já estabelecidos", como o Banco Mundial.