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Suspeito planejou ataque do 4 de Julho por semanas e fugiu vestido de mulher, diz polícia dos EUA

O atirador disparou 70 vezes com um fuzil de alta potência comprado legalmente e utilizou 'roupas femininas' para fugir; polícia afirma que ataque foi feito aleatoriamente

5 jul 2022 - 17h53
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Tiroteio deixa pessoas feridas em desfile de 4 de Julho em Chicago, EUA
Tiroteio deixa pessoas feridas em desfile de 4 de Julho em Chicago, EUA
Foto: Reuters

O homem detido pela polícia após a morte de seis pessoas em um desfile de 4 de Julho em Highland Park, no subúrbio de Chicago parecia ter passado semanas planejando o ataque e usava roupas femininas durante sua fuga, disseram autoridades nesta terça-feira, 5. Segundo a polícia, ele disparou mais de 70 vezes contra a multidão.

O porta-voz da polícia do Condado de Lake, Christopher Covelli, disse que o homem havia comprado seu fuzil legalmente na área de Chicago. Ele tinha outro fuzil em seu carro quando foi detido na noite de segunda-feira, cerca de oito horas após o ataque, disse o chefe.

Mais de 30 pessoas ficaram feridas no massacre, que segundo a polícia, parece ter sido aleatório, sem indicação de que as vítimas tenham sido atacadas por causa de raça ou religião.

O ataque aconteceu minutos depois do início de um desfile de 4 de Julho, com músicos e políticos desfilando pela rua, enquanto espectadores perceberam que o barulho de um telhado próximo não era de fogos de artifício, mas um fuzil de alta potência atirando na multidão.

A chacina colocou a polícia em uma ampla caçada ao homem, e forçou os moradores a se abrigarem durante grande parte do dia e levou as cidades vizinhas a cancelarem seus eventos do feriado. Cerca de oito horas depois, a polícia disse ter detido Robert Crimo III, 21 anos, descrito como uma pessoa de interesse. (A polícia havia dito originalmente que Crimo tinha 22 anos, mas corrigiu isso na terça-feira.)

Uma foto aérea feita com um drone mostra uma arquibancada vazia no local de um ataque a tiros em uma festa e desfile de 4 de julho em Highland Park, Illinois, EUA Foto: Tannen Maury/EPA/EFE

Covelli disse que os investigadores estavam revisando vídeos postados online por Crimo, e estão "em discussões" com ele enquanto ele permanece sob custódia policial. "Neste momento, não desenvolvemos um motivo", disse. Crimo ainda não foi acusado formalmente do ataque.

O DNA obtido de do fuzil encontrado no local do ataque desempenhou um "papel vital" na identificação do suspeito, de acordo com Christopher Covelli. O Escritório de Álcool, Tabaco, Armas de fogo e Explosivos conduziu um "rastro rápido" do DNA retirado.

No momento do ataque, Crimo se vestiu com "roupas femininas" para esconder suas tatuagens faciais e outras características potencialmente identificáveis, levou um fuzil de alta potência para a celebração e subiu uma escada de incêndio até o telhado de um prédio próximo, disse a polícia.

Crimo então escapou, largando o fuzil e se misturando com os participantes do desfile em fuga enquanto caminhava para a casa de sua mãe nas proximidades, disse as autoridades. Ele teria emprestado o carro dela e estava dirigindo para o sul quando os policiais o prenderam durante uma batida de trânsito, disse a polícia.

Armas legais

Mais cedo, a prefeita de Highland Park disse que o suspeito obteve sua arma legalmente. Mais tarde, em coletiva de imprensa, a polícia informou que as duas armas encontradas foram obtidas de forma legal na área de Chicago.

Crimo executou seu ataque em um estado que tem algumas das leis de armas mais duras do país. No estado de Illinois é necessário possuir uma autorização e uma verificação de antecedentes para comprar armas de fogo. A compra é vetada para menores de 21 anos.

As autoridades podem revogar a licença de qualquer pessoa condenada por agressão doméstica e uma série de outros crimes graves. Illinois ocupa o 8º no país em severidade na lei de armas, de acordo com o Giffords Law Center, um instituto que defende o controle de armas.

O ataque desta semana reascende o debate em torno do controle de armas nos Estados Unidos. Semanas após um ataque a tiros em uma escola de Uvalde no Texas e em um supermercado de Buffalo, em Nova York que motivaram mais pedidos de controle de armas, este ataque em Highland Park inflama os defensores de leis menos rígidas já que o sistema de verificação de Illinois, em sua argumentação, não teria impedido o ataque.

Robert Crimo III foi considerado uma "pessoa de interesse" e está detido após o ataque a tiros em Highland Park Foto: Cidade de Highland Park via Reuters

"O fato de alguém ter cometido uma atrocidade apesar de ter passado por todos os sistemas de verificação não indica que o sistema esteja falhando", explicou ao Estadão Trevor Burrus, pesquisador do Centro de Estudos Constitucionais Robert A. Levy do Cato Institute, um think tank com sede em Washington. "Essas coisas vão acontecer de uma forma ou de outra, acabamos de ver acontecer na Dinamarca".

"Só podemos dizer que o sistema falhou se o atirador tinha proibição em obter uma arma, mas de alguma forma eles lhe venderam, mais ou menos como ocorreu em Parkland onde o atirador havia sido denunciado algumas vezes como alguém que poderia fazer algo assim e os policiais não fizeram nada", exemplifica.

A polícia ainda está divulgando informações sobre o atirador, mas não apontou indícios de que ele possuía restrições de possuir as armas que tinha. Não se sabe, no entanto, se ele preenchia todos os requisitos exigidos para obter um FOID (o cartão de identificação de proprietários de armas de fogo exigido pelo estado de Illinois).

A imprensa americana conseguiu encontrar vídeos e letras de músicas - o atirador era rapper - com conteúdo que foi considerado violento. Mas não há informações se o conteúdo dava indicações de que ele cometeria o crime. As plataformas online retiraram os conteúdos do ar logo após o ataque.

Mas somente os vídeos não seriam motivo suficiente para impedir a venda a Crimo, segundo a lesgislação. "Eu posso comprar uma arma legalmente, não tenho nenhum motivo para não poder comprar uma arma", afirma Burrus. "Mas se eles [as autoridades] simplesmente decidirem que não vão me deixar comprar uma arma porque sou estranho ou algo do tipo, não é assim que funciona e não pode funcionar dessa maneira."

Série de ataques

De acordo com o Gun Violence Archive, um grupo de pesquisa sem fins lucrativos, o ataque a tiros de segunda-feira foi o 309º nos Estados Unidos em 2022. O grupo define um ataque a tiros como qualquer incidente em que quatro ou mais pessoas são baleadas, não incluindo o atirador.

Não há uma definição nacionalmente acordada de um ataque a tiros em massa (mass shooting em inglês), e diferentes instituições, incluindo o Escritório de Álcool, Tabaco, Armas de fogo e Explosivos, os contabilizam de forma diferente, levando a variações nos números.

O ataque ocorreu uma semana e meia depois que o presidente Joe Biden assinou a medida de controle de armas mais significativa em quase três décadas. Dois dias antes, a Suprema Corte derrubou uma lei de Nova York expandindo o direito ao porte de armas no país. Mas ainda não está claro se algum dos novos regulamentos teria impedido ou facilitado o plano do atirador.

A própria decisão da Suprema Corte de rever a jurisprudência no estado de Nova York que impedia o porte de armas não é automática para os demais estados, mas abre o precedente para que outras ações semelhantes, inclusive contra o estado de Illinois, ocorram.

A cidade de Highland Park, inclusive, já foi alvo de uma ação na Suprema Corte. A cidade proíbe os chamados fuzis de assalto desde 2013, argumentando que eles não são utilizados para autodefesa. Essas armas, especialmente as AR-15, são as mais utilizadas em ataques em massa. Grupos anti-controle de armas apelaram à Suprema Corte em 2015 para reverter a proibição, mas os magistrados optaram por não ouvir o caso.

"É possível que a partir de agora futuros tribunais possam usar o raciocínio da decisão da Suprema Corte de para derrubar proibições em armas de assalto", afirma Burrus. "Mas não significa de forma alguma que isso acontece automaticamente após a decisão da Corte. Então, a decisão da Suprema Corte não teve qualquer impacto nesse ataque". (*Com informações de AP, NYT e W.POST)

Estadão
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