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Taiwan: as possíveis reações da China à visita de Pelosi

Pequim anuncia exercícios militares e suspende importações de Taiwan; especialista teme mudança de postura do país asiático com relação à guerra na Ucrânia.

2 ago 2022 - 19h49
(atualizado às 19h55)
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A presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, é recebida pelo ministro das Relações Exteriores de Taiwan, Joseph Wu (à esq.), no aeroporto Songshan
A presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, é recebida pelo ministro das Relações Exteriores de Taiwan, Joseph Wu (à esq.), no aeroporto Songshan
Foto: EPA/Taiwan Ministry of Foreign Affairs / BBC News Brasil

O Exército de Libertação Popular da China irá realizar três dias de exercícios militares a partir desta quarta-feira (3/8), após a presidente da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, visitar Taiwan na terça (2/8).

De acordo com o Exército, em seis grandes áreas nas costas norte, sul, leste e oeste de Taiwan, aeronaves e navios chineses realizarão manobras e testarão munição de longo alcance.

O ministério da Defesa de Taiwan disse que os exercícios são uma tentativa de intimidar psicologicamente os cidadãos da ilha, mas orientou a população a não se preocupar, dizendo que as forças armadas monitoram a situação e têm condições de proteger o Estado insular.

A China também suspendeu importações de 35 exportadores taiwaneses de biscoitos e doces nesta terça-feira. Os produtos são importantes itens comerciais entre Taiwan e China, incluindo Hong Kong.

Cerca de dois terços das exportações de Taiwan em 2021 foram biscoitos e doces, com um valor total de US$ 646 milhões, informou a mídia taiwanesa. Em 2020, o valor chegou a US$ 660 milhões, representando 37% do total exportado.

Estima-se que mais de 100 empresas em Taiwan serão forçadas a deixar de fazer negócios com a China após a sanção entrar em vigor.

Mas essas podem não ser as únicas reações chinesas à visita, alertam especialistas.

China condena visita

O Ministério das Relações Exteriores da China condenou veementemente a visita de Pelosi a Taiwan, classificando-a como uma "séria violação do princípio de Uma Só China" que terá um "severo impacto" na base política das relações China-EUA.

Em um comunicado, a pasta disse que a visita "viola seriamente a soberania e a integridade territorial da China".

"Isso prejudica gravemente a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan e envia um sinal seriamente errado às forças separatistas para a 'independência de Taiwan'", disse o ministério.

Desde 1979, os EUA concordaram em reconhecer a política de "Uma Só China". Isso significa que os EUA reconhecem a posição da China de que há apenas um governo chinês.

O jornal estatal Global Times deu destaque na sua capa à resposta da China sobre a visita de Pelosi a Taiwan
O jornal estatal Global Times deu destaque na sua capa à resposta da China sobre a visita de Pelosi a Taiwan
Foto: EPA / BBC News Brasil

De acordo com essa política, os EUA têm laços formais com a China, não com Taiwan. Mas os EUA ainda apoiam a ilha e prometeram ajudá-la a se defender, incluindo com o fornecimento de armas.

O Partido Comunista da China ameaçou usar a força se Taiwan declarar formalmente a independência.

O porta-voz do Pentágono, John Kirby, disse a jornalistas que a visita de Nancy Pelosi é consistente com a política de "Uma Só China". Ele afirmou que não há necessidade de transformar isso em uma crise e que os EUA ainda não apoiam a independência de Taiwan.

Kirby acrescentou que os EUA são contra qualquer mudança no status quo e que quaisquer diferenças devem ser resolvidas por meios pacíficos.

Questionado se a resposta da China era esperada, o porta-voz afirmou que sim. "É consistente com a cartilha que esperávamos que eles executassem (...) vamos continuar observando".

Possível apoio à Rússia

Margaret MacMillan, professora emérita de história internacional da Universidade de Oxford, levanta a possiblidade de a China retaliar apoiando a Rússia em sua investida contra a Ucrânia

"Vamos torcer para que não seja um daqueles momentos históricos em que todos olhamos para trás e dizemos 'oh, isso realmente foi o começo de algo", diz MacMillan à BBC.

"Os chineses não condenaram a invasão russa da Ucrânia, mas não lhes venderam armas. Eles realmente não os incentivaram na Ucrânia, não mostraram apoio sincero a eles. Me pergunto se isso vai mudar", acrescenta a professora de Oxford.

A Rússia alertou que a viagem de Pelosi a Taiwan é uma "clara provocação" e corre o risco de precipitar um conflito.

Mais cedo, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que "tudo sobre esta turnê e a possível visita a Taiwan é puramente provocativo".

Posteriormente, o Ministério das Relações Exteriores de Moscou disse que a China tem o direito de "tomar medidas para proteger sua soberania".

Ciberataques e críticas de Pequim

Os sites do governo e da presidência de Taiwan foram derrubados nesta terça-feira, antes da chegada de Pelosi.

Interrupções desse tipo podem ser causadas por um aumento súbito no número de visitantes, mas também por um ataque cibernético deliberado com o objetivo de derrubar os sites.

Pelo menos no caso do site presidencial, um ataque cibernético foi o culpado, disseram autoridades taiwanesas à Reuters, sem informar quem estava por trás disso.

Também antes da chegada de Pelosi, o governo chinês expressou repetidamente sua oposição à visita da congressista americana.

Na semana passada, o presidente chinês Xi Jinping disse ao presidente americano Joe Biden que "quem brincar com fogo vai se queimar".

Entorno do hotel em que Pelosi ficou em Taipei ficou movimentado, inclusive de manifestantes
Entorno do hotel em que Pelosi ficou em Taipei ficou movimentado, inclusive de manifestantes
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Na segunda-feira, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian, alertou sobre "sérias consequências" da visita da líder democrata dos EUA e disse que o Exército de Libertação Popular (ELP) não ficaria de braços cruzados.

Enquanto isso, o comando oriental do Exército, que cobre a parte do continente mais próxima de Taiwan, divulgou um vídeo nas mídias sociais dizendo que estava "totalmente preparado para qualquer eventualidade".

O Exército chinês completou 95 anos de sua fundação na segunda-feira (1/8). Na terça, um editorial do jornal estatal Global Times disse que o ELP não trava uma guerra há quase 40 anos, mas melhorou sua capacidade de combate na última década.

Reação nas redes sociais e protesto

Nas redes sociais fortemente monitoradas da China, os comentários se opuseram com veemência à visita de Pelosi e incentivaram uma ação militar.

Muitos usuários pediram que a China "tome de volta" Taiwan e apenas algumas postagens pediram calma.

"Não queremos guerra (...) todos os soldados têm famílias", disse um deles. Mas essas postagens foram fortemente criticadas por outros comentaristas.

Durante a visita de Pelosi, um pequeno protesto foi realizado do lado de fora do hotel onde a parlamentar se hospedou por um grupo pró-China que se opõe à visita. Alguns dos manifestantes seguravam faixas com os dizeres "vá para casa, belicista".

- Este texto foi originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-62402544

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