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"Tenho uma dívida com Snowden", reconhece Glenn Greenwald

Em entrevista ao The Guardian, o jornalista que revelou o esquema de espionagem da NSA, fala sobre a dívida que tem com Edward Snowden, a impotência que sentiu durante a detenção de seu parceiro David Miranda e a expectativa em relação à sociedade

12 mai 2014 - 11h29
(atualizado às 12h20)
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Glenn Greenwald reconheceu ter uma dívida com o ex-agente da NSA Edward Snowden
Glenn Greenwald reconheceu ter uma dívida com o ex-agente da NSA Edward Snowden
Foto: AFP

Prestes a realizar uma viagem para divulgar seu livro, o jornalista Glenn Grennwald recebeu uma equipe do The Guardian em sua casa, no Rio de Janeiro.

O trabalho de divulgação passará pelos Estados Unidos, França, Holanda, Alemanha, Itália e Espanha. Apenas um país foi propositalmente tirado da lista de nações a serem visitadas: o Reino Unido. As lembranças e a dor deixadas pela detenção de seu parceiro David Miranda, sob a lei de terrorismo, de seu parceito, no aeroporto de Heathrow, em Londres, em agosto de 2013, ainda estão presentes.

"Não havia nada que eu pudesse fazer, foi a primeira vez que eu me senti vúlneravel, que eu senti que não tinha controle, eles haviam levado a pessoa que eu mais amo na vida e poderiam muito bem tê-lo prendido".

Greenwald lembra que a pessoa que mais o ajudou naquele dia foi  Edward Snowden, o ex-agente da NSA que vazou documentos que comprovavam que os Estados Unidos espionavam milhares de cidadãos americanos. 

"Quando Snowden ouviu que Miranda havia sido detido, ele tão ficou tão furioso e preocupado que aquilo me chocou. Sua própria situação é incerta, ele pode enfrentar 30 ou 40 anos de prisão se voltar para os Estados Unidos, e ainda assim me apoiou. Foi ali que percebi que havíamos criado vínculos eternos, porque lutávamos pela mesma causa", conta.

"Eu tenho consciência de que ele é a pessoa que fez o maior sacrifício, então eu tento pensar todo dia em como eu posso alcançar o que ele tanto desejava, eu reconheço que tenho uma dívida com ele", complementa.

O brasileiro David Miranda foi detido quando voltava para o Brasil de uma viagem a Berlim. Lá, ele havia se encontrado com a cineasta Laura Poitras, que trabalhou com Greenwald na reportagem sobre a espionagem conduzida pela NSA. Segundo autoridades britânicas, Miranda levava 58 mil documentos secretos do Reino Unidos em um pen drive.

"Eu não acredito que eles não vão me interrogar e me prender. O comportamento deles tem sido extremo e agressivo, e a mídia e os políticos apoiaram tanto essas atitudes, que eu me sinto desconfortável com todo esse clima", diz Greenwald, quando perguntado se pretende voltar ao Reino Unido.

O livro

Seu novo livro "No Place to Hide" ("Nenhum lugar para se esconder", na tradução literal para português) começa com o relato de como Greenwald, em conjunto com Poitras e o Guardian, revelou o que pode ser a reportagem da década. Mas ele lembra como foi difícil escrever o artigo e de como, em princípio, ele não tinha ideia de como lidar com as ferramentas que poderiam ajudá-lo a se comunicar com as fontes, de forma privada, sem que a NSA ou qualquer organização o espionasse.

Quando Snowden entrou em contato com Greenwald pela primeira vez, em dezembro de 2012, usando o pseudônimo de 'Cincinnatus' e pedindo a ele para usar canais de criptografia para se comunicar com segurança, Greenwald não respondeu. Snowden insistiu por sete semanas, pedindo que o jornalista criasse um sistema básico para que eles pudessem conversar tranquilamente. 

Quando perguntado sobre o que pensa dos Estados Unidos, ele respondeu: "Para mim, os Estados Unidos são um conjunto de princípios e valores políticos consagrados nos documentos de sua fundação, e eu sou um grande admirador dos valores políticos. Eu odeio a forma como meu governo desrespeita esses valores", o que não deixa de ser um paradoxo, já que o homem que foi atacado como um traidor e anti-americano se mostra, na verdade, ser tão americano como aqueles que o criticaram, acrescenta o Guardian.  

Para Greenwald, sua maior vitória seria obtida quando nenhum país exercesse hegemonia sobre a internet, como os Estados Unidos fazem no momento. "Eu quero que as pessoas pensem não apenas sobre vigilancia e privacidade, mas também sobre o papel da propaganda e do jornalismo; uma mudança na consciência das pessoas seria minha maior vitória", conclui.

Fonte: Terra
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