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Tensão entre os EUA e a Coreia do Norte: há razão para temer uma guerra nuclear?

Retórica agressiva entre os dois países causa preocupação, mas analistas apontam para três razões que indicam que não há motivo para pânico sobre possibilidade de guerra.

10 ago 2017 - 07h51
(atualizado às 08h57)
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Em um ambiente tenso, um ato mal interpretado pode iniciar uma guerra
Em um ambiente tenso, um ato mal interpretado pode iniciar uma guerra
Foto: BBC News Brasil

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, disse que vai responder às ameaças da Coreia do Norte "com fogo e fúria jamais vistos pelo mundo".

Enquanto isso, a Coreia do Norte ameaçou lançar mísseis contra a ilha de Guam, território dos EUA no Pacífico habitado por 163 mil pessoas.

E tudo isso acontece em meio a informações de que Pyongyang possa ter finalmente conseguido miniaturizar uma ogiva nuclear para caber em um míssil intercontinental - uma perspectiva temida há muito tempo pelos Estados Unidos e seus aliados asiáticos.

Seria isso um prenúncio de um conflito militar?

Especialistas dizem que não há motivo para pânico. Eis as três razões para isso:

1. Ninguém quer guerra

Isso é o mais importante. Uma guerra na península coreana não é do interesse de ninguém.

O principal objetivo da Coreia do Norte é a sobrevivência - e uma guerra com os Estados Unidos poderia comprometer isso. Como o analista para Assuntos de Defesa da BBC Jonathan Marcus pontuou, qualquer ataque norte-coreano contra os EUA ou seus aliados no contexto atual poderia rapidamente evoluir para uma guerra maior - e é preciso assumir que o regime de Kim Jong-un não é suicida.

Aliás, é por isso que a Coreia do Norte tem se empenhado tanto em se tornar uma potência nuclear. Pyongyang parece acreditar que ter essa capacidade protegeria o regime - aumentando o preço para derrubá-lo. Kim Jong-un não quer seguir o caminho de Muammar Khadafi, na Líbia, ou Saddam Hussein, no Iraque. Nenhum dos dois possuía armas nucleares.

Andrei Lankov, da Univeridade de Kookmin, em Seul, disse ao jornal britânico The Guardian que "a probabilidade de conflito é muito baixa", mas que a Coreia do Norte "tampouco estava interessada em diplomacia" a essa altura.

"Primeiro eles querem ter a habilidade de limpar Chicago do mapa, aí então eles estarão interessados em soluções diplomáticas", disse Lankov.

Lançamento de míssil norte-coreano
Lançamento de míssil norte-coreano
Foto: BBC News Brasil

E quanto a um ataque preventivo americano?

Os Estados Unidos sabem que um ataque à Coreia do Norte poderia forçar o regime a retaliar atacando Coreia do Sul e Japão, aliados dos EUA.

Isso poderia resultar em muitas mortes, incluindo as de milhares de americanos - tropas e civis.

Além disso, Washington não quer correr o risco de que sejam lançados mísseis contra cidades americanas.

Por fim, a China - o único aliado de Pyongyang - ajudou a manter o regime precisamente porque seu colapso poderia ser pior para ela estrategicamente. Tropas americanas e sul-coreanas a um passo da fronteira chinesa formariam um cenário que Pequim certamente prefere evitar - e é isso o que aconteceria em caso de guerra.

2. Palavras, não ações

Trump pode ter ameaçado a Coreia do Norte com uma linguagem incomum para um presidente americano, mas isso não significa que os Estados Unidos estejam marchando rumo à guerra.

Como uma fonte militar anônima disse à agência Reuters: "Só porque a retórica fica mais agressiva não quer dizer que nossa postura muda".

O colunista do New York Times Max Fisher concorda: "São os tipos de sinais, não os comentários bruscos de um líder, que mais importam nas relações internacionais".

Além disso, depois dos dois testes de mísseis intercontinentais da Coreia do Norte em julho, os Estados Unidos tentaram uma tática diferente - pressionar Pyongyang através de sanções do Conselho de Segurança da ONU.

E seus diplomatas têm mostrado otimismo sobre um eventual retorno à mesa de negociações, apontando para o apoio de China e Rússia.

Kim Jong-un e Donald Trump
Kim Jong-un e Donald Trump
Foto: Getty Images/Reuters

Esses dois países enviam sinais conflitantes a Pyongyang, mas também moderam a retórica agressiva do presidente Trump.

Ainda assim, alguns analistas dizem que um movimento mal interpretado no contexto de tensão poderia levar a uma guerra por acidente.

"Poderia ocorrer uma falha de energia na Coreia do Norte que pudesse ser interpretada como um ataque dos EUA. Ou os EUA podem cometer um erro [na Zona Desmilitarizada]", disse à BBC Daryl Kimball, do centro de estudos americano Arms Control Association. "Então há várias formas de cada lado errar o cálculo e a situação acabar saindo do controle".

3. Nenhuma novidade

Como pontua o ex-secretário-assistente de Estado dos EUA PJ Crowley, Estados Unidos e Coreia do Norte chegaram perto de um conflito armado em 1994, quando Pyongyang se negou a permitir a entrada de inspetores internacionais em suas instalações nucleares. Na ocasião, a diplomacia venceu.

Com o passar dos anos, a Coreia do Norte fez ameaças incendiárias contra Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul com regularidade, muitas vezes ameaçando transformar Seul em um "mar de fogo".

E a retórica de Trump não é exatamente sem precedentes para um presidente americano.

"De várias maneiras diferentes, ainda que de uma forma não tão colorida, os Estados Unidos sempre disseram que, se a Coreia do Norte atacar, o regime deixará de existir", diz Crowley.

A diferença desta vez, acrescenta ele, é que o presidente dos Estados Unidos parece sugerir que tomaria uma atitude preventiva (apesar do secretário de Estado, Rex Tillerson, ter descartado esse opção depois).

Esse tipo de retórica belicosa imprevisível vindo da Casa Branca não é comum e preocupa as pessoas, dizem analistas.

Ainda assim, a Coreia do Sul - o aliado americano que mais tem a perder em um confronto com o Norte - não parece estar muito preocupada.

Um assessor da Presidência em Seul disse a jornalistas que a situação não chegou a um nível de crise e que é muito provável que tudo seja resolvido pacificamente.

Isso é motivo para otimismo.

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Coreia do Norte considera ataque com míssil a ilha de Guam:
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