Script = https://s1.trrsf.com/update-1736967909/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

'Teoria do louco' de Donald Trump funcionou em Gaza quando tudo mais falhou; entenda

Intervenção do governo que ainda não começou levou à conclusão do acordo após mais de um ano de impasse

17 jan 2025 - 21h26
Compartilhar
Exibir comentários
Equipe de transição do governo dos EUA divulgou nova imagem oficial de Donald Trump
Equipe de transição do governo dos EUA divulgou nova imagem oficial de Donald Trump
Foto: Divulgação

Donald Trump pode parecer um lunático. Mas, ao que parece, isso pode ser algo positivo — pelo menos por enquanto. Um acordo de cessar-fogo em Gaza, que foi inatingível por mais de um ano sob o governo do presidente Joe Biden, tornou-se realidade após intervenções de um governo Trump que ainda nem existe. (É fácil esquecer, mas Biden ainda é presidente por mais alguns dias).

Os detalhes de como isso aconteceu são reveladores. O enviado especial de Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff, informou aos assessores do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu que estaria em Israel na tarde de sábado. Isso foi no meio do Shabat, então os assessores sugeriram uma reunião à noite. A resposta de Witkoff teria sido "áspera". Ele não estava interessado em uma reunião noturna.

Como disse um diplomata israelense: "Witkoff não é um diplomata... Ele é um empresário que quer fechar um acordo rapidamente e avança de forma incomumente agressiva."

Por meses, Trump disse esperar o fim das hostilidades entre Israel e o Hamas e a libertação dos reféns restantes antes de assumir o cargo — ou "o inferno iria se instalar." Trump não especificou o que esse inferno envolveria, mas a mensagem foi, aparentemente, tão clara quanto precisava ser. Como — ou se — as várias fases interligadas do acordo serão implementadas, ainda será preciso ver. Mas uma vitória inicial, mesmo que possa não durar, ainda representa um progresso considerável em relação ao que havia antes: uma série de falsos começos.

Como observou um diplomata informado sobre as negociações, o recente esforço de Trump marcou "a primeira vez que houve pressão real sobre o lado israelense para aceitar um acordo." E aí reside a diferença. Biden não estava disposto — e talvez em alguns momentos simplesmente não fosse capaz — de exercer pressão real sobre Israel para aceitar um cessar-fogo. Repetidamente, Biden apresentou linhas vermelhas a Israel. Israel as ignorou. Não houve consequências. Como o secretário de Estado Antony Blinken disse em uma entrevista ao New York Times, sua teoria era de que qualquer percepção de "distanciamento" entre os Estados Unidos e Israel seria contraproducente. Ou como o próprio Biden disse, de maneira perturbadora: "Não vamos fazer nada além de proteger Israel."

Embora muitos dos indicados anunciados por Trump sejam apoiadores linha-dura de Israel, o próprio Trump não parece se importar em tratar Israel com luvas de pelica. Ele queria um acordo. Biden nunca quis um suficiente.

Quem diria? Quando você pressiona aliados que dependem dos Estados Unidos para bilhões de dólares em ajuda militar para sua sobrevivência, você realmente obtém resultados.

Isso nos leva a um dos paradoxos da presidência de Trump. Ele é, de fato, emocionalmente volátil e perigoso. Mas ser percebido como errático e imprevisível pode trazer benefícios em negociações de crise. Se você não sabe o que Trump pode fazer, e se acha que ele é capaz de uma agressividade incomum, então desafiá-lo se torna mais arriscado.

Nas últimas décadas, a política dos EUA em relação a Israel tem sido previsível. Democratas e republicanos insistiram em seguir um fracasso após outro, com pouco a mostrar, permitindo que um aliado próximo agisse com quase ilimitada tolerância para comportamentos destrutivos. É claro que Donald Trump, depois de reivindicar a vitória pelo cessar-fogo, pode muito bem perder o interesse e retornar a políticas que encorajam Israel a agir com impunidade.

Ainda estamos no início. Mas um certo tipo de imprudência — e, sim, até loucura — pode ser a força disruptiva necessária para remodelar nossas suposições sobre como e quando pressionar aliados recalcitrantes como Israel. Embora a natureza errática de Trump represente riscos à estabilidade global, pode também ser a única coisa capaz de chocar um establishment de política externa que se tornou confortável demais com seus próprios fracassos. A ironia é que, às vezes, é preciso um louco para tomar a decisão mais sensata.

Estadão
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade