Testemunhas dizem que atirador de Orlando frequentava boate gay; saiba quem era Omar Mateen
Omar Mateen, o homem responsável pelo maior ataque a tiros da história recente americana, teria visitado várias vezes a boate gay onde matou 49 pessoas, segundo testemunhas.
Chris Callen, um artista que se apresentava na boate Pulse, em Orlando, na Flórida, afirmou ao jornal New York Daily News que Mateen visitou o local do massacre nos últimos três anos.
"Eu o vi algumas vezes na Pulse, outras pessoas com quem falei, incluindo um ex-segurança, viram este cara na Pulse muitas vezes antes", afirmou Callen.
O artista afirmou que em uma ocasião Mateen teria puxando uma faca contra um amigo depois de este ter feito uma piada religiosa.
Apesar deste incidente, Callen afirmou que Mateen era "um cara legal... Talvez ele tivesse se radicalizado ou detestado quem ele era".
"Às vezes ele ia para um canto, sentava e bebia sozinho, outras vezes ele ficava tão bêbado que falava alto e ficava agressivo", afirmou outro frequentador da Pulse, Ty Smith, ao jornal Orlando Sentinel.
Kevin West, que também frequentava a casa noturna, disse ao jornal Washington Post que viu Mateen entrando na Pulse no começo da madrugada de domingo e acrescentou que já o conhecia através de um aplicativo de encontros chamado Jack'd.
"Eu lembro de detalhes. Nunca me esqueço de um rosto", disse West.
As autoridades ainda não fizeram nenhuma declaração oficial a respeito destas novas informações. Mas as redes de televisão americanas CNN e NBC informavam que os investigadores que estão trabalhando no caso estão examinando os depoimentos.
Mateen entrou armado na boate Pulse na madrugada de domingo. Até o momento o ataque deixou 50 mortos (incluindo o atirador) e 53 feridos, no que é considerado o tiroteio mais letal da história recente dos Estados Unidos.
O atirador acabou sendo morto pela polícia.
'Inclinação'
O FBI diz que o homem de 29 anos morto pela polícia aparentemente "tinha inclinação" para a ideologia islâmica radical, embora ainda não esteja claro se o ataque terrorista esteve ligado à ação de algum grupo estrangeiro.
O diretor do FBI, James Comey, afirmou que há "indicações fortes de radicalização e de uma potencial inspiração por parte de organizações terroristas estrangeiras".
Em ligações feitas para o número de emergência da polícia antes de morrer, Mateen teria jurado lealdade ao grupo autodenominado Estado Islâmico (EI). Depois, o EI disse que um "combatente" do grupo havia feito o ataque, mas não especificou se ele estava diretamente envolvido na ação ou se teria apenas "inspirado" o atirador.
O presidente americano, Barack Obama, afirmou que o inquérito sobre o massacre na Pulse está sendo tratado como uma investigação sobre terrorismo, mas acrescentou que não há provas claras de que Omar Mateen tenha sido orientado pelo EI.
O pai de Mateen disse à rede americana NBC que o ataque "não tinha nada a ver com religião".
Seddique Mateen afirmou que seu filho ficou "muito bravo" após ver dois homens se beijando no centro de Miami recentemente.
Ele disse que a família não sabia que ele estava planejando um ataque. "Estamos chocados como todo o país."
Na segunda-feira, o pai do atirador fez um polêmico pronunciamento para condenar a atitude do filho.
Em um vídeo publicado em sua página no Facebook - gravado em dari, um dos idiomas falados no Afeganistão, seu país de origem - Seddique Mateen criticou Omar pelo massacre.
O motivo: acreditar que seu filho interferiu na justiça divina, que, a seu ver, é que deve punir a homossexualidade.
"Deus é quem vai punir aqueles que se envolvem com a homossexualidade. Isso (a punição) não é para os servos de Deus", disse Seddique no vídeo, que pareceu endereçado especificamente à comunidade afegã nos EUA.
Violento e 'contraditório'
Omar Mateen era descrito como violento, mas trabalhava em uma empresa de segurança. Era funcionário desde 2007 da multinacional G4S, que presta serviços em mais de 20 centros de detenção juvenil da Flórida.
Aos 29 anos, o filho de afegãos havia sido investigado pelo FBI pela primeira vez em 2013, quando comentou com colegas ter supostos vínculos com terroristas, segundo afirmou Ronald Hopper, agente especial da polícia federal americana.
"O FBI investigou o assunto com cuidado, fez entrevistas com testemunhas, o vigiou e revisou seu histórico criminal", disse o Hopper. Mateen foi interrogado duas vezes. "No fim, não foi possível verificar a fundo seus comentários, e a investigação foi encerrada."
Na segunda-feira, o diretor do FBI, James Comey, relatou que ele havia feito afirmações "inflamadas e contraditórias" - dizendo inclusive ter conexões com a Al-Qaeda e o Hezbollah, dois grupos opostos.
À polícia, porém, o atirador argumentou que os comentários foram apenas uma reação a atos de discriminação por parte dos colegas. Após dez meses de apurações, o FBI encerrou o caso.
A segunda investigação, um ano depois, começou porque Mateen frequentou a mesma mesquita que um homem-bomba.
Na ocasião, uma pessoa ouvida pela polícia afirmou que chegou a temer que ele tivesse se radicalizado, mas que as preocupações haviam se dissipado porque o rapaz tinha se casado e tido um filho recentemente.
O FBI acabou concluindo que o contato entre Mateen e Moner Mohammad Abusalha, um cidadão da Flórida que se juntou ao autoproclamado Estado Islâmico na Síria, tinha sido mínimo e não constituía ameaça.
Embora estivesse no radar do FBI, Mateen não estava na lista oficial de pessoas suspeitas de ligação com o extremismo, e, por isso, era legalmente apto a obter licença para portar armas, de acordo com os registros da Flórida.
Após o ataque à boate Pulse, os agentes americanos passaraam a investigar se ele realmente tinha laços com extremistas islâmicos - antes ou durante o atentado, ele ligou para o serviço de emergência jurando lealdade ao Estado Islâmico.
Além das suspeitas do FBI, Mateen respondeu na Justiça por episódios de violência doméstica contra sua então mulher, Sitora Yusufiy, com quem esteve casado entre 2009 e 2011. Ela disse ter apanhado dele em diversas ocasiões.
Um ex-colega de trabalho, Daniel Gilroy, disse à imprensa americana que o atirador "falava em matar gente" e tinha comportamento intolerante.
Gilroy disse ter se queixado à empresa em que trabalhavam - a G4S afirmou que os antecedentes de Mateen foram verificados antes de sua contratação, em 2007.