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"Tive um sonho terrível com o Talebã', disse Malala em 2009

Confira alguns dos trechos do diário escrito pela mais nova ganhadora do Prêmio Nobel da Paz pra a BBC

10 out 2014 - 16h51
(atualizado às 16h56)
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A ativista paquistanesa Malala Yousafzai foi um dos dois ganhadores do Nobel da Paz deste ano, por seu trabalho pela educação no Paquistão, tornando-se a pessoa mais jovem a ser laureada com o prêmio.

Em 2009, ela escreveu um diário para a BBC em língua urdu (idioma do Paquistão) em que retratava a vida sob o regime Talebã no Vale de Swat, no noroeste do país. Três anos depois, militantes tentaram assassiná-la com um tiro na cabeça.

Foto: Reuters

Ela sobreviveu e se tornou uma das principais vozes pelo direito à educação no mundo.

A seguir, alguns dos trechos mais tocantes de seu diário.

'Tive um sonho terrível'

Sábado, 3 de janeiro

Tive um sonho terrível ontem com helicópteros militares e o Talebã. Venho tendo estes sonhos desde o início da operação militar em Swat. Minha mãe fez café da manhã para mim e me levou à escola. Estava com medo de ir à escola, porque o Talebã havia dado uma ordem banindo as meninas da escola. No caminho da escola para casa, ouvi um homem dizendo "vou matar você". Apertei o passo e, depois de algum tempo, olhei para trás para ver se ele ainda estava atrás de mim. Mas, para meu total alívio, ele estava falando ao celular e devia estar ameaçando outra pessoa pelo telefone.

Foto: BBC News Brasil

O Talibã controlava o Vale de Swat, onde Malala morava enquanto escrevia o diário/ Foto: BBC

Quinta-feira, 15 de janeiro

Hoje é... o último dia antes da ordem do Talebã passar a valer, e minha amiga estava discutindo o dever de casa como se nada além do ordinário estivesse acontecido.

Hoje, também li o diário escrito para a BBC, que foi publicado em um jornal. Minha mãe gostou do meu pseudônimo "Gul Makai" e disse ao meu pai: "Por que não mudar o nome dela para Gul Makai?". Também gostei do nome, porque o meu nome real significa "acometida pelo pesar".

'Alguns do meus amigos foram embora'

Domingo, 18 de janeiro

Meu pai disse que nosso governo protegeria nossas escolas. O primeiro-ministro também falou deste assunto. Fiquei feliz inicialmente, mas agora sei que isso não resolverá nosso problema. Aqui no Swat, nós ouvimos todos os dias que muitos soldados foram mortos e que muitas pessoas foram sequestradas em tal e tal lugar. Mas não há nem sinal da Polícia.

Foto: EPA

Foto tirada pouco antes de Malala levar um tiro na cabeça, quando tinha 14 anos/ Fonte: EPA

Quinta-feira, 22 de janeiro

Alguns dos meus amigos deixaram o Swat porque a situação aqui é muito perigosa. Não saio de casa. De noite, Maulana Shah Sauran (o membro do Talebã que anunciou o banimento de meninas nas escolas) voltou a alertar para que mulheres não saiam de casa. Ele também disse que o Talebã não atacaria as escolas que as forças de segurança usam como bases.

'Dúzias de escolas foram destruídas'

Domingo, 25 de janeiro

Parece que o Exército só pensa em proteger as escolas quando dúzias são destruídas e centenas mais são fechadas. Se eles tivessem conduzido suas operações adequadamente, não estaríamos nesta situação.

Foto: AFP
O Talibã bombardeou escolas no noroeste do Paquistão/ Fonte: AFP

Quarta-feira, 28 de janeiro

Estamos ficando com o pai de uma amiga em Islamabad. É minha primeira visita à cidade. Ela é bonita, com belos bangalôs e estradas largas. Mas, em comparação com minha cidade no Swat, falta beleza natural.

Foto: Getty Images

Na época, protestos condenavam a destruição de escolas/ Fonte: Getty Images

'Fico triste ao olhar meu uniforme'

Domingo, 8 de fevereiro

Fico triste ao olhar para o meu uniforme, minha mochila e minha caixa de apetrechos para as aulas de geometria. As escolas para meninos reabrirão amanhã. Mas o Talebã baniu as meninas das escolas.

Quinta-feira, 19 de fevereiro

Disse aos meus irmãos que nós não falaremos mais da guerra, só de paz daqui em diante. Nós recebemos a informação da diretora da nossa escola de que nossas provas serão realizadas na primeira semana de março. Passei a estudar mais.

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