Tsunami que matou milhares na Indonésia completa dez anos
170 mil do total de 230 mil mortos estavam no extremo norte de Sumatra
Dez anos após o abalo sísmico que deu origem ao tsunami que atingiu 15 países do oceano Índico, ainda é possível observar um navio de 2.600 toneladas encalhado a 4km da costa que banha o bairro de Punge Blang Cut, em Banda Aceh, lembrando a destruição causada na cidade.
No dia 26 de dezembro de 2014 o navio "PLTD Apung" estava no porto da cidade provendo abastecimento elétrico quando um terremoto de magnitude 9,1 abalou o norte da ilha de Sumatra, gerando três ondas gigantes que atingiram 15 países do oceano Índico.
A região de Aceh, no extremo norte de Sumatra, foi a mais afetada, com 170 mil vítimas do total de 230 mil mortos e desaparecidos na tragédia, além de 800km de devastação em todo o litoral, provocada pelo terremoto e pelas ondas gigantes. "A segunda onda foi a que arrastou o navio até aqui. 80% das casas ficaram completamente destruídas", relata a guia do local, convertido em memorial das vítimas e atração turística.
Uma das poucas casas que se manteve de pé funciona como a recepção do lugar, na qual um monumento indica a hora do terremoto, 7h58min. Há também uma reprodução da onda, com cerca de 5 metros, e os nomes dos 1.077 moradores mortos.
Em Lampulo, um bairro de pescadores da cidade, outra embarcação permanece no teto de uma casa, onde há 10 anos 59 moradores buscaram refúgio e se salvaram graças à inesperada aparição do barco.
"O terremoto foi muito forte, eu não conseguia nem ficar em pé. Todo mundo saiu às ruas com medo de as casas desabarem. De repente alguém gritou 'olha a água!', e foi quanto avistamos a imensa onda de oito metros", lembrou Bun Diah, uma das sobreviventes. A mulher, de 65 anos, conta que um morador chamou as pessoas para entrarem em sua casa de dois andares, a mais alta do bairro, e uma vez no terraço, um imã liderou uma reza para que todos pedissem perdão por seus pecados, já que estavam prestes a morrer.
"Depois de pedirmos perdão, surgiu o barco. Achávamos que era um resgate, mas quando entramos na embarcação, vimos que não havia ninguém dentro", prosseguiu Bun Diah, que vive em uma casa reconstruída no mesmo bairro, no qual 982 moradores morreram.
Uma década depois da catástrofe, a destruição é praticamente imperceptível - salvo por alguns destroços em casas ou nas modernas avenidas que cruzam a capital da região, por um museu, duas fossas com os restos mortais de 72 mil pessoas, cartazes indicando as rotas de fuga e postes mostrando a altura que a água alcançou. Vestígios físicos preservados para marcar o desastre que iniciou uma campanha de ajuda humanitária sem precedentes.
A mobilização internacional rendeu US$ 6,7 bilhões em Aceh para financiar a reconstrução da cidade, que foi concluída em 2009. Seu maior legado são as dezenas de bairros reconstruídos, com casas idênticas, onde a maioria das 565 mil pessoas deslocadas pelo desastre foi alojada.
Em Miruek, no município de Aceh Beijar, foram realocados vários moradores de Ulee Lhueu que não puderam retornar ao bairro pesqueiro, pulverizado pelas ondas, alguns em função do trauma vivido, outros porque o local no qual moravam desapareceu.
"O barulho das ondas me assustava", disse Isnani, de 38 anos, uma das mulheres que perdeu o marido no desastre e que decidiu não voltar ao bairro onde morava de aluguel e trabalhava em um mercado. "Viver aqui é mais difícil, porque não temos trabalho e estamos longe da cidade", acrescentou.
Como muitos outros, Isnani refez sua vida ao se casar com outro sobrevivente, também viúvo, que conheceu no acampamento de desabrigados.
O tsunami deu margem à reconstrução do local e promoveu o fim de três décadas de guerra entre o exército e a guerrilha separatista, dando espaço para o desenvolvimento da autocracia de Aceh, única região do país regida pela lei islâmica.
A poucos dias de completar dez anos desde a tragédia, Buchari, que durante o período de reconstrução foi prefeito de Aceh Beijar, afirmou que a região sofreu melhorias após o tsunami.
"Temos novas estradas e novas casas, inclusive em maior quantidade do que as que foram destruídas. Se me perguntarem sobre as mudanças nas condições de vida, saúde, economia e educação, direi que sim, mudaram, e para melhor", declarou.