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Turquia prende mais de 100 construtores depois de terremoto; número de mortos se aproxima de 26 mil

Ancara é criticada por sua resposta lenta e tolerância com construções de má qualidade

11 fev 2023 - 17h16
(atualizado às 17h19)
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Busca por vítimas de terremoto em Kahramanmaras, na Turquia
Busca por vítimas de terremoto em Kahramanmaras, na Turquia
Foto: EPA / Ansa - Brasil

ADIYAMAN, TURQUIA - Com a raiva crescendo na Turquia neste sábado, 11, pela resposta lenta do governo ao terremoto devastador de segunda-feira atingindo o que os críticos dizem ser construções de má qualidade, o governo de Recep Tayyip Erdogan começou a deter empreiteiros em todo o país que culpou por alguns dos colapsos que ajudaram a levar o número de mortos para perto de 26 mil.

Mais de 100 pessoas foram detidas nas 10 províncias afetadas pelo terremoto, informou a agência de notícias estatal Anadolu no sábado, quando o Ministério da Justiça turco ordenou que as autoridades nessas províncias estabelecessem Unidades de Investigação de Crimes de Terremoto. Também os orientou a nomear promotores para apresentar acusações criminais contra todos os "construtores e responsáveis" pelo colapso de edifícios que não cumpriram os códigos existentes, que foram implementados após um desastre semelhante em 1999.

As prisões foram os primeiros passos do Estado turco para identificar e punir as pessoas que podem ter contribuído para a morte de seus concidadãos no terremoto. Em toda a zona do terremoto, os moradores expressaram indignação com o que disseram ser construtores corruptos que cortam custos para aumentar seus lucros e com a concessão de "anistias" do governo aos construtores que levantaram complexos de apartamentos que não cumpriram os novos códigos.

No Bairro de Saraykint, em Antakya, os moradores apontaram um acabamento de má qualidade em um prédio de luxo recém-construído de 14 andares, com cerca de 90 apartamentos, que desabou sobre si mesmo. "O concreto é como areia", disse um homem que se recusou a dar seu nome, parado perto do prédio enquanto observava o trabalho dos socorristas. "Foi construído muito rapidamente."

Entre os detidos no sábado estava Mehmet Ertan Akay, o construtor de um complexo que desabou na cidade de Gaziantep, fortemente atingida, acusado de homicídio involuntário e violação da lei de construção pública, informou uma agência de notícias turca. A promotoria de Gaziantep disse que emitiu a ordem de detenção após inspecionar as evidências coletadas nos escombros do complexo que ele havia construído.

Mehmet Yasar Coskun, o construtor de um prédio de 12 andares na Província de Hatay com 250 apartamentos que foi completamente destruído, foi detido na sexta-feira em um aeroporto de Istambul enquanto tentava embarcar em um voo para Montenegro. Acredita-se que dezenas de pessoas tenham morrido quando o prédio desabou.

Dois construtores de um prédio de 14 andares que desabou em Adana, que fugiram da Turquia imediatamente após o terremoto, foram detidos no norte do Chipre, de acordo com a administração do norte do Chipre controlada pela Turquia.

Resposta lenta

O presidente Erdogan, visitando a província de Diyarbakir no sábado, defendeu as ações do governo, dizendo que este terremoto foi "três vezes maior e mais destrutivo do que o terremoto de 1999, o maior desastre na memória recente de nosso país". Embora reconheça que a resposta oficial tem sido lenta, ele disse que o país não estava preparado para um terremoto desta magnitude.

Erdogan, que enfrenta uma dura batalha eleitoral em maio, pediu união, dizendo: "Infelizmente, alguns partidos políticos, ONGs, ainda procuram atacar imoralmente, descaradamente". Ele prometeu retribuição aos saqueadores e disse que todas as universidades turcas mudariam para o aprendizado online para que os sobreviventes pudessem viver por enquanto em dormitórios estatais.

Embora a Turquia tenha códigos de construção implantados após o terremoto de 1999, os moradores disseram que muitas vezes eles não foram aplicados porque os empreiteiros podem ganhar mais dinheiro ao cortar custos: misturando o concreto e usando barras de metal mais baratas para fortalecer os pilares, entre outras coisas.

Mesut Koparal, um negociante de automóveis cuja mãe foi morta no terremoto, ficou furioso com o Estado por não fazer mais para garantir que os edifícios fossem bem construídos.

Na cidade de Adiyaman, a via principal parecia um canteiro de obras que se espalha, quarteirão após quarteirão. Mas, em vez de erguer prédios, equipes de trabalhadores, guindastes e escavadeiras estavam cavando os escombros daqueles que desabaram.

Moradores disseram que as equipes de resgate e a ajuda demoraram a chegar após o forte terremoto de segunda-feira, que matou quase 22 mil pessoas na Turquia e quase 4 mil na vizinha Síria.

Estadão
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