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Ucrânia na Otan? O que esperar de reunião que pode determinar rumos da guerra

Aliança militar ocidental não quer prometer demais a Kiev, mas tenta usar incentivos para mudar estratégia de Putin.

11 jul 2023 - 06h48
(atualizado às 07h25)
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O presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, chega à cúpula dos líderes da Otan em Vilnius
O presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, chega à cúpula dos líderes da Otan em Vilnius
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Os líderes da aliança militar ocidental Otan se reúnem na Lituânia, a partir desta terça-feira (11/7), para uma cúpula crucial, que pode determinar os rumos da guerra na Ucrânia e o futuro da aliança.

Os 31 aliados esperam mostrar à Rússia que estão determinados a apoiar militarmente a Ucrânia no longo prazo.

O encontro começou com um ânimo extra para o grupo, depois que a Turquia abandonou suas objeções à entrada da Suécia na aliança.

Os membros da Otan ainda não chegaram, no entanto, a um consenso sobre a intenção da Ucrânia de aderir à aliança.

Acredita-se que alguns aliados prometerão a Kiev novas garantias de segurança destinadas a impedir futuras agressões russas. Eles também discutirão o fornecimento de mais armas e munições.

Sobre a questão da adesão, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, quer que a Otan diga que a Ucrânia pode ingressar o mais rápido possível após o fim dos combates — definindo explicitamente como e quando isso será feito.

Mas algumas nações da Otan relutam em aceitar a adesão da Ucrânia, temendo que promessas a Kiev possam dar à Rússia um incentivo para prolongar a guerra.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que nenhuma decisão final foi tomada sobre o conteúdo do comunicado final, mas acrescentou: "Estou absolutamente certo de que teremos unidade e uma mensagem forte sobre a Ucrânia".

O encontro ocorre até quarta-feira (12/7).

Após conversas na noite de segunda-feira (10/7), ele anunciou que a Turquia concordou em apoiar o pedido da Suécia para ingressar na Otan. A notícia foi bem recebida pelos Estados Unidos e Alemanha, assim como pela própria Suécia.

A Turquia passou meses bloqueando a candidatura de Estocolmo, acusando a Suécia de abrigar militantes curdos. Stoltenberg disse que os dois lados trabalham juntos para lidar com as "legítimas preocupações de segurança" da Turquia.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, sugeriu anteriormente que apoiaria a Suécia se a União Europeia reabrisse as negociações de adesão da Turquia ao bloco — um pedido que foi rejeitado no passado pelas autoridades da UE.

Durante a reunião de dois dias, espera-se que os líderes da Otan cheguem a um acordo sobre novos planos para defender a aliança contra futuras agressões russas, reforçando suas forças no leste.

E também espera-se que a Otan aumente seu compromisso financeiro, estabelecendo a meta de 2% de gasto da riqueza nacional em defesa. O porta-voz de Rishi Sunak disse que o primeiro-ministro do Reino Unido conversaria diretamente com os países aliados para atingir essa meta.

A segurança foi reforçada em Vilnius, com as forças da Otan — incluindo mísseis de defesa aérea Patriot — defendendo a cúpula. O encontro ocorre a uma curta distância de Belarus e do exclave russo de Kaliningrado.

O objetivo geral da reunião é que a Otan mostre para o presidente Vladimir Putin que tem um compromisso militar de longo prazo da aliança com a Ucrânia.

As autoridades esperam que isso faça o líder russo mudar seus planos — colocando dúvidas em sua mente, no sentido de que ele pode esperar mais do Ocidente.

Por isso, alguns analistas veem esta cúpula como talvez tão importante quanto os ganhos militares no campo de batalha para persuadir Putin a mudar sua estratégia.

Alguns membros da Otan prometerão à Ucrânia novas garantias de segurança. O presidente dos EUA, Joe Biden, sugeriu que a Ucrânia poderia obter o tipo de apoio militar que seu país dá a Israel — compromissos de longo prazo projetados para deter potenciais agressores.

A aliança também aprofundará seus vínculos institucionais com a Ucrânia. Um fórum existente — a Comissão da Otan sobre Ucrânia — será incrementado, batizado de Conselho da Otan da Ucrânia. Isso dará à Ucrânia a capacidade de convocar reuniões da aliança como um parceiro em pé de igualdade.

"O direito de consultar não é algo insignificante", disse um funcionário.

Mas talvez o mais importante deste encontro é que alguns membros podem vir a definir mais explicitamente os passos para a Ucrânia se juntar à aliança.

A Otan concordou, em sua cúpula de 2008, em Bucareste, que a Ucrânia "será" membro e apoiou sua candidatura. Mas a aliança não disse como e quando isso pode acontecer. Os críticos dizem que definir um destino à Ucrânia, mas sem explicitar a rota certa para adesão, permitiu que Putin arriscasse realizar as invasões em 2014 e 2022 no país.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se encontrará com Zelensky na cúpula, disse uma autoridade dos EUA à agência de notícias Reuters, embora o presidente ucraniano ainda não tenha confirmado oficialmente sua participação no evento.

Encontro tem potencial para impactar decisões de Putin sobre a guerra na Ucrânia
Encontro tem potencial para impactar decisões de Putin sobre a guerra na Ucrânia
Foto: EPA / BBC News Brasil

Kiev entende que a Otan não pode convidar formalmente a Ucrânia para se juntar à aliança enquanto a guerra persiste.

Isso arriscaria mergulhar a aliança em uma guerra com a Rússia, já que a Otan seria obrigada, de acordo com o Artigo 5 de seu tratado, a defender qualquer membro que esteja sob ataque.

Em vez disso, Kiev quer uma promessa clara de adesão pós-guerra com um cronograma claro, para que saiba que a vitória trará a garantia de segurança sob o guarda-chuva nuclear da Otan.

Uma maneira de a Otan sinalizar seu desejo de aceitar a adesão da Ucrânia seria encurtar o chamado plano de solicitação de adesão, conhecido como MAP, na sigla em inglês. Este é o processo formal que testa se um país atende aos estritos padrões militares e governamentais da Otan — e pode levar décadas.

Mas é o que a Otan tem a dizer sobre a adesão da Ucrânia que está dividindo a aliança.

Os Estados bálticos e as nações do leste europeu estão pressionando para obter o máximo de clareza possível. Eles querem que a aliança deixe claro quanto progresso a Ucrânia fez em relação à adesão, especialmente quanto mais próximo seu exército pode operar com outras forças da Otan, agora que compartilha armas e estratégias semelhantes. Eles também querem que a Otan deixe claro quais outras condições a Ucrânia deve cumprir para aderir à aliança.

O presidente da Lituânia, Gitanas Nauseda, disse que a Otan deve evitar que a adesão da Ucrânia vire algo como o horizonte: "Quanto mais você caminha em direção a ela, mais longe ela fica."

Mas alguns aliados — incluindo os EUA e a Alemanha — não querem prometer demais à Ucrânia. Eles querem que a Ucrânia faça mais para combater a corrupção no país, fortalecer seu judiciário e garantir o controle civil sobre seus militares.

Alguns também temem que a Otan seja arrastada para um conflito aberto com a Rússia. Eles temem que prometer a adesão da Ucrânia após a guerra daria a Putin um incentivo para escalar o conflito, mantendo combates de baixa intensidade por muito tempo para impedir a adesão da Ucrânia.

Outros aliados também temem perder espaço de manobra nas negociações do pós-guerra. Eles querem usar a promessa de adesão à Otan como um incentivo para a Ucrânia e uma ameaça para a Rússia, mas somente depois que os combates terminarem.

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