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Ucrânia: o jogo perigoso de Putin na guerra

Pressionado pelos reveses no conflito que iniciou, o presidente russo opta pela escalada das operações militares ao anunciar uma convocação de 300 mil reservistas e ameaçar uso de armas nucleares.

22 set 2022 - 06h32
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Putin passa tropas em revista durante ato em Moscou
Putin passa tropas em revista durante ato em Moscou
Foto: Reuters / BBC News Brasil

No começo, o Kremlin negou ter planos de invadir a Ucrânia.

Mas ao final invadiu.

Mais recentemente, o Kremlin negou ter planos de mobilização de reservistas militares.

Nesta quarta-feira (21/09) o presidente Vladimir Putin anunciou uma "mobilização parcial" do efetivo.

Consegue enxergar um padrão? Quando se encontra em uma encruzilhada, o presidente russo sempre parece fazer uma escolha pela escalada de uma situação.

Há alguns meses falava-se na expressão "rampa de saída" para Putin — uma chance para o líder russo voltar atrás em seus planos de seguir com a guerra sem que parecesse uma derrota.

Seu último discurso para a população russa não continha sinais de paz para Kiev, nem palavras conciliatórias para os Estados Unidos ou para a Otan. Estava cheio de raiva e ameaças anti-Ocidente e anti-Ucrânia.

Esta é a invasão de Putin. É a guerra dele com o Ocidente. Ele está imerso nessa situação, mas parece determinado a garantir a vitória — tanto sobre a Ucrânia quanto contra o que ele chama de "Ocidente reunido".

E, para Putin, se isso exigir uso de algum armamento nuclear e a entrada de centenas de milhares de reservistas russos, que assim seja.

Vladimir Putin tem sido frequentemente chamado de jogador de pôquer político. Nesta quarta, ele resolveu subir suas apostas em um jogo cada vez mais perigoso.

Mas é uma aposta. A mobilização — mesmo parcial, como ele apresentou — é algo que o líder do Kremlin queria evitar, temendo resistências entre o público russo a uma convocação mais ampla para o front de batalha.

Lembre-se, tudo isso deveria ser apenas uma "operação militar especial" (foram essas as palavras usadas no começo do conflito).

A palavra "guerra" ainda é um tabu na mídia estatal russa. E, se não é uma guerra, por que então a mobilização de agora?

O problema de Putin é que, praticamente desde o início, sua invasão da Ucrânia não saiu conforme o planejado.

Os militares ucranianos, apoiados por armas ocidentais, resistiram muito mais do que o Kremlin esperava. As forças armadas russas ficaram atoladas no território do oponente: recentemente, perderam parte do território ucraniano que haviam tomado.

O Kremlin concluiu que precisa de mais tropas no campo de batalha. Daí o anúncio da "mobilização parcial".

Como os russos estão reagindo às notícias? Ouvi opiniões diferentes nas ruas de Moscou.

"Estou preocupado que este seja apenas o começo", disse-me um jovem chamado Sergei. "Eu me preocupo que possa haver mobilização total."

"Se nossos líderes exigem isso, então devemos cumprir nosso dever", disse Margarita. "Confio 100% em Putin. Somos uma grande potência."

Por fim, dois desafios. Um para Putin, o outro para o Ocidente.

O desafio de Vladimir Putin é fazer os russos acreditarem que, desde o início, o plano do Ocidente era fazer guerra contra a Rússia (o que não era) e que o objetivo do Ocidente é destruir a Rússia (o que não é).

Se não fizer isso, ele terá dificuldade em convencer o público da necessidade de mobilização.

E o desafio para o Ocidente? Como lidar com um líder russo que deixou bem claro que está preparado para usar armas nucleares para evitar uma derrota.

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