UE propõe sancionar líder da Igreja Ortodoxa Russa
Cirilo voltou a dizer que Moscou 'nunca atacou ninguém'
No sexto pacote de sanções contra a Rússia por conta da guerra na Ucrânia, a União Europeia pode impor punições contra o líder da Igreja Ortodoxa do país, Cirilo I, mostra um rascunho obtido pela agência de notícias francesa AFP nesta quarta-feira (4).
Cirilo é aliado de primeira linha do presidente russo, Vladimir Putin, e sempre apoiou o governo de Moscou na guerra. O nome do líder ortodoxo está entre os 58 citados inicialmente no documento, que ainda precisa ser aprovado, e que inclui também a filha e a esposa do porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
Após a divulgação da notícia, a Igreja Ortodoxa Russa se disse "cética" sobre o novo pacote do bloco europeu por meio de uma mensagem publicada pelo porta-voz, Vladimir Legoyda, no Telegram.
"O patriarca Cirilo provém de uma família na qual os membros foram submetidos por décadas a repressão por sua fé e posição moral durante os dias do ateísmo militante comunista, sem temer reclusões ou repressões. Precisa ser absolutamente estranho à história de nossa Igreja para intimidar o seu clero e seus crentes inserindo-os em algumas listas", escreveu.
Pouco depois, durante uma celebração religiosa em Moscou, Cirilo voltou a defender Putin durante o sermão, segundo reportou a agência Interfax.
"Nós não queremos combater ninguém. A Rússia nunca atacou ninguém. Surpreendentemente, um país assim forte e grande nunca atacou ninguém, está só protegendo suas fronteiras. Deus conceda que o nosso país permaneça forte, potente e amado por Deus até o fim dos tempos", afirmou.
Cirilo ainda pediu que "Deus reforce a fé, a piedade e a sabedoria do povo e dê forças para trabalhar sempre, viver e, se necessário, combater para preservar o estilo de vida livre e independente da Rússia". "Que Deus proteja o solo russo da briga e da invasão estrangeira e reforce o credo ortodoxo, única força espiritual capaz de unir verdadeiramente nosso povo", acrescentou.
O líder ortodoxo se aproximou muito de Putin nos últimos anos e foi até indiretamente criticado pelo papa Francisco durante um encontro virtual realizado entre ambos para tentar acertar detalhes de um novo encontro. Segundo o líder católico, ambos são "padres" e não podem se prender a discursos políticos, sendo que "o patriarca não se pode se tornar o coroinha de Putin".
Para além das questões políticas, há outro ponto que afasta os ortodoxos russos dos ucranianos. Em 2014, durante a fase inicial da guerra, em que Putin anexou unilateralmente o território da Crimeia, houve uma espécie de cisma entre os líderes da religião.
O patriarca de Constantinopla, Bartolomeu, considerado um "guia supremo" de todos os praticantes da religião, enviou dois exarcos para Kiev para iniciar o trabalho da autocefalia, quando uma determinação cristã não precisa se reportar ao superior, nas igrejas Ortodoxa Ucraniana e Ucraniana Ortodoxa Autocéfala.
O pedido dos ucranianos havia sido feito em 1991, quando houve o fim da União Soviética, mas só foi concretizado em 2018. O reconhecimento dado aos ucranianos fez com que a Igreja Ortodoxa Russa anunciasse o rompimento com o Patriarcado Ecumênico de Constantinopla.
No entanto, Cirilo vem sofrendo pressão também dentro da instituição, com centenas de padres e clérigos pedindo que a Igreja se oponha à guerra e defenda um "cessar-fogo" imediato. .