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Vacina contra covid-19: países ricos reservam doses e deixam países pobres sem, adverte aliança

Volume pré-adquirido por nações ricas é suficiente para vacinar três vezes sua população, deixando os mais pobres do mundo em uma fila que pode durar anos, criticam ativistas.

9 dez 2020 - 12h00
(atualizado às 12h01)
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Países mais pobres da Ásia e da África podem acabar ficando anos esperando vacina contra covid-19, advertem ativistas
Países mais pobres da Ásia e da África podem acabar ficando anos esperando vacina contra covid-19, advertem ativistas
Foto: EPA / BBC News Brasil

Países ricos estão reservando para si mais doses do que de fato precisam das vacinas contra a covid-19, o que vai deixar desemparada a população de países mais pobres, adverte a coalizão People's Vaccine Alliance (Aliança da Vacina do Povo, em tradução livre, grupo que reúne organizações como Oxfam, Anistia Internacional e Global Justice Now).

O grupo estima que quase 70 países de baixa renda só conseguirão vacinar 1 em cada 10 de seus cidadãos, apesar de os criadores da vacina de Oxford/AstraZeneca terem prometido ofertar 64% de suas doses a países em desenvolvimento.

Há diferentes iniciativas em defesa de uma distribuição homogênea das vacinas contra a covid-19 ao redor do mundo. O compromisso conhecido como Covax conseguiu garantir 700 milhões de doses de vacinas para que sejam distribuídas em 92 países signatários de baixa renda.

Mas, mesmo assim, a People's Vaccine Alliance afirma que haverá déficit de vacinação nesses países, uma vez que a maior parte das doses está sendo adquirida em alto volume por países ricos.

Estimativas da coalizão indicam que países de alta renda compraram doses o suficiente para vacinar suas populações inteiras três vezes, se todas as vacinas forem de fato aprovada para uso.

O Canadá, por exemplo, encomendou número de doses o bastante para imunizar seus cidadãos cinco vezes.

Outro exemplo vem da vacina da Pfizer: segundo a Global Justice Now, mais de 80% das doses foram compradas em antecedência por governos que reúnem apenas 14% da população global.

Na outra ponta estão 67 países que, na ausência de uma ação internacional, só ficarão com doses suficientes para 10% de sua população. Todos são países de baixa renda da Ásia e da África - nenhum país latino-americano está na lista.

"Ninguém deveria ser privado de receber uma vacina com potencial de salvar sua vida por causa do país onde mora ou de quanto dinheiro tem em seu bolso", argumenta Anna Marriott, gerente de políticas em saúde da Oxfam.

"Mas, a não ser que algo dramático mude, bilhões de pessoas ao redor do mundo não receberão uma vacina segura e eficiente contra a covid-19 pelos próximos anos."

Sinovac é a única apontada como destinada até o momento exclusivamente a países em desenvolvimento
Sinovac é a única apontada como destinada até o momento exclusivamente a países em desenvolvimento
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Por esse motivo, a aliança pede que as corporações farmacêuticas dedicadas a vacinas compartilhem sua tecnologia e propriedade intelectual, de modo a que bilhões de doses adicionais possam ser fabricadas e disponibilizadas globalmente.

Isso pode ser feito por intermédio de um "pool" de acesso da Organização Mundial da Saúde, diz o grupo.

A AstraZeneca, empresa fabricante da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, se comprometeu em tornar o imunizante disponível sem lucros para países em desenvolvimento.

Como essa vacina é mais barata que as demais e pode ser armazenada em freezers comuns, é mais fácil de ser distribuída ao redor do mundo.

Mas ativistas afirmam que uma vacina, por si só, não será suficiente para abastecer o mundo.

A vacina da Pfizer-BioNTech já recebeu aprovação no Reino Unido, que iniciou sua vacinação nesta semana. É provável que essa mesma vacina receba, em breve, o aval de reguladores nos EUA e na Europa.

Duas outras vacinas internacionais, da Moderna e da Oxford/AstraZeneca, também esperam aprovação de agências reguladoras em diferentes países.

Ao mesmo tempo, o levantamento da People's Vaccine Alliance cita o caso da vacina da empresa chinesa Sinovac, sendo produzida no Brasil pelo Instituto Butantan - e peça central de uma disputa política entre o governador paulista, João Doria, e o presidente Jair Bolsonaro - como a única vacina sendo destinada exclusivamente a países em desenvolvimento (no meio do caminho entre os mais ricos e os mais pobres), como a própria China e o Brasil. Indonésia, Turquia e Chile também planejam usar a vacina da Sinovac em suas populações.

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