'Vi corpos voando como pinos de boliche': testemunhas relatam o horror de ataque em Nice
Um ataque com um caminhão em alta velocidade, lançado contra uma multidão, deixou ao menos 84 mortos e 50 feridos, dos quais 18 em estado grave, na cidade francesa de Nice na noite desta quinta feira.
As pessoas se reuniam para as comemorações do Dia da Bastilha. Testemunhas descreveram cenas de pânico e terror durante a tragédia.
Paddy Mullan, da Irlanda do Norte, que "nunca tinha visto" tanto medo.
Ele disse que o caminhão "veio do nada" e começou a avançar de forma rápida e descontrolada em direção à multidão.
"Esse caminhão simplesmente subiu no meio-fio, do outro lado da rua de onde estávamos, e no momento seguinte só se ouviam impactos e gritos", afirmou.
"Havia muita confusão e desorientação, porque não sabíamos direito o que estava acontecendo e por que estava acontecendo."
Mullan e a namorada escaparam do restaurante em que estavam por uma saída lateral, atravessando portões por um complexo de apartamentos.
Estávamos empurrando todos os portões para tentar entrar nesses blocos de apartamentos", disse. "Uma hora conseguimos."
Damien Allemand, jornalista na publicação local Nice Matin, estava na avenida litorânea após a queima de fogos pelo Dia da Bastilha.
"Uma fração de segundo depois, um caminhão branco enorme apareceu numa velocidade maluca, virando a direção para pegar o maior número de pessoas", disse.
"Vi corpos voando como pinos de boliche ao longo do caminho do caminhão. Ouvi barulhos e gritos que nunca vou esquecer."
Morador de Nice, Wassim Bouhlel descreveu uma "carnificina na rua". "Corpos por todos os lados."
Ele contou como o motorista desceu do caminhão com uma arma e começou a atirar depois que o caminhão desceu a rua, passando por cima de tudo no caminho.
"Ele fazia um zigue-zague - você não tinha ideia para onde ele estava indo. Minha mulher... a um metro de distância... ela estava morta. O caminhão arrebentou tudo, postes, árvores. Nunca tínhamos visto nada parecido. Algumas pessoas estavam se segurando a portas e tentando parar o caminhão."
Lucy Nesbitt-Comaskey disse à rede Sky News que o som dos tiros lembrava o Oriente Médio.
"Foi chocante, devastador e não consigo acreditar como vim passar uns dias e acabei me envolvendo em algo tão trágico. Foi simplesmente horrível", afirmou.
"Eu disse a meu amigo: 'Isso não parece com fogos, está parecendo Beirute quando há tiroteio."
"De repente pessoas estavam gritando nas ruas e correndo para dentro dos restaurantes. Todos os restaurantes estavam abertos e pessoas estavam entrando. Estávamos apenas sentados lá e aquele monte de gente entrou. Os donos estavam dizendo 'Por favor entrem, não fiquem por aí'", disse ela.
O turista britânico Kevin Harris estava em um hotel com vista para a cena da tragédia.
"Ouvi muitos gritos. Saí no meu terraço e logo na minha frente pude ver o que pareciam ser corpos estirados na rua. Claro que havia muitos policiais e ambulâncias por perto, mas era uma cena terrível, terrível."
"A noite tinha começado de forma normal e estávamos apenas dando uma volta", disse Joel Fenster à BBC. "De repente pessoas começaram a correr, houve gritos, sirenes e policiais gritando para evacuarmos a área."
"Foi terrível, principalmente porque não sabíamos o que estava acontecendo. Naquela hora tínhamos apenas ouvido barulho de tiros e pensávamos que eram pessoas correndo com armas."
"Houve um momento em que estávamos correndo e pessoas vieram correndo em nossa direção daquele lugar (do ataque). Algumas pessoas estavam sentadas no chão tentando abrir caminho."
Kayla Repan, turista dos Estados Unidos, estava entre as centenas de pessoas que haviam se reunido para ver a queima de fogos. "Toda a cidade estava correndo", disse ela à Associated Press. "Fiquei apavorada e sai correndo do calçadão. Era um caos."
"Havia muitas famílias. Estávamos agachados atrás de um carro, havia uma mãe com uma criança, e ela estava tentando dizer a ela que tudo ficaria bem."
A advogada Harjit Sarang, moradora de Londres, também estava no meio do cenário de pânico e terror.
"Correndo na multidão em Nice com crianças e apavorada. Nunca mais levarei crianças a um evento público. Finalmente de volta ao hotel. Eu odeio isso!"
Ela disse que chegou ao hotel e não conseguiu entrar imediatamente, pela quantidade de pessoas tentando se abrigar no local.
"Não consigo parar de tremer. Odeio que meus meninos tenham que vivenciar isso", afirmou.
"Eu vivo a 200 metros do calçadão e levei quase uma hora e meia para voltar ao meu apartamento porque todas as ruas estavam fechadas", disse o produtor da BBC Roy Calley.
"A polícia tomou conta da cidade, o calçadão estava fechado. Todo mundo foi empurrado para fora da região e orientado a dar meia volta."
"Como o calçadão estava fechado, todo o tráfego, que é bem pesado naquela região, foi redirecionado. Então muitos carros de polícia e ambulâncias não conseguiam chegar ao calçadão pela quantidade de carros na rua."
Outra testemunha, Tarubi Wahid Mosta, publicou um vídeo no Facebook que mostrava uma boneca abandonada e um carrinho de bebê. Ele disse ter voltado para casa com um cão da raça Yorkshire que pertencia a uma vítima do ataque.
"Quase pisei em um corpo, foi horrível. Parecia um campo de batalha", disse, ao descrever o sentimento de impotência diante da tragédia.
"Todos aqueles corpos e suas famílias. Elas passaram horas no chão segurando as mãos frias de corpos desmembrados pelo caminhão. Você nem conseguia conversar com essas pessoas para confortá-las."