Vídeo da queda de teleférico gera polêmica na Itália
Publicação em várias mídias do país criou um debate sobre a necessidade de mostrar este tipo de imagem
A divulgação de um vídeo que mostrou pela primeira vez imagens do acidente com a cabine do teleférico de Stresa, cuja queda em 23 de maio matou 14 das 15 pessoas que estavam no equipamento, gerou polêmica na Itália nesta quinta-feira, 17.
A emissora pública italiana RAI foi alvo de críticas por transmitir as cenas que revelam que a cabine já estava próxima ao desembarque, quando o solavanco provocado pelo rompimento de um cabo - e a falta de atuação do sistema de freios de emergência - causou a descida rápida do transporte.
O vídeo do acidente foi divulgado pelo noticiário da emissora TG3 e compartilhado por outros jornais italianos, como Il Corriere della Sera e La Repubblica.
Isso gerou um debate sobre a necessidade de mostrar este tipo de imagens, as de um acidente que chocou a opinião pública e deixou apenas um sobrevivente - um menino de cinco anos que perdeu os pais e seu irmão.
"Em circunstâncias como esta, é dever do serviço público avaliar cuidadosamente todas as implicações, começando pelas éticas, em respeito às vítimas e suas famílias", admitiu o presidente da RAI, Marcello Foa.
A procuradora de Verbania, Olimpia Bossi, emitiu um comunicado denunciando "a absoluta inadequação da publicação" das imagens dos "últimos e dramáticos momentos" dos passageiros.
Segundo Bossi, "os parentes não foram informados e a transmissão das imagens foi proibida". "O sofrimento das famílias das vítimas não pode e não deve ser agravado por ações como esta", acrescentou.
A autoridade italiana de proteção de dados recomendou que todos os meios de comunicação e usuários de mídia social parem de compartilhar as imagens.
Já a prefeita de Stresa, Marcella Severino, se declarou "estupefata" com a divulgação do vídeo.
O acidente está sendo investigado e três pessoas foram indiciadas. Entre elas estão o proprietário da empresa Ferrovie del Mottarone, que administra o teleférico, Luigi Nerini, e o diretor de infraestrutura, Enrico Perocchio, que foram presos e posteriormente liberados, mas permanecem na lista dos investigados. O chefe de operações do teleférico, Gabriele Tadini, por sua vez, foi colocado em prisão domiciliar, após admitir que desativou o sistema de freios, o que causou a queda.
Em nota, a defesa dos três suspeitos da tragédia afirmou que "são os últimos a ter interesse na difusão" do vídeo publicado por alguns jornais. O documento é assinado em conjunto por Marcello Perillo, Andrea Da Prado e Paquale Patanno.
Já a advogada Alessandra Zanchi, que, com Enrico de Castiglione, representam os familiares de Silvia Malnati, vítima da tragédia junto com seu namorado, Alessandro Merlo, lamentou a divulgação das imagens. "Foi uma inútil espetacularização de uma tragédia que não serve ao propósito da investigação", disse. Zanchi ressaltou que espera que isso "não volte a acontecer, porque a difusão do vídeo nada mais fez do que aumentar o tormento dos familiares".
Veja o vídeo; atenção: as imagens podem chocar:
Al Tg3 un documento esclusivo della cabina della funivia del Mottarone, prima della caduta, agli atti dell'inchiesta sul disastro costato la vita a 14 persone. Le immagini per il loro contenuto potrebbero urtare la sensibilità di alcuni pic.twitter.com/en6MHCfS00
— Tg3 (@Tg3web) June 16, 2021