Vítima de abuso se diz 'desesperada' com vídeo postado por Meloni
A ucraniana vítima de um estupro na Itália disse à polícia que ficou "desesperada" com a difusão do vídeo do crime nas redes sociais.
Entre os que publicaram as imagens do ocorrido está a deputada de extrema direita Giorgia Meloni, líder nas pesquisas para as eleições parlamentares de 25 de setembro e dona de perfis que totalizam mais de 4,5 milhões de seguidores nas redes sociais.
O crime ocorreu na manhã do último domingo (21), em uma rua de Piacenza, norte da Itália, e foi cometido por um solicitante de refúgio guineense de 27 anos.
Em depoimento à polícia nesta terça-feira (23), a vítima, uma ucraniana de 55 anos, revelou ter ficado "desesperada pelo fato de ter sido reconhecida" no vídeo da agressão por algumas pessoas.
A gravação, feita com uma câmera de celular a partir de um prédio nos arredores, mostra o estuprador e a vítima com a imagem borrada, mas é possível ouvir distintamente os gritos e as lamentações da mulher.
O vídeo ficou no ar nos perfis de Meloni por mais de 24 horas, até que Facebook, Instagram e Twitter removeram as postagens nesta terça-feira.
Políticos de centro e esquerda qualificaram a atitude da deputada como "indecente", "indecorosa" e "desrespeitosa" por expor uma vítima de violência sexual sem seu consentimento. Já Meloni se justificou com o argumento de que o problema é o estupro, e não sua exibição na internet.
A presidente do partido de extrema direita Irmãos da Itália (FdI) costuma usar suas redes sociais para associar um suposto aumento da criminalidade aos migrantes e refugiados resgatados no Mar Mediterrâneo.
No entanto, dados divulgados pelo próprio governo italiano indicam que a maioria esmagadora dos casos de violência contra a mulher são cometidos no âmbito familiar e por homens próximos.
O FdI está em empate técnico com o Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, na liderança das pesquisas, mas sua coalizão com a Liga, de Matteo Salvini, e o Força Itália (FI), de Silvio Berlusconi, é favorita para obter maioria no Parlamento.
A sigla de Meloni foi fundada há 10 anos e é herdeira política do extinto partido pós-fascista Movimento Social Italiano (MSI), que havia sido criado após a Segunda Guerra Mundial por antigos aliados do ditador Benito Mussolini.
Uma de suas principais propostas é impor um bloqueio naval no Mediterrâneo para impedir a chegada de migrantes forçados à Itália.