'Vitória do Estado', diz Meloni sobre prisão de Messina Denaro
Após cerca de 30 anos de fuga, o líder mafioso Matteo Messina Denaro, criminoso mais procurado da Itália, foi preso nesta segunda-feira (16), em Palermo, na Sicília.
Com 60 anos de idade, o poderoso expoente da Cosa Nostra estava foragido desde meados de 1993 e foi detido pela Arma dos Carabineiros no hospital privado La Maddalena, onde se tratava contra um câncer de cólon havia mais de um ano.
Messina Denaro havia ido ao hospital para uma sessão de quimioterapia, sob o nome falso "Andrea Bonafede", e também passou por uma cirurgia em 2021 para remover metástases no fígado.
Um funcionário do hospital disse à ANSA que o mafioso era um "homem educado, sofisticado a seu modo". "Ninguém podia suspeitar que fosse um mafioso procurado e acusado de massacres e homicídios. Era sempre muito gentil, calmo, sorridente", afirmou.
Reações
"Os meus mais efusivos agradecimentos, assim como de todo o governo, às forças de polícia, em especial ao Agrupamento Operacional Especial dos Carabineiros, à Procuradoria Nacional Antimáfia e à Procuradoria de Palermo pela captura do expoente mais significativo da criminalidade mafiosa", disse a premiê italiana, Giorgia Meloni, no Twitter.
Segundo ela, trata-se de uma "grande vitória do Estado, que demonstra não se render diante da máfia". Mais tarde, a primeira-ministra viajou a Palermo e afirmou que vai propor que 16 de janeiro seja estabelecido como um dia de celebração da luta contra a máfia.
"É um dia histórico, um dia de festa para as pessoas de bem, para as famílias das vítimas da máfia, porque o sacrifício de tantos heróis não foi em vão", acrescentou Meloni, ressaltando que a criminalidade organizada "pode ser derrotada".
Já o presidente Sergio Mattarella telefonou para o ministro do Interior, Matteo Piantedosi, e para o comando da Arma dos Carabineiros para parabenizá-los pela prisão de Messina Denaro.
"Uma grandíssima satisfação por um resultado histórico na luta contra a máfia", declarou Piantedosi.
30 anos de fuga
A captura ocorreu no dia seguinte ao aniversário de 30 anos da prisão de outro mafioso, Salvatore "Totò" Riina (1930-2017), sanguinário e temido líder da Cosa Nostra até o início da década de 1990.
Filho de um antigo mafioso da província de Trapani e histórico aliado do clã de Corleone, liderado por Riina, Messina Denaro estava foragido desde o verão europeu de 1993, quando enviou uma carta à sua então namorada, Angela, após uma série de atentados da Cosa Nostra em Roma, Milão e Florença, dizendo que ela ouviria falar dele em breve e que tentariam pintá-lo como um "diabo".
Messina Denaro já foi condenado à prisão perpétua por dezenas de homicídios, incluindo o do pequeno Giuseppe Di Matteo, filho de um mafioso arrependido e dissolvido no ácido após quase dois anos de cativeiro. Além disso, foi sentenciado por envolvimento nos atentados que mataram os juízes Giovanni Falcone e Paolo Borsellino, em 1992.
Ele era o último grande líder mafioso ainda foragido, e as buscas envolveram centenas de agentes das forças de ordem. Para muitos, Messina Denaro era o "chefe dos chefes" da Cosa Nostra desde a prisão de Bernardo Provenzano (1933-2016), o sucessor de Riina, em 2006.
Em seu período como foragido, buscou tirar a máfia dos holofotes e investir em novos setores da economia, como energias renováveis, para lavar o dinheiro obtido com atividades criminosas.
O mafioso também ganhou notoriedade pelo ar de playboy e pela crueldade. Seu apelido era "Diabolik", em referência a um ladrão anti-herói dos quadrinhos.
Investigação
Messina Denaro foi levado para uma delegacia em Palermo e depois para o aeroporto de Boccadifalco, de onde será transferido para uma penitenciária de segurança máxima.
Ele foi detido sem opor resistência, sob os aplausos dos outros pacientes da clínica La Maddalena.
A polícia também prendeu Giovanni Luppino, que acompanhava o mafioso em seu tratamento e é acusado de cumplicidade, e fez operações de busca e apreensão nas casas dos irmãos de Messina Denaro, Salvatore e Patrizia, em Campobello di Mazara e Castelvetrano, respectivamente.
Os investigadores analisavam há pelo menos três meses conversas da família interceptadas pela Justiça, descobrindo que o líder mafioso estava gravemente doente.
Em seguida, rastrearam informações da central nacional do Ministério da Saúde sobre pacientes oncológicos. Após analisar uma lista de pacientes com idade, sexo e proveniência que remetiam a Messina Denaro, chegaram ao nome de Andrea Bonafede, parente de um aliado próximo do mafioso.
Os investigadores então descobriram que, no dia da cirurgia no fígado, Bonafede estava em outro lugar, concluindo que seu nome havia sido usado por outro paciente.
Quando ficaram sabendo que Bonafede passaria por uma sessão de quimioterapia nesta segunda-feira, os policiais decidiram ir ao hospital e confirmaram que se tratava de Messina Denaro.