Zelensky discursa na ONU e cobra: 'Onde está a paz?'
Presidente ucraniano acusou a Rússia de massacrar civis
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, discursou nesta terça-feira (5) para o Conselho de Segurança da ONU e acusou a Rússia de querer matar "o maior número possível de civis".
Em seu pronunciamento por vídeo, o mandatário também questionou as Nações Unidas por não garantir a paz no mundo e disse que Moscou deseja transformar os ucranianos em "escravos mudos", além de ter exibido um vídeo com imagens de civis - incluindo crianças - mortos em locais como Irpin, Dymerka e Motyzhyn.
"Aquilo que presenciamos em Bucha também vimos em outros lugares", declarou Zelensky, que participou de uma reunião do Conselho de Segurança pela primeira vez desde o início da guerra., em 24 de fevereiro.
O discurso ocorreu em meio à onda de comoção internacional provocada pela descoberta de indícios de crimes de guerra em zonas ucranianas recém-libertadas das tropas russas, como Borodyanka, Bucha e Irpin, onde as autoridades denunciaram a existência de corpos de civis jogados nas ruas, cadáveres com sinais de tortura e valas comuns com dezenas de mortos.
Durante sua fala, Zelensky comparou a Rússia com grupos terroristas e pediu para o Conselho de Segurança, do qual Moscou é um dos cinco membros permanentes, expulsar o país para evitar que ele continue "vetando decisões sobre sua própria guerra" - tecnicamente, a Rússia não pode ser removida do órgão, já que teria poder de veto sobre essa medida.
"Se não há alternativa, a próxima opção seria se dissolver completamente. Senhoras e senhores, vocês estão prontos para fechar a ONU? Se a resposta é 'não', então vocês precisam agir imediatamente", declarou o presidente. "Onde estão as garantias que a ONU deve dar? Onde está a paz que o Conselho de Segurança deve construir?", ressaltou.
Zelensky também forneceu um relato detalhado sobre os crimes atribuídos à Rússia em áreas ocupadas e acusou as tropas de Moscou de matar civis dentro de casa, de detonar granadas e de esmagar pessoas com tanques "apenas para seu prazer".
"Eles deceparam membros, cortaram gargantas, Mulheres foram estupradas e mortas em frente a seus filhos, suas línguas foram arrancadas apenas porque os agressores não ouviram o que eles queriam ouvir delas. Isso não é diferente de outros terroristas, como o Estado Islâmico, mas foi feito por um membro do Conselho de Segurança da ONU", disse.
O presidente ainda denunciou a deportação forçada de "centenas de milhares de ucranianos" para a Rússia e pediu que os militares de Moscou e seus comandantes sejam processados por crimes de guerra.
"Os russos se sentem colonizadores, querem nossa riqueza, querem nos transformar em escravos mudos. Estão roubando tudo, de comida até joias", acrescentou o mandatário.
Reação
O embaixador da Rússia na ONU, Vasily Nebenzya, rechaçou todas as acusações da Ucrânia e culpou "nazistas" pelo assassinato de prisioneiros e de civis. "Temos centenas de provas desses atos", declarou o diplomata. "Não foi feito mal a uma única pessoa em Bucha", garantiu.
Por sua vez, a embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield, disse que há "uma montanha de provas" de crimes cometidos por russos na Ucrânia. "Com base nas informações atualmente disponíveis, os EUA avaliam que membros das forças russas cometeram crimes de guerra", salientou.
Já a China evitou condenar Moscou pelas atrocidades em Bucha, mas pediu a instituição de um inquérito independente. "As questões humanitárias não devem ser instrumentalizadas", ressaltou o embaixador Zhang Jun.
De acordo com a própria ONU, a invasão russa na Ucrânia já deixou 1,4 mil civis mortos, incluindo 121 crianças, números que todos admitem estar subestimados. Quase 11 milhões de pessoas foram obrigadas a abandonar suas casas, das quais 4,2 milhões buscaram refúgio em outros países.
"A guerra na Ucrânia comporta uma perda insensata de vidas humanas, grandes devastações em centros urbanos e a destruição de infraestruturas civis. Além das fronteiras, provocou aumentos nos preços de alimentos, energia e fertilizantes. Por todos esses motivos, é cada vez mais urgente colocar as armas de lado", declarou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.