Zoo oferece suítes para "acordar" com tigres, ursos e lobos
Que tal acordar e ficar observando um urso polar nadando sem sair da cama? Ou jantar enquanto tigres brancos passam em frente à janela da sala? É o que um zoológico francês está oferecendo: hospedagem para turistas nas áreas onde vivem alguns de seus animais – e a novidade já registra forte demanda.
O zoo de La Flèche, no oeste da França, construiu chalés que também permitem observar de perto lobos do Ártico, ursos-marrons e lêmures, primatas originários da ilha de Madagascar.
Os animais mais populares entre os hóspedes são os ursos polares e os tigres brancos. Nestes casos, as vagas estão praticamente esgotadas até o final de 2016, disse à BBC Brasil Mathilde Le Roux, responsável pelo setor de hospedagem do zoológico. "Só restam poucos lugares em dias da semana no final de 2016 e já há inúmeras pré-reservas para 2017", afirma Mathilde.
A demanda é forte apesar dos preços, que vão de 145 euros (R$ 600) a mais de 300 euros (R$ 1.250) por pessoa, no caso do chalé para ver os ursos polares – sua suíte principal tem uma janela para a parede de vidro da piscina dos animais, o que garante uma visão subaquática dos mamíferos nadando. "É uma maneira diferente de descobrir os animais, que podem ser observados de mais perto. É uma imersão total no ambiente dos bichos", diz Mathilde.
A iniciativa de investir na área hoteleira foi uma maneira de contornar os problemas financeiros que o zoológico privado, criado em 1946, vinha enfrentando. "Pensamos em desenvolver uma nova atividade para garantir a sobrevivência do zoológico", afirma a responsável.
Mas nem todos veem a iniciativa com bons olhos. Jean-Marc Neumann, professor de direito animal na Universidade de Estrasburgo e vice-presidente da Fundação Direito Animal, Ética e Ciências (LFDA, na sigla em francês), diz que o esquema prejudica o descanso dos animais.
"Essa não é a melhor maneira de respeitar os bichos, que acabam se expondo dia e noite ao público, diferentemente de um zoológico tradicional", disse à BBC Brasil. "Eles já são incomodados durante o dia e não podem ficar tranquilos à noite em seus espaços. Não há um momento de pausa".
Segundo ele, a iluminação dos chalés durante parte da noite "é um elemento suplementar que perturba a solidão que faz parte do comportamento animal. É algo semelhante aos programas de , onde as pessoas são observadas o tempo todo", afirma Neumann, ressaltando, no entanto, que os animais de zoológicos nascem em cativeiro e estão mais habituados à exposição ao público.
Luxo
O La Flèche aposta na hospedagem de luxo. As cabanas, em madeira, têm decoração sofisticada e inspirada nos animais que vivem no local. Os dois chalés para ver os tigres, por exemplo, têm estilo asiático. A cabana nórdica que permite ver os ursos polares de perto tem chaminé e uma enorme banheira jacuzzi no terraço.
Os chalés também têm terraços e jardins. Mas não há riscos de segurança em relação aos animais que ficam pelos arredores inclusive à noite, garante a responsável.
Esses espaços fora das cabanas são totalmente protegidos por paredes e tetos de vidros espessos. As primeiras cabanas, para observar os lobos do Ártico e os tigres, surgiram em 2013. Já são atualmente nove, com o chalé inaugurado em agosto no habitat de três ursos-cinzentos, típicos do Canadá.
Um segundo desse tipo, para ver os ursos-marrons, será aberto até o final deste ano.
Leões brancos e guepardos
Em razão do bom desempenho das reservas e da grande demanda, o zoológico prevê a expansão da atividade hoteleira. Em 2016, serão inaugurados chalés para observar leões-brancos e guepardos, conta Mathilde.
Os preços de hospedagem incluem café da manhã e jantar e visita ao zoológico. O La Flèche possui mais de 1.500 animais de 150 espécies diferentes.
"O público quer cada vez mais novidades. Os parques zoológicos não têm outra escolha a não ser se renovar em permanência", diz Sophie Huberson, do sindicato francês de espaços de lazer e de atrações culturais (Snelac, na sigla em francês).
"A tendência é que os zoológicos se tornem cada vez mais parques de lazer. A culpa é do público, que quer cada vez mais coisas diferentes. Se eles não se interessassem por essas hospedagens, a oferta deixaria de existir", afirma Jean-Marc Neumann.
Ao mesmo tempo, o especialista diz compreender que os zoológicos procurem soluções para lidar com problemas financeiros.
O zoológico de La Flèche participa de cerca de 40 programas de preservação de espécies, entre elas ursos polares e tigres de Sumatra.