Na Irlanda, papa expressa "vergonha" por casos de abuso
Francisco afirmou que autoridades eclesiásticas irlandesas "fracassaram" em enfrentar "crimes repugnantes". Desde 2002, 14.500 pessoas no país se declararam vítimas de abusos sexuais cometidos por padres.O papa Francisco reconheceu neste sábado (25/08) em Dublin o fracasso da Igreja Católica irlandesa para enfrentar adequadamente o que chamou de "crimes repugnantes" de membros do clero local.
"Não posso deixar de reconhecer o grave escândalo causado na Irlanda pelos abusos a menores por parte de membros da Igreja encarregados de protegê-los e educá-los", disse.
Francisco fez tal afirmação durante um discurso às autoridades irlandesas no início de sua visita de dois dias ao país, onde vai participar do Encontro Mundial das Famílias. Esta é a primeira viagem oficial de um papa à Irlanda em 39 anos.
Em seu discurso, Francisco também reconheceu que "o fracasso das autoridades eclesiásticas - bispos, superiores religiosos e sacerdotes - na hora de enfrentar adequadamente esses crimes repugnantes, suscitou justamente indignação e permanece como motivo de sofrimento e vergonha para a comunidade católica". "Eu mesmo compartilho esses sentimentos", completou ele.
Desde 2002, cerca de 14.500 pessoas se declararam vítimas de abusos sexuais cometidos por padres na Irlanda. A visita do papa à Irlanda também ocorre logo após a divulgação nos Estados Unidos de um relatório que aponta ao longo de 70 anos mil menores sofreram abuso sexual por parte de 300 sacerdotes. Recentemente, autoridades eclesiásticas do Chile e da Austrália também foram acusadas de acobertar abusos.
No salão de São Patrício no Castelo de Dublin, Francisco disse ainda que o seu antecessor, Bento XVI, "não poupou palavras para reconhecer a gravidade da situação e solicitar que fossem tomadas medidas verdadeiramente evangélicas, justas e eficazes" em resposta a esta "traição de confiança".
Além disso, o papa disse que tal pedido serve ainda para incentivar "os esforços das autoridades eclesiais para remediar os erros passados e adotar normas severas para garantir que os mesmos não voltem a acontecer".
O papa lembrou que, em sua última carta a todos os católicos sobre os abusos, divulgada antes de sua viagem à Irlanda, "pediu empenho, inclusive um maior empenho, para acabar com este flagelo na Igreja e a qualquer custo moral e de sofrimento".
No mesmo encontro, o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, pediu ao papa que use sua "posição e influência" para tentar fazer "justiça" às vítimas dos abusos cometidos por membros do clero no mundo inteiro.
"As feridas ainda estão abertas e há muito a ser feito para que as vítimas e sobreviventes obtenham justiça, verdade e cura. Santo Padre, peço que use sua posição e influência para conseguir este feito aqui na Irlanda e em todo o mundo", declarou Leo Varadkar por ocasião da visita do pontífice à Irlanda. "Devemos garantir que as palavras sejam seguidas de ações", insistiu em seu discurso."É uma história triste e vergonhosa, uma mancha em nosso Estado, nossa sociedade e na Igreja Católica", estimou Varadkar.
Nas últimas décadas, a Igreja Católica irlandesa vem perdendo influência devido aos escândalos de pedofilia e à evolução dos costumes neste país de quase cinco milhões de habitantes.
No censo de 1981, dois anos após a histórica visita de João Paulo II à Irlanda, 93% da população do país dizia ser católica. No último censo, em 2016, o número de católicos tinha caído para 78%.
Francisco abordou esse declínio ao final do seu discurso desejando que a Irlanda "não se esqueça das vibrantes melodias da mensagem cristã que a sustentaram no passado e podem seguir fazendo o mesmo no futuro".
Neste sábado, Francisco ainda vai liderar o Encontro das Famílias no estádio Croke Park de Dublin, onde mais de 80.000 pessoas são esperadas. No domingo (26/08), será a vez de celebrar a missa de encerramento do evento no Parque Phoenix, também na capital irlandesa, onde são esperados meio milhão de fiéis.
JPS/efe/rt
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