Na reta final, parte dos eleitores de SP pode decidir voto de última hora
Pesquisa Ibope divulgada dia 25 aponta que 15% dos paulistanos não souberam dizer em quem votariam ou preferiram não responder considerando levantamento espontâneo; 'Eleição municipal tem mais volatilidade', diz CEO do instituto
Na reta final do segundo turno da eleição municipal, parte dos eleitores pode decidir em quem votar apenas no último momento, de acordo com a mais recente pesquisa Ibope/Estadão/TV Globo, divulgada no dia 25. No levantamento, 15% dos eleitores de São Paulo não souberam dizer em quem votariam ou preferiram não responder. Segundo especialistas, o próprio fato de a campanha ter sido mais curta devido à pandemia do novo coronavírus pode ser motivo de indecisão na reta final.
Esse dado leva em consideração o levantamento espontâneo, ou seja, aquele no qual o entrevistado é perguntado sobre em quem pretende votar sem que sejam mostradas quaisquer opções de candidatos. Na pesquisa estimulada, em que a pessoa deve escolher um dentre os nomes apresentados, a porcentagem dos indecisos cai para 4%.
"Eleição municipal é a eleição que tem mais volatilidade, mudanças de última hora em função de fatos que ocorram na reta final da campanha", afirma a CEO do Ibope Márcia Cavallari.
O segundo turno da disputa pela Prefeitura acontece neste domingo, 29. Na corrida para ocupar a cadeira no Palácio do Anhangabaú estão o atual prefeito, Bruno Covas (PSDB), que busca se reeleger, e o candidato do PSOL, Guilherme Boulos, que, nesta sexta-feira, 27, foi diagnosticado com covid-19. Segundo o Ibope, Covas tem 48% das intenções de voto, e Boulos, 37%. São 12% os que pretendem votar nulo ou em branco.
O nível de confiança da pesquisa é de 95%. Isso quer dizer que há uma probabilidade de 95% de os resultados retratarem o atual momento eleitoral, considerada a margem de erro de três pontos porcentuais.
A cientista política e professora da FGV Graziella Testa aponta que, no segundo turno, "a escolha dos indecisos pode ter a ver com o candidato que desagrada menos". "O primeiro turno tem muitas opções, é mais fácil que alguma delas contemple sua vontade. O segundo turno é um momento em que muita gente se vê obrigada a tomar uma decisão que às vezes é mais difícil."
Entre os entrevistados que pretendem votar em algum candidato ou em nulo/branco, 18% afirmam ainda que podem mudar de opinião. Entre aqueles que declaram intenção de votar em Bruno Covas, 19% dizem que sua decisão ainda pode mudar. Já entre os que declaram voto em Boulos, essa porcentagem é de 18%.
"São pessoas que ficam esperando até os últimos minutos da campanha para decidir o voto", diz Márcia Cavallari. "Gente que fica esperando o último debate, esperando para ver se não vai aparecer denúncia de um candidato contra o outro. São pessoas que estão ali, colocando sua intenção preferencial de voto, mas há espaço para mudança".
Para Márcia, as diferenças do resultado da pesquisa espontânea para a estimulada também são um indício de que parte do eleitorado ainda pode mudar de posição. Enquanto Bruno Covas tem 48% de intenção de voto na pesquisa estimulada, ele fica com 39% na espontânea. No caso de Boulos, que tem 37% de intenção de voto na pesquisa estimulada, o candidato fica com 29% na espontânea. "Quanto mais definitivo está o voto, mais se aproximam a pesquisa espontânea e a estimulada. A distância entre elas é mais um indício de que ainda pode haver movimentações de última hora", afirma Márcia.
Pandemia. Tanto Graziella quanto Márcia apontam ainda que, neste ano, a campanha foi especialmente curta e rápida, tanto pelo adiamento do pleito por causa do coronavírus quanto pelos outros assuntos que inundaram o noticiário. "O assunto foi inserido na mídia de maneira muito mais rápida por vário motivos, desde a crise da covid até a eleição americana", diz Graziella.
Márcia completa: "Essa eleição demorou a entrar na cabeça do eleitor em função da pandemia. Ninguém estava discutindo a eleição, a votação foi adiada. Foi uma campanha muito curta, o assunto na cabeça das pessoas de uma forma muito tardia."
Também por causa da covid-19, a equipe do Ibope usou equipamentos para proteção da própria saúde e dos entrevistados. As entrevistas foram realizadas, de forma presencial, entre os dias 23 e 25 de novembro, com 1.001 eleitores. O levantamento foi registrado no Tribunal Regional Eleitoral sob o protocolo SP-09681/2020.