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'Não falamos do Bruno': 3 razões para o sucesso da canção de 'Encanto' que superou 'Let it go', de 'Frozen'

Com a ajuda de músicos e especialistas na área, exploramos os ingredientes que contribuíram para que canção da Disney esteja fazendo tanto sucesso.

27 jan 2022 - 19h09
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A música We don't talk about Bruno (Não falamos do Bruno, na versão em português), do filme da Disney Encanto, conseguiu chegar ao topo das paradas nos Estados Unidos, dividindo o pódio com artistas como Adele e Ed Sheeran, além de conquistar a posição número um no Reino Unido.

A canção é tão cativante que milhares de pessoas estão postando na rede TikTok vídeos cantando e dançando ao som dela.

Na verdade, We don't talk about Bruno superou outro sucesso da Disney de alguns anos atrás, a música Let it go (Livre Estou), do filme Frozen. Na lista da Billboard Hot 100 desta semana, a canção de Encanto aparece em segundo lugar das mais escutadas nas rádios, streamings e outras formas de compra. A famosa música de Frozen chegou no passado à 5ª posição.

Aparentemente, a Disney não achava que o impacto da nova canção não seria tão grande, indicando outra música do filme Encanto para o Oscar.

Qual é o segredo do sucesso de Não falamos do Bruno? Eis aqui três das suas características que podem explicá-lo.

1. A temática

A música trata de um personagem misterioso de Encanto, um tio vidente sobre quem ninguém fala em público e que reflete o típico tema familiar que é tabu, motivo de emoções acaloradas.

A canção recria essa dinâmica e o faz com palavras e cenas muito gráficas.

"As crianças sempre gostaram de músicas meio arrepiantes, meio tenebrosas", diz o músico independente Mauro Castillo, uma das principais vozes da canção, citando trechos como "ser abismal, vive no porão".

Mauro Castillo é uma das vozes em 'Não falamos do Bruno'
Mauro Castillo é uma das vozes em 'Não falamos do Bruno'
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Esse ingrediente de mistério é reforçado pela inclusão de vozes de vários personagens do filme relatando musicalmente suas histórias envolvendo Bruno. No final, chega-se a uma composição com muitas vozes, praticamente disputando entre si e formando uma história em coral muito dinâmica.

Seu compositor, Lin-Manuel Miranda, que tem longa experiência na musicalização de peças teatrais e filmes, disse que se inspirou no teatro.

"O que eu busquei fazer é muito mais comum no teatro musical do que nos musicais de cinema. Você tem aqueles grandes momentos em que todo mundo consegue uma pequena apresentação, e você junta tudo. Penso em (exemplos como) One Day More, de Os Miseráveis, e Non-stop, de Hamilton. É um momento muito delicioso quando você consegue juntar todos os temas em um só", explicou Miranda em uma entrevista recente.

2. A diversidade de sons

Esta é uma música difícil de classificar devido à multiplicidade de vozes, ritmos e cenas que a compõem.

Castillo explica que Não falamos do Bruno conseguiu unir os ritmos montuno, chachachá, além de uma "espécie de tambor alegre, mais a influência do rap e do trap".

"Acho que as pessoas estavam esperando mais da cena urbana latina. Há um interesse por outros tipos de sons além do reggaeton", sugere o músico.

"Essa música, por exemplo, tem um andamento que tende a seduzir quem dança, quem gosta de se mexer. É um andamento bastante descontraído e facilita o movimento de um pé e depois do outro."

A mistura também pode ser entendida como uma espécie de desconstrução da percussão mais tradicional.

"Você sente de vez em quando um tambor que é lento, não tão rápido quanto estamos acostumados na América Latina."

Portanto, o sucesso da música também pode estar no fato de que ela não apenas convida as pessoas a cantar, mas também a dançar e entrar em um clima de celebração.

Mauro Castillo e Carolina Gaitán, algumas das muitas vozes escutadas na canção
Mauro Castillo e Carolina Gaitán, algumas das muitas vozes escutadas na canção
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

3. A indústria por trás da canção

Embora uma música tenha todo o potencial para se tornar popular, não é fácil alcançar isso.

O jornalista de música Juan Carlos Garay diz à BBC News Mundo (serviço em espanhol da BBC) que, neste caso, "a Disney tem a infraestrutura para conquistar o consumo porque é a maior empresa de entretenimento familiar".

"Mesmo assim, não deixa de surpreender que consiga alcançar sucessos tão retumbantes", opina o escritor.

Além disso, Não falamos do Bruno e outras músicas de Encanto se beneficiaram do ecossistema digital.

"Considero, na produção da Disney, há faixas muito mais antigas que superam essa música em qualidade, mas são de outra época. Agora, o que acontece é que há maiores possibilidades de impactar e medir audiências", completa.

No final das contas, essa é uma música que gerou muito interesse independentemente da idade do público, mas também conta com adaptação para diferentes idiomas, grande repercussão na imprensa global e artistas célebres promovendo-a nas redes sociais.

Críticas locais

Embora Não falamos do Bruno e a trilha sonora do filme sejam um sucesso esmagador, emergiram debates sobre a representação da música colombiana em Encanto.

Depois do sucesso de Coco, filme da Disney inspirado no México, as expectativas colocadas na Colômbia eram muito altas.

Para alguns, o resultado foi decepcionante. No Facebook, a cantora María Mulata disse que desejava ter encontrado nas músicas de Encanto ritmos colombianos "mais fiéis", sem que isso alterasse sua capacidade de ser escutada internacionalmente.

Para ela, no caso de Coco, "há uma presença fiel do som jarocho, do bolero e da ranchera, sendo o México um país menos diversificado que a Colômbia em termos de ritmos".

Garay tem uma opinião semelhante: "Vi o filme com meus filhos e me senti em um musical com pequenos toques de acordeão ou cuatro venezuelano (um instrumento) para dar algum sabor — mas com uma exploração muito tímida para que pretendia mostrar o folclore musical colombiano."

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