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'Netflix' dos bolsonaristas gastou R$ 328 mil em anúncios de Facebook e Instagram

Produtora Brasil Paralelo foi a página que mais pagou por anúncios sobre temas sociais, política ou eleições no País nos últimos 55 dias

28 set 2020 - 17h57
(atualizado às 18h07)
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Nos últimos 55 dias, a Brasil Paralelo foi a página que mais gastou com anúncios políticos, eleitorais ou de temas sociais no Facebook. A produtora desembolsou um total de R$ 328.777,00 para a rede social impulsionar suas postagens do dia 4 de agosto para cá.

A Brasil Paralelo foi fundada em 2016, em Porto Alegre, pelos sócios Lucas Ferrugem, Henrique Viana e Felipe Valerim. "Nós começamos com R$ 13 mil de dinheiro próprio, nos trancamos em uma salinha de 8 m² e nos endividamos com mais R$ 40 mil em empréstimo e deu certo", conta Ferrugem. Hoje, com escritório amplo na Vila Olímpia, bairro nobre de São Paulo, os impulsionamentos de R$ 328 mil no Facebook e gastos, segundo eles, de mais de R$ 2 milhões para produzir e divulgar cada filme fazem o capital inicial parecer uma brincadeira.

Equipe da Brasil Paralelo no escritório da empresa
Equipe da Brasil Paralelo no escritório da empresa
Foto: Brasil Paralelo/Divulgação / Estadão

Ferrugem explica que todos os custos da empresa são pagos com mensalidades de membros. A Brasil Paralelo tem dois planos de assinatura, um de R$ 10 e outro de R$ 49, que dão acesso a conteúdos exclusivos e palestras. "A gente nunca nem sacou monetização do YouTube", afirma ele sobre outras possibilidades de financiamento. A ênfase, entretanto, é sobre o fato de não usar recursos públicos. Segundo ele, a empresa já tem 115 mil assinantes e a meta é atingir 1 milhão até o fim de 2022.

Especializada em grandes produções que tentam passar a limpo marcos históricos, a Brasil Paralelo também coleciona controvérsias exatamente por tentar mudar acontecimentos consolidados nos livros. Por duas vezes, a empresa teve problemas com parceiros comerciais. No ano passado, a pré-estreia de 1964: O Brasil entre armas e livros foi seguida de um "pedido de desculpas" da Cinemark ao público, que dizia ter errado ao liberar a exibição de um filme com "cunho político". O comunicado gerou revolta entre políticos da direita e houve ameaça de boicote nas redes.

Já em 2020, a produtora entrou na mira da Sleeping Giants, uma versão brasileira da página americana que cobra anunciantes que veiculam propaganda em sites que supostamente divulgam fake news e discurso de ódio. A Hotmart, sistema de pagamento usado até então pela Brasil Paralelo, foi emparedada e resolveu encerrar o contrato com vários clientes, incluindo eles.

Uma das primeiras polêmicas da Brasil Paralelo foi quando, em 2018, o então candidato Jair Bolsonaro usou um filme da produtora para atacar a lisura do processo eleitoral brasileiro. Ferrugem diz que a ideia era questionar a possibilidade de auditar as urnas eletrônicas e afirma que a produtora apenas fez um compilado de informações já divulgadas. Uma checagem do Projeto Comprova, coalizão de veículos de mídia da qual o Estadão Verifica faz parte, aponta que as urnas não só são auditáveis, como já foram auditadas após as eleições de 2014.

Esse não foi o último filme deles que Bolsonaro ajudou a divulgar. Em julho, quando o País registrava mais de mil mortos por dia pelo coronavírus, o ilustre espectador foi fotografado enquanto assistia a 7 Denúncias: As consequências do caso covid-19. A imagem publicada por Eduardo Bolsonaro, que já virou um garoto propaganda da empresa, mostrava o pai, Jair, acompanhando o documentário que critica a atuação de governadores e prefeitos no combate à pandemia e a algumas recomendações da OMS como o isolamento social e o uso de máscaras.

Uma produção da empresa também fez parte da programação da TV Escola, que é ligada ao Ministério da Educação, pouco tempo antes de Abraham Weintraub deixar a pasta. A Brasil Paralelo disse na ocasião que não recebia "um centavo de dinheiro público" e que cedeu gratuitamente a exibição do documentário. De fato o contrato assinado com o MEC, divulgado pelo site O Antagonista, deixa isso claro e não há qualquer registro de pagamentos do governo federal para a empresa no Diário Oficial da União.

O maior entusiasta da Brasil paralelo, porém, é o filho zero três do presidente. Eduardo Bolsonaro fez, desde setembro de 2017, 69 postagens no Facebook sobre a produtora que vão desde a divulgação dos filmes, até um chamado para que seus seguidores façam assinaturas da empresa.

No mesmo período, ele fez 79 publicações com a palavra corrupção e 50 com a palavra arma (que inclui as variáveis armas, armar, armado, desarmado, desarmar), temas caros ao bolsonarismo. Eduardo chegou até a usar os filmes da Brasil Paralelo como referência para se preparar para uma possível sabatina no Senado, que nunca aconteceu, quando ele ainda era cotado para assumir a embaixada brasileira em Washington, nos Estados Unidos. "Tenho estudado para a sabatina e isso inclui estudar a história nacional. Assim, tenho revisto episódios do @brasilparalelo sobre a história do Brasil", disse o deputado em seu Twitter.

Lucas Ferrugem diz que não tem proximidade com o governo. "O Eduardo é membro premium, se não me engano. Ele realmente divulga bastante nossos conteúdos, mas o fato é que nós temos uma relação inexistente", explica ele. Apesar de o guru Olavo de Carvalho, além de outros nomes célebres da direita, já terem sido entrevistados por eles, e os filmes agradarem a políticos bolsonaristas, Ferrugem diz que as pautas do governo não influenciam nos temas abordados, mas confessa ter simpatia por Bolsonaro. "Eu acho que ele defende muitos valores que eu também defendo.Quando ele se manifesta contra o autoritarismo, contra ditaduras, eu acho ótimo. Eu também sou anticomunista, eu acredito que isso é uma coisa horrível, isso me representa bem", afirma ele.

Sobre a atuação dos Bolsonaro, ele diz que não conhece o que se passa em Brasília, mas que se mantém informado pela mídia e principalmente pelas redes sociais dos políticos. "Eu torço para que tudo dê certo, mas não é como se eu estivesse apostando todas as fichas nesse cavalo", conclui ele sobre o governo.

Estadão
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