Neurologista Jorge Moll participa do talk show "Conversa com Bial" e fala sobre as bases neurais da amizade
Amizade, apego e vida social são considerados, hoje, uma necessidade do ser humano, destacou o especialista
Entender, cientificamente, as atividades do cérebro humano em diversas situações da vida é a pretensão de muita gente - sejam pesquisadores ou não. Por isso, em outubro, dia 5, o programa "Conversa com Bial" (talk show da Rede Globo apresentado pelo jornalista Pedro Bial de segunda a sexta-feira) abordou as bases científicas da amizade. Fundador e presidente do Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino, o neurologista Jorge Moll Neto foi o especialista convidado para discutir o assunto.
De acordo com Moll, não há na natureza nada tão complexo e profundo que possa ser comparado com a amizade que é desenvolvida entre as pessoas. "Os animais sociais em geral - outros primatas, cães, lobos, vários mamíferos, inclusive aquáticos - desenvolvem o senso de apego, se agrupam, cooperam entre si. Mas a nossa espécie cultua a amizade - compartilhar preferências, compartilhar objetivos de vida, esses são ingredientes fundamentais na amizade", salientou Jorge Moll Neto.
O neurologista ressaltou que aspectos como a amizade, o apego e a vida social são considerados, hoje, uma necessidade do ser humano. Ele explicou que diversos experimentos - incluindo experimentos cruéis desenvolvidos por cientistas nazistas no século passado -mostraram que crianças isoladas não se desenvolvem bem e apresentam uma série de alterações neurológicas.
Segundo o especialista, a amizade é um processo complexo, que envolve o apego e o reconhecimento e ativa diferentes partes do cérebro. Para que seja possível reconhecer o rosto de alguém, por exemplo, precisa-se das áreas onde estão as representações da face - localizadas na região occipital, na parte de baixo do cérebro. Depois desse reconhecimento inicial, o cérebro começa a fazer a decodificação das ações da pessoa observada, como, por exemplo, a postura amigável. Nessa etapa, entram em ação várias regiões do lobo temporal. "Aí entram as regiões que respondem quando a gente encontra o amigo, reconhece.... Em seguida, vem a ativação dessas regiões emocionais todas - da afiliação, do apego, do carinho etc.", completou Moll.
Outro assunto abordado no programa foi o motivo que leva os amigos a gostarem tanto de relembrar e contar momentos do passado. Jorge Moll Neto pontuou que esse costume está na origem do ser humano, desde a época em que homens pré-históricos sentavam-se em volta da fogueira, à noite, para contar histórias. "Foi, provavelmente, umas das coisas que nos diferenciaram, nos fizeram sobreviver como espécie", destacou o neurologista do Instituto D'Or. Segundo ele, essa é uma prática que fortalece muito o senso de identidade e o compartilhamento do passado e do destino comum.
Questionado sobre possíveis diferenças entre a amizade entre homens e a amizade entre mulheres, Jorge Moll explicou que existem teorias que falam que, na origem da espécie humana - pelo fato de os homens serem maiores, mais fortes, serem os caçadores na maioria das sociedades e saírem nas expedições para caçar juntos - criou-se um elo muito forte entre eles. Trata-se "do objetivo, do desafio", ressaltou o especialista.
Jorge Moll Neto acrescentou ainda que nesse momento em que os homens saíam, as mulheres, por sua vez, ficavam encarregadas de tomar conta das crianças, de cozinhar e de contar as memórias e preservar a história da tribo.
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