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Nilton Bonder: O tempo é reativo

Quanto mais rápido se está, mais lento é o tempo. Por outro lado, as pessoas, a partir de certa idade, atestam que ele "voa''!

27 mar 2022 - 06h10
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Quando se trata do tempo, sabemos que não é absoluto e se faz sentir de distintas maneiras. No entanto, ele pavimenta nossa caminhada e se mostra o registro mais sólido de nossa existência. Por vezes, ele nos localiza melhor que o próprio espaço.

Diz a ciência que o tempo depende inteiramente da velocidade e aceleração a um dado momento.

Quanto mais rápido se está, mais lento é o tempo. Por outro lado, as pessoas, a partir de certa idade, atestam que ele "voa''! Já as do interior juram que quanto mais comezinha for a vida, trançada de corriqueiro e costumeiro, mais lento é o tempo.

Para a criança cujo minuto é abarrotado de descobertas, o tempo se dilata em câmera lenta. Os primeiros anos são vidas de per si, e os agitados adultos falam com delay, com o retardo necessário para sincronizar tempos distintos. E quando se trata do tempo em mídia social, compassado pela cadência de espiadelas à tela para surfar o supérfluo e a dispersão, horas se reduzem a minutos. Assim como uma boa série, pode encurtar um dia, à percepção de poucas horas.

O tempo parece assim não ser apenas relativo, mas reativo! Não só está associado a algo, mas responde a algo. Ou seja, um observador interfere com o tempo e isso se evidencia, particularmente, na percepção da velhice. Dizia Kafka: "Aquele que não perde a habilidade de ver beleza jamais envelhece!". Assim, a reação de "ver beleza" interfere diretamente com o tempo. Em um conto medieval, o pai alfaiate passa ao filho um conselho fundamental: "Aprenda a fazer do velho, novo; e nunca torne o novo, velho!".

Reaja ao tempo. Se algo ficar desgastado, aprenda, como um bom alfaiate, a renovar; mas se for novo, não "encaixe" em conceitos ou olhares antigos. Rever e se surpreender são reações fundamentais de interferência no tempo. Se conseguir tratar o antigo com outra postura, ou se conseguir se maravilhar com o novo e acolhê-lo, o tempo se tornará distinto.

Aí está a presença da moda na formulação do tempo. A aptidão alegre e sensível para reconhecer o belo e a alta-costura capaz de remodelar o antigo e celebrar o novo são reações que permitem o paradoxo temporal de rejuvenescer à medida que, justamente, passe o tempo!

*Nilton Bonder é rabino, escritor, dramaturgo e acadêmico da ACL

Estadão
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