Nos EUA, Eduardo Bolsonaro defende armas e 'internet livre'
Deputado afirmou que Brasil deveria avançar em uma agenda conservadora com instituições como universidades e imprensa ligadas ao conservadorismo
WASHINGTON - O filho do presidente e deputado federal Eduardo Bolsonaro foi um dos palestrantes do CPAC, maior conferência da direita conservadora dos Estados Unidos. No palco do evento feito nos arredores de Washington neste sábado, o brasileiro rezou a cartilha pregada pelo conservadorismo americano: defendeu acesso a armas, criticou a imprensa, o socialismo e a Venezuela e defendeu a criação de uma mídia conservadora no Brasil. "Para mim é uma coisa pessoal", disse o deputado, sobre seu trabalho para consolidar a cultura conservadora no País.
"É muito claro qual é o caminho que o socialismo leva, somos vizinhos da Venezuela", disse o deputado, dividindo o palco com integrantes do movimento conservador do Japão, Austrália e Coreia do Sul. Pouco mais de três horas depois, o presidente Donald Trump, estrela do evento, foi o palestrante no mesmo palco. O tema do CPAC foi "América versus Socialismo".
Eduardo Bolsonaro afirmou no evento que a queda registrada no número de homicídios no País em 2018 é resultado de uma nova política sobre armas no Brasil. "Somos 100% contra a o controle de armas. Queria que tivéssemos uma segunda emenda no meu País, chegaremos lá", disse o deputado federal, em referência ao dispositivo da Constituição americana que permite aos cidadãos portar armas.
No primeiro ano de mandato, o presidente Jair Bolsonaro editou oito decretos que flexibilizam o acesso a armas de fogo no País mas não conseguiu avançar da forma como pretendia no tema. A flexibilização nas regras que regulam o porte de arma no País foi uma promessa de campanha de Bolsonaro.
O acesso à arma é um dos pilares do movimento conservador americano em oposição ao movimento do partido democrata para aprovar leis estaduais que possibilitem um maior controle no acesso a armas de fogo.
Especialistas veem a queda nos números de mortes violentas no Brasil como um resultado de fatores variados, mas nenhum deles relacionado com as políticas sobre porte e posse de arma. Estudo do Ipea e do Fórum de Segurança Pública divulgado no ano passado revelou que o Estatuto do Desarmamento ajudou a baixar a taxa de crescimento dos homicídios no País. A queda nos homicídios em 2019 é associada à acomodação nas disputas entre facções - fator responsável por alta histórica nos homicídios em 2017 - e a retomada de programas estaduais de segurança, como o pernambucano Pacto Pela Vida.
No palco do CPAC, Eduardo Bolsonaro disse que o Brasil elegeu um presidente conservador, mas que precisará avançar em uma agenda conservadora com instituições como universidades e imprensa ligadas ao conservadorismo. "Não temos uma imprensa conservadora, universidade conservadora. Temos que organizar e construir", disse Eduardo, que afirmou ainda que pretende levar ao Brasil think tanks como o Heritage Foundation e organizar o CPAC todos os anos no País. O deputado organizou, no ano passado em São Paulo, a primeira versão do CPAC no Brasil. O evento não teve a dimensão da conferência americana e o próprio presidente Jair Bolsonaro não participou do encontro.
"Imagine que no Brasil que não temos nem uma Fox News (emissora de televisão considerada favorável a Trump), é muito difícil. Temos que manter a internet livre e construir um movimento", afirmou o deputado. A família Bolsonaro, que tem forte presença e influência nas redes sociais, já lançou mão da divulgação de notícias falsas na internet para rebater críticas.
Por vezes com endosso do presidente, grupos bolsonaristas costumam dirigir ataques virtuais a jornalistas e opositores. O presidente Jair Bolsonaro chegou a vetar artigos de uma lei sancionada em junho que aplica penas mais duras para quem divulga fake news nas eleições. O Congresso derrubou o veto do presidente.
Agenda conservadora
Eduardo Bolsonaro está nos arredores de Washington desde terça-feira. A agenda do deputado incluiu encontros com representantes da direita conservadora mundial, incluindo um jantar organizado pelo agitador político Steve Bannon, com a presença do líder do Brexit Nigel Farage.
Na sexta-feira à noite, antes de participar de uma palestra no CPAC, Eduardo Bolsonaro e sua esposa foram recebidos em recepção na residência da Embaixada do Brasil em Washington. Da última vez que esteve em Washington, Eduardo Bolsonaro era apontado como futuro embaixador do País nos EUA e se hospedou na residência oficial da embaixada. Com a resistência do Congresso, Bolsonaro voltou atrás na indicação do filho para o cargo. O posto de embaixador em Washington é hoje ocupado pelo diplomata Nestor Forster.
Em palestras e workshops, os palestrantes da CPAC repetem críticas à mídia tradicional, à tecnologia 5G da China, ao socialismo, pregam a defesa de posse e porte de armas, fazem chacota com o que chamam de ideologia de gênero e com a figura da ativista sueca Greta Thunberg, defendem projetos que preveem a espionagem de integrantes da imprensa profissional e criticam o socialismo.
A CPAC começou em 1974, com a presença do então governador da Califórnia que viria a ser presidente, Ronald Reagan. De lá para cá, a conferência cresceu em tamanho e importância e já recebeu outros presidentes como George W. Bush, além de Trump, que marca presença no evento todo ano desde que foi eleito. A conferência é considerada parada obrigatória para todo republicano que tenha ambições políticas nacionais. Trump nem sempre foi celebrado como é agora nos corredores da CPAC. Antes de chegar à Casa Branca, representantes da direita americana questionavam o quanto Trump seria de fato um presidente conservador.
Hoje em dia, os corredores da CPAC são povoados por chapéus e bonés vermelhos de todos os tipos com apoio à reeleição do presidente e seu slogan de reeleição "Keep America Great!". O tema do encontro "América versus Socialismo" reúne conservadores de direita do país inteiro - e de outros lugares do mundo, como Nigel Farage e Eduardo Bolsonaro. Aos milhares de presentes se somam blogueiros, youtubers e donos de sites e rádios conservadoras. O brasileiro Allan dos Santos, do site alinhado ao bolsonarismo Terça Livre, era um dos nomes a circular pelo evento.