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"Nosso povo acordou e quer uma nova Belarus"

27 ago 2020 - 16h37
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Em entrevista à DW, líder oposicionista Svetlana Tikhanovskaya afirma que manifestantes não vão recuar em Belarus e diz que conversaria também com Vladimir Putin.Svetlana Tikhanovskaya só se candidatou à presidência de Belarus para substituir o marido, Serguei Tikhanovski. O blogueiro fora excluído da eleição e preso no fim de maio. Derrotada na votação, Tikhanovskaya partiu para a Lituânia por medo da repressão em seu país.

Svetlana Tikhanovskaya disse que pretende se recolher à vida privada se a transferência de poder for concluída
Svetlana Tikhanovskaya disse que pretende se recolher à vida privada se a transferência de poder for concluída
Foto: DW / Deutsche Welle

Em entrevista à DW, a líder oposicionista afirmou que o povo de seu país acordou e quer uma nova Belarus. "Acho que todos estão prontos para aguentar por algum tempo. O resultado será uma nova Belarus, livre e segura."

Tikhanovskaya reiterou que deseja uma nova eleição, livre, e que o presidente Alexander Lukashenko também poderá concorrer, se quiser. Se concluída essa transição, ela assegurou que pretende se recolher à vida privada.

Em relação à Rússia, a líder oposicionista declarou que não teria nenhum problema em falar com o presidente da Rússia, Vladimir Putin. Mas "somos um país independente, e a independência do nosso país não está em questão", ressalvou.

DW: A senhora tem alguma informação sobre as condições de seu marido?

Svetlana Tikhanovskaya: Claro, ele recebe constantemente a visita de um advogado, que pode avaliar sua condição física e mental. É assim que consigo informações. Não pessoalmente, mas por meio de advogados.

E como ele está?

Fisicamente, não tão bem. Como você pode se sentir numa prisão? Mas é claro que a mente dele continua firme. Ele é informado do que está acontecendo em Belarus. Ele acredita no povo, está convencido de que em breve haverá mudanças. Isso lhe dá muito ânimo.

Um movimento na Lituânia levou dezenas de milhares de pessoas para formar uma corrente humana sob o lema "Caminho da liberdade", desde a fronteira com Belarus até Vilnius. Que sentimento o ato provocou na senhora?

Extremamente positivo. Sou muito grata aos lituanos por mostrarem como os povos de Belarus e da Lituânia podem estar juntos. Na geração mais velha, que experimentou ela mesma o que o nosso país está passando agora, a simpatia por nós é algo compreensível. Mas o fato de que os jovens também estejam saindo às ruas e reagindo de forma muito viva à situação em Belarus nos deixou muito impressionados. Acredito que a geração mais velha ensinou aos jovens os valores necessários para que eles mostrem compaixão e apoio por outras pessoas que têm problemas em seu próprio país.

Em Belarus, quase toda a economia é estatal. Se uma privatização começar, muitas pessoas poderão ficar desempregadas. Na Rússia, isso levou a um grande retrocesso na década de 1990. As pessoas diziam que não era para isso que haviam lutado. A senhora não tem medo de que um processo de reforma em Belarus se torne muito difícil?

Ninguém diz que será fácil. Cada país segue seu próprio caminho nessas mudanças. Mas nosso povo é trabalhador. As pessoas entendem que haverá problemas. Mas estamos prontos para isso, pelo futuro do país. Acho que todos estão prontos para aguentar por algum tempo. O resultado será uma nova Belarus, livre e segura.

A senhora disse que, se Belarus realizar eleições livres, a senhora não voltará a se candidatar. Mas no caso de a senhora se tornar presidente interina por alguns meses, o que a senhora faria para preparar essas eleições?

Uma equipe de especialistas já foi montada ao meu redor, e ela me ajudaria neste momento difícil. Minha tarefa pessoal é unir essa equipe, organizá-la e orientá-la na direção certa - para a preparação de novas eleições justas e transparentes.

O que a senhora acha que vai acontecer nos próximos dias em Belarus? Houve grandes demonstrações em Minsk, mas não apenas em Minsk. E vimos Alexander Lukashenko ser filmado por sua equipe de imprensa com uma metralhadora. A senhora teme que haverá realmente violência?

Eu vi esse vídeo e não posso comentá-lo porque ele é horrível. Nosso povo mudou. Eu não sei o que vai acontecer nos próximos dias, mas sei o que vai acontecer num futuro próximo. Nosso povo não vai recuar. Ele acordou e quer uma nova Belarus. A pessoa que deve recuar é o senhor Lukashenko. As pessoas não vão perdoá-lo e não vão esquecer nada do que aconteceu depois da eleição.

O conselho de coordenação da oposição e também a senhora disseram que, se houver novas eleições livres, qualquer pessoa poderá concorrer. Isso também vale para Lukashenko?

Isso depende dele. Toda pessoa deverá poder participar dessa eleição.

A senhora está satisfeita com o apoio da União Europeia?

Com certeza. Recebemos grande apoio de outros países, e vários líderes me contataram e demostraram apoio ao nosso povo. Nós agradecemos todo o apoio que recebermos, mas cada país deve saber que apoio dará.

O que os líderes mundiais lhe disseram?

Todos têm uma postura muito amigável e estão fascinados com o que se passa em Belarus, com os grandes feitos do nosso povo na defesa dos seus direitos.

Representantes russos entraram em contato com a senhora?

Até agora, não. Mas devo dizer que estamos abertos a todos. Falamos com quaisquer chefes de Estado ou representantes de países que estejam interessados. Nunca nos recusaremos a falar com alguém.

E se o presidente russo, Vladimir Putin, ligar para a senhora, mesmo que a senhora fosse presidente interina? A senhora estaria disposta a uma conversa?

Sabe, somos todos humanos, e eu nem sei como eu deveria me preparar para uma conversa com uma determinada pessoa. Chefes de Estado de países poderosos me ligaram, e acho que vou encontrar palavras para falar com Vladimir Putin.

Muitos se perguntam se Belarus pode realmente existir como um Estado independente à sombra de um grande vizinho como a Rússia, com quem também existe um tratado de união. As relações entre Belarus e a Rússia são muito estreitas, também de um ponto de vista puramente jurídico. Como cidadã, a senhora gostaria de manter essa proximidade ou não?

O senhor está perguntando principalmente a respeito da independência, certo? Somos um país independente, e a independência do nosso país não está em questão e também não está à venda e isso não necessita de mais comentários. No que diz respeito às relações estreitas, desejamos estreitas relações econômicas e políticas com todos os países.

Há pouco mais de dois meses, a senhora não poderia imaginar que se encontraria nesse papel. Na Wikipedia é possível ler sobre a senhora em vários idiomas. Quando a história de Belarus for escrita, haverá um capítulo sobre a senhora. Como a senhora se sente agora neste papel?

Não estou acostumada, mas é claro que me sinto muito mais segura do que há alguns meses. Você muda, fica mais forte e mais confiante.

A senhora pretende se recolher à vida privada depois que a transferência de poder for concluída?

Eu pretendo.

Qual deve ser a última frase na Wikipedia sobre a senhora quando a senhora deixar a arena política?

Svetlana Tikhanovskaya desempenhou um papel fundamental quando os bielorrussos conquistaram sua liberdade.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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