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O Cerrado, por um futuro para o Brasil

25 ago 2023 - 02h00
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Marcos Woortmann
Marcos Woortmann
Foto: Divulgação / Estadão

Quando se fala em preservação ambiental, os olhos do mundo se voltam para a Amazônia, e é natural que seja assim, já que essa é a maior floresta tropical do mundo. Mas ao manter o foco apenas na Amazônia, estamos incorrendo em um grave erro: desviar o olhar de outros biomas igualmente importantes para o nosso país e para o mundo como, por exemplo, o Cerrado.

Enquanto o desmatamento na Amazônia Legal caiu 31% nos primeiros cinco meses deste ano, o Cerrado bateu recordes de destruição no mesmo período. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre janeiro e maio de 2023 foram desmatados mais de 3.320 km² do bioma - área equivalente a quase duas vezes a cidade de São Paulo, um aumento de 27% em relação ao mesmo período do ano passado. Ao todo, 110 milhões de hectares do Cerrado (49% do total) já foram destruídos, sendo substituídos por pastagens, áreas urbanas ou cultivo extensivo de commodities agrícolas, principalmente soja, algodão, milho e cana-de-açúcar.

A "caixa d'água do Brasil", como é conhecido, abriga as nascentes de oito das doze principais bacias hidrográficas brasileiras. É o segundo maior bioma da América do Sul e desempenha um papel estratégico na conexão genética de diversos biomas e na manutenção do ciclo hidrológico do continente. É pelo Cerrado, e no Pantanal, que escoam os rios voadores da Amazônia, de onde vem a umidade que se infiltra pelo Brasil. Mas isso não ocorrerá se o Cerrado for cortado, queimado, e perder suas características únicas.

Projeções apresentadas ao Congresso Nacional durante a Virada Parlamentar Sustentável, pelo Instituto Cerrados, estimam que mantendo as taxas atuais de desmatamento haverá uma redução de 33,9% nos fluxos dos rios que têm suas nascentes nesse bioma até 2050.

O Cerrado de Guimarães Rosa, de Cora Coralina, dos Kalungas, dos povos indígenas que resistiram às bandeiras, das Gerais, dos tropeiros, das quebradeiras de coco, de tantas gentes, não é um obstáculo ao desenvolvimento. Ele é a condição sem a qual não será possível haver desenvolvimento no Brasil. Junto com a Amazônia, a Mata Atlântica, o Pantanal, a Caatinga, a Mata de Araucárias e os Pampas, o Cerrado deve ser preservado não como relíquia em pequenos trechos para fins de educação ambiental das futuras gerações, mas como conexão viva entre território, biodiversidade, cultura e segurança hídrica para o país.

É preciso uma moratória imediata no desmatamento do Cerrado, com o mesmo rigor e atenção internacional que recebem a Amazônia e a Mata Atlântica, além de aumentar o número e a área de unidades de conservação integral deste bioma. No âmbito internacional, a União Europeia, por exemplo, ainda não incluiu o Cerrado na atual legislação que proíbe a venda, no continente, de produtos oriundos de desmatamento, o que chama a atenção para a necessidade de o Brasil também costurar acordos internacionais específicos de modo a valorizar esse bioma tão único e tão importante para seu futuro.

*Marcos Woortmann é cientista político e coordenador de Políticas Socioambientais do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS)

Estadão
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