"O futebol não pertence aos torcedores", diz CEO do Bayern
Karl-Heinz Rummenigge critica aliança de torcidas alemãs que pressiona por reformas e maior influência dos torcedores no futebol. Ele também nega que clube contrate jogadores apenas para enfraquecer adversários.Após uma temporada da Bundesliga que terminou com jogos a portões fechados, o CEO do Bayern de Munique, Karl-Heinz Rummenigge, reacendeu um debate entre o futebol alemão e seus torcedores.
O campeonato alemão foi concluído com sucesso após um hiato de dois meses por causa do novo coronavírus, assegurando uma grande receita de transmissão para os clubes, mas deixando de fora dos estádios os torcedores, que pressionam por reformas na Bundesliga em uma nova iniciativa chamada Aliança Nosso Futebol (Bündnis Unser Fussball).
"Eu acho o próprio nome um tanto presunçoso", afirmou Rummenigge em entrevista ao tabloide esportivo Sportbild. "A quem pertence o futebol? Muito provavelmemente àqueles que o jogam, não importa em que nível. Os torcedores fazem parte do futebol, mas o futebol não pertence a eles."
A Aliança Nosso Futebol foi lançada em junho por um grupo de torcedores ativos de toda a Alemanha, alguns dos quais foram fundamentais na campanha bem-sucedida a favor da regra 50+1, em 2018. A norma estabelece que um clube alemão de futebol deve reter 50% das ações de seu time profissional mais uma, impedindo assim que qualquer outra entidade ou acionista adquira uma participação majoritária, salvo algumas exceções.
Agora, uma petição exigindo medidas para assegurar uma competição mais justa, maior responsabilidade social, democracia, financiamento sustentável, bem como o reconhecimento da importância dos torcedores, já foi assinada por quase 2.400 grupos de torcidas e quase 12.500 indivíduos.
"Infelizmente, chegamos a um ponto em que só leio que os Ultras [os torcedores mais radicais] exigem isso, exigem aquilo. E agora eles querem ter palavra na distribuição do dinheiro da TV", disse Rummenigge. "Mas isso acaba numa via de mão única se você só faz exigências e não está preparado para assumir responsabilidades."
O CEO do Bayern conversou com o Sportbild ao lado de Dietmar Hopp, proprietário do Hoffenheim. No final de fevereiro, os dois se uniram contra o ódio em meio à interrupção de uma partida entre os dois times, depois que torcedores da equipe bávara exibiram bandeiras insultando Hopp e criticando a Federação Alemã de Futebol (DFB).
Em reconhecimento à ação dos dois dirigentes, a Sportbild concedeu à dupla seu prêmio "Gesto do Ano" - uma escolha controversa em uma temporada que também viu jogadores de alto nível da Bundesliga se manifestando a favor do movimento Black Lives Matter, além de clubes e grupos de torcedores apoiando suas comunidades locais em meio à crise do coronavírus.
Contratações contestadas
Em entrevista anterior à publicação France Football, Rummenigge também rejeitou as acusações de que o Bayern usou seu poder financeiro no passado para contratar jogadores com o objetivo específico de enfraquecer seus rivais.
Na última década, o clube contratou Manuel Neuer e Leon Goretzka, do Schalke; Mario Mandzukic, do Wolfsburg; e Robert Lewandowski, Mario Götze e Mats Hummels, do Dortmund. A equipe havia manifestado também interesse pelo atacante Timo Werner, do RB Leipzig, antes de optar por Leroy Sané. Enquanto isso, rumores em torno da contratação de Kai Havertz, do Bayer Leverkusen, permanecem.
Mas Rummenigge insiste que "o Bayern de Munique nunca contratou um jogador para enfraquecer nossos adversários".
Nos últimos dois anos, o Bayern tem voltado cada vez mais sua atenção para os jogadores franceses, tendo contratado Kingsley Coman, Corentin Tolisso, Benjamin Pavard, Lucas Hernández, Mickaël Cuisance e, neste verão europeu, Tanguy Kouassi. No início desse ano, a France Football afirmou que o campeão alemão também estava interessado no zagueiro Dayot Upamecano, do RB Leipzig.
"Os jogadores franceses se adaptam bem ao Bayern com sua mentalidade e estilo de jogo", justificou Rummenigge. "Nós estamos muito felizes com todos os nossos franceses. Afinal de contas, estamos falando da terra dos campeões mundiais. Nenhum país ganha a Copa do Mundo por acidente."
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