O impacto da destruição da Grande Barreira de Corais
Branqueamento de corais ameaça mais de 90% do Patrimônio Mundial da Unesco, e cientistas pedem ação urgente para que lar de milhares de espécies não desapareça até o fim deste século.
O maior ecossistema de corais do mundo está morrendo a uma velocidade alarmante – e há muitas razões para ficarmos preocupados. A Grande Barreira de Corais, localizada na costa da Austrália, é a casa de mais de 600 tipos diferentes de corais duros e moles, e milhares de espécies de animais, incluindo ameaçadas. Nenhum outro bem listado no Patrimônio Mundial da Unesco possui tal biodiversidade.
Os recifes fornecem uma proteção fundamental para o litoral – sem ele, cidades localizadas nas regiões litorâneas desapareceriam. Os recifes atenuam os efeitos de tempestades vindas do mar aberto e reduzem a força das ondas e, assim, impedem a erosão da costa.
Mas 93% dos recifes dentro deste rico ecossistema foram afetados pelo branqueamento de corais – um fenômeno mortal que ocorre devido às alterações ambientais ao longo das últimas décadas, tais uma maior temperatura da água e o processo de acidificação dos oceanos.
Com a Grande Barreira de Corais em risco, a sobrevivência de inúmeras vidas – de anêmonas a humanos – está, portanto, em perigo. Alguns especialistas acreditam que, a menos que medidas drásticas sejam tomadas, os recifes podem desaparecer até o final deste século.
Ecossistema rico
De acordo com a organização ambiental World Wildlife Fund (WWF), os recifes de corais são o lar de um quarto de toda a vida marinha do planeta. Eles dão suporte para mais espécies do que qualquer outro ambiente marinho, apesar de cobrirem menos de 1% da superfície terrestre.
Cerca de 3 mil recifes de coral estão distribuídos ao longo da Grande Barreira, que cobre uma área de cerca de 344 mil quilômetros quadrados ao longo de uma vasta gama de zonas: desde águas profundas do oceano até áreas costeiras rasas.
Mais de 1.500 espécies de peixes, 3 mil de moluscos e cerca de 215 de aves – juntamente com esponjas, anêmonas e tartarugas marinhas, entre outros – vivem juntos na Grande Barreira de Corais.
A conexão entre essa diversidade de espécies e habitats faz da Grande Barreira de Corais um dos mais ricos e mais complexos ecossistemas naturais na terra – e um dos mais importantes para a conservação da biodiversidade, de acordo com a Unesco.
"Dez ciclones de uma só vez"
Os recifes de corais e seus habitats enfrentam diversas ameaças, como pesca predatória, turismo insustentável, a poluição e as mudanças climáticas. O Centro de Excelência de Estudos de Corais, do Conselho de Pesquisa Australiano (ARC), aponta que o governo australiano culpou por durante muito tempo as mudanças climáticas pela ameaça à Grande Barreira – ao seu ecossistema e às pessoas que dela dependem. E a situação está piorando a cada dia.
Um estudo apresentado em 20 de abril pelo ARC revelou que 93% da Grande Barreira têm sido afetados pelo processo de branqueamento de corais. "Nunca vi nada parecido com esta escala de branqueamento antes", afirma Terry Hughes, coordenador da Força-Tarefa Nacional sobre Branqueamento de Corais. "No norte da Grande Barreira, é como se dez ciclones tivessem vindo de uma só vez."
O processo de branqueamento de corais está ocorrendo principalmente devido às temperaturas mais quentes do mar – o que explica por que recifes localizados mais ao sul do hemisfério meridional têm níveis mais baixos de branqueamento. De acordo com os pesquisadores, a temperatura da água nas regiões do sul nos últimos meses tem ficado perto das condições normais de verão.
Os corais só conseguem sobreviver em uma estreita faixa de temperatura do oceano. Eles existem com base em uma simbiose com algas que crescem dentro de seus tecidos – mas, com os oceanos mais quentes, os corais expulsam essas algas. E isso causa o processo de branqueamento do coral – e a morte dele.
Se formos separados, morreremos
Os recifes de corais fornecem abrigo e comida para vários organismos, que formam uma complexa cadeia alimentar. Os peixes dos recifes, por exemplo, dependem do coral para se alimentar, e os peixes predadores dependem deles. Baleias e golfinhos também são predadores – tornando a sobrevivência uma tarefa difícil para eles se os peixes se foram.
Seis das sete espécies de tartarugas marinhas do mundo vivem na Grande Barreira, incluindo a criticamente ameaçada tartaruga-de-pente. Estes animais são fundamentais para manter saudáveis os ecossistemas marinhos – e também são altamente dependentes dos recifes de corais, já se alimentam principalmente de esponjas encontradas em fendas de recifes.
Os seres humanos também vão sofrer as consequências do processo de branqueamento de corais. O turismo na Grande Barreira gera pelo menos 5 bilhões de dólares por ano e emprega cerca de 70 mil pessoas, de acordo com o Centro de Estudos de Corais.
Segundo estimativas, meio bilhão de pessoas no mundo se beneficiam da produtividade e proteção dos recifes de coral, de acordo com a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (Noaa) . Além disso, os recifes de corais servem como uma espécie de parachoque para os assentamentos humanos terrestres.
"Um recife amortece o efeito de uma tempestade vinda do mar aberto, diminuindo a força das ondas", afirma Peter Sale, especialista em manejo de recifes de corais. "Sem os recifes, há a erosão da orla e as cidades costeiras desaparecem."
O futuro dos recifes
Esta não é a primeira vez que os cientistas observaram o processo de branqueamento de corais na Grande Barreira. Dois grandes eventos de branqueamento já ocorreram na área – em 1998 e 2002, diz Hughes, da Força-Tarefa.
Apesar de a parte norte da Grande Barreira ser afetada como nunca antes – e implicando, assim, uma recuperação mais difícil –, um processo de branqueamento mais modesto observado em outros lugares dá esperança de recuperação.
"Muitos dos corais são branqueados de forma mais moderada, por isso nós esperamos que muitos deles vão sobreviver e recuperar sua cor normal assim que as temperaturas caírem ao longo dos próximos meses", diz Hughes.
A fim de evitar o agravamento adicional do processo de branqueamento de corais, o centro ARC insta a uma redução das emissões globais de carbono e a melhoria da qualidade da água que flui para os recifes. É a gestão da pesca, do desenvolvimento costeiro, da poluição e do transporte que vai determinar a sobrevivência da Grande Barreira.
"Os recifes são o ecossistema mais rico do oceano em termos de quantidade de diferentes tipos de plantas e animais", diz Sale. "Indiscutivelmente, eles são tão ricos ou mais ricos que as florestas tropicais na terra. E, assim, não devemos jogar fora algo parecido com isso."